As temperaturas estão na casa dos 20 graus; são dias e dias de céu azul e ar fresco; tardes agradáveis para fazer caminhadas ao longo do Rio Potomac. Mas tenho passado a maior parte do tempo num desânimo silencioso, pensando no futuro dos Estados Unidos e do mundo. Será que devo seguir o conselho de Cândido, de Voltaire, e simplesmente cultivar meu jardim? Afinal de contas, há muitos livros que nunca li e eu poderia passar os próximos quatro anos os lendo, trabalhando em casa.

E, no entanto, nunca fui capaz de esquecer esses versos de Ulisses, o poema de Tennyson sobre o envelhecimento: “Que tolice o parar, o dar um fim. Enferrujar assim, sem uso e brilho!”. Como disse JeanPaul Sartre, em O Que É Literatura?, os escritores precisam estar engajados com seu tempo. Mas, como lidar com este momento, em casa e na Casa Branca? D.H. Lawrence ofereceu o melhor conselho: “O melhor é o trabalho, além de um certo entorpecimento misericordioso”. Permita-me também sugerir que procure livros para descansar e se renovar.

SOL BRILHANDO. O melhor caminho é a imersão em algumas obras grandiosas do passado. O sol está sempre brilhando no Blandings Castle – a ficção cômica de P.G. Wodehouse consegue aliviar os humores mais soturnos. Detetives como Sherlock Holmes, Jane Marple e Nero Wolfe proporcionam quebra-cabeças perspicazes para acalmar o espírito mais perturbado. E, seja qual for sua escolha, o importante é que os livros sejam tão envolventes quanto um jogo de xadrez. Eles devem criar um mundo próprio, no qual você possa viver por algumas horas quando o mundo real for demais para você.

No meu caso, para descansar durante os anos barulhentos que virão, vou finalmente ler os cinco volumes de A História da Pedra, de Cao Xueqin. Também espero remediar o constrangimento de toda uma vida por nunca ter lido A Dance to the Music of Time, de Anthony Powell, em 12 volumes.

Mas, assim como o dr. Johnson, é “a parte biográfica da literatura que eu mais amo”, além da história intelectual. Por isso, reuni algumas biografias – que mostram como líderes extraordinários navegaram pelos cardumes da política em épocas passadas. Talleyrand, de Duff Cooper, e Melbourne, de David Cecil, prestam homenagem crítica a dois políticos consumados da França e da Inglaterra. A Vida de Melbourne, de Cecil, foi um dos dez livros favoritos de John Kennedy – alguns dizem que era seu predileto.

HERÓI NAVAL. Nas gerações passadas, Life of Nelson, de Robert Southey, era tido como o modelo do que deveria ser uma biografia curta. Embora eu me curve apenas a Max Beerbohm pelo estilo irônico e mordaz de Lytton Strachey em Eminent Victorians, nunca cheguei a ler sua biografia mais ambiciosa, Queen Victoria. Esses são apenas alguns dos livros em que estou confiando para proporcionar um oásis de repouso e refresco nos meses superaquecidos que estão por vir. Quais são os seus? Buscará conforto nos romances da Regência de Georgette Heyer? Ou em algum poeta favorito, como George Herbert ou Emily Dickinson? Ou talvez queira uma perspectiva mais fria e olímpica do momento atual, lendo romances que recriam os pecadilhos e as intrigas dos imperadores romanos mais conhecidos: The Ides of March, de Thornton Wilder;

Augustus, de John Williams;

Eu, Claudius, de Robert Graves; Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar; Juliano, de Gore Vidal.

Com quatro anos de novo governo pela frente, este pode muito bem ser o momento de ler a Divina Comédia, de Dante, os Ensaios, de Montaigne, Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, toda a saga Yoknapatawpha, de William Faulkner, ou todos os álbuns da Fantagraphics que reúnem os quadrinhos de Carl Barks e Don Rosa sobre Tio Patinhas, o único bilionário de quem muitos de nós realmente gostamos. •

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Este pode ser o momento de ler ‘Divina Comédia’, de Dante; ou Proust, Montaigne e William Faulkner