O Estado de S. Paulo

O caminho para aprimorar a gestão

Pós-graduações e MBAs destacam líderes do presente e do futuro

Como todo passo na trajetória profissional, a escolha de um curso de pós-graduação passa por um processo de pensamento crítico e avaliação que leva em conta uma diversidade de fatores. Entre eles, o alinhamento com os objetivos de carreira, a reputação e reconhecimento da instituição de ensino, o formato e duração do curso e o retorno sobre o investimento – ou seja, a expectativa de aumento de salário e promoção após a conclusão dos estudos.

Pós-graduação ou MBA?

Cursos de pós-graduação são um bom exemplo de diferencial no currículo. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad Contínua/IBGE) mostram que, em 2023, o País tinha 1,4 milhão de matriculados nessa modalidade, 1,3% a mais que no ano anterior.

E apenas 4,3% da população com mais de 24 anos contava com essa formação, que se divide em duas categorias – ambas com nomes em latim. A primeira, stricto sensu (no sentido estrito), possui viés acadêmico. Trata-se de um processo de capacitação de maior duração e conectado a uma pesquisa que formula e enfrenta fatos a partir de teses e dissertações. É dividida em mestrado e doutorado, cada um representando um degrau no amadurecimento científico, com diferentes cargas horárias e níveis de exigência para formação. Ao fim, o aluno aprovado recebe um diploma.

Outro caminho para a especialização é a pós-graduação lato sensu (no sentido amplo), com mais cursos voltados ao desenvolvimento profissional. Tem duração mínima de 360 horas e sua conclusão também depende de um projeto de pesquisa e trabalho final – normalmente um artigo científico, sem a intenção de ser algo inédito, que lhe rende um certificado.

É nessa categoria que se encaixa o Master of Business Administration (MBA). A modalidade nasceu nos Estados Unidos em 1908, ano em que a Universidade Harvard abriu a primeira pós-graduação voltada ao conhecimento sobre a administração de negócios. No Brasil, popularizou-se na década de 1990, período marcado pela abertura econômica do País, e foi adaptado ao nosso sistema de ensino que, apesar do nome, não equiparou a formação do MBA à de um mestrado. “Hoje os cursos precisam abordar as inovações tecnológicas e novos modelos de negócios”

Maurício Jucá, diretor acadêmico e professor da FIA Business School

“O primeiro nível de pós-graduação nos Estados Unidos é o ‘Master’. Assim como existe o MBA, existe o Master em saúde, em Psicologia e por aí vai”, explica o presidente da Associação Nacional de MBA (Anamba), Armando Dal Colletto. “No Brasil da década de 1970, o mestrado foi criado de forma extremamente acadêmica e como um meio-termo do doutorado, porque faltavam doutores no País. Essa diferença entre mestrado e MBA no Brasil é irrelevante para o resto do mundo, que entende que o MBA é um Master e destaca o currículo desta modalidade no Brasil”, completa.

O modelo de MBA foi sendo adaptado com o tempo para diferentes realidades no mercado de trabalho. A partir de necessidades específicas, instituições propuseram cursos de pós-graduação com foco na administração de negócios, mas com viés específico para áreas como marketing, recursos humanos, tecnologia da informação, finanças, empreendedorismo, vendas e direito.

Segundo Colletto, para além das especificidades de cada curso, o MBA tem em comum um público maduro. “Sobram exemplos de pós-graduações excelentes em administração e gestão, que não exigem do aluno uma vivência de anos na área. Já o MBA carrega um ambiente mais profissional, que requer uma experiência anterior mais significativa.” Ele salienta que os alunos do MBA já estão decididos do que querem para as suas carreiras, o que resulta em uma troca de informações mais rica entre os pares.

Cautela com as opções

A ampla oferta de cursos traz o desafio de encontrar aquele que melhor se aplique à carreira do profissional. De acordo com o Cadastro e-MEC, sistema federal de re

gulação do ensino superior, o Brasil possui cerca de 62,2 mil cursos de pós-graduação lato sensu na categoria 4 (Negócios, Administração e Direito).

De acordo com Colletto, muitos, inclusive, se denominam MBA mesmo sem apresentar elementos que o classifiquem dessa forma. “Podemos pegar como exemplo um MBA em Psicologia. Ele pode ser ótimo e até ter certas nuances de aplicação em negócio. Só que, para ser um MBA, é preciso abraçar um conjunto de temas da administração e mostrar a interação deles com a área da especialidade”, explica.

A proliferação de cursos também é fruto de um olhar diferente do Ministério da Educação (MEC) para cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. “Mestrados e doutorados possuem uma regulação severa, enquanto para cursos de especialização e MBA as normas são brandas e não devem mudar tão cedo. É uma chancela que não olha para a qualidade, mas apenas para as regras básicas e a carga horária mínima para certificação.”

Pesquise os cursos

O Guia de Pós+MBA do Estadão indica um norte para os profissionais que querem uma especialização para crescer na carreira, mas a escolha do curso passa por uma série de etapas que devem ser consideradas antes da aplicação e matrícula. O processo começa em entender quais metas se pretende atingir e analisar cursos com disciplinas e corpo docente compatíveis.

A partir daí, vem a pesquisa sobre a reputação da instituição de ensino que oferta a pós-graduação. Um caminho é a análise de selos de qualidade fornecidos por entidades nacionais, como a Anamba, e internacionais, como a Association of MBAs (Amba) e a European Quality Improvement System (Equis-EFMD). O relato de ex-estudantes é importante para conhecer a experiência na prática, assim como entender como a instituição é vista pelo próprio mercado.

“O profissional deve levar em consideração a reputação da instituição, construída a partir de sua história na educação executiva e na oferta de MBAs. Os métodos de ensino e aprendizagem modernos também são importantes, já que permitem ao profissional colocar em prática rapidamente o que está aprendendo no curso”, afirma o diretor acadêmico e professor da FIA Business School, Maurício Jucá.

Em tempos de adaptações constantes a novas realidades, a pós-graduação lato sensu deve se mostrar atenta aos desafios do mercado de trabalho. “Hoje os cursos precisam abordar as inovações tecnológicas e novos modelos de negócios, além de Data Science aplicada a diferentes áreas de especialização, inteligência artificial, ESG e transformação digital. Entendemos que essa atualização deve ser constante, razão pela qual uma turma nunca é igual à anterior”, diz Jucá.

Compreender o tempo necessário para o estudo também é essencial para garantir uma jornada proveitosa. Segundo a diretora acadêmica da pós-graduação lato sensu da ESPM, Iná Futino Barreto, é relevante observar a modalidade do curso – presencial, a distância ou híbrido – e os horários de dedicação necessários. “Há diferentes modalidades que podem trazer maior ou menor flexibilidade de localização e horário e maior ou menor imersão. Esses pontos precisam ser avaliados para que o estudante consiga conciliar seus estudos com as outras demandas de sua vida profissional e pessoal.”

Por fim, é impossível desconsiderar o valor do investimento. Em alguns cursos, o custo total ultrapassa os R$100 mil, o que demanda uma responsabilidade financeira e um alinhamento de expectativas. Com base na estatística, o resultado tende a ser positivo: segundo a Pnad Contínua/IBGE, com informações do ano passado, o rendimento médio de profissionais com pós-graduação é mais que o dobro (113%) daqueles que possuem apenas a graduação.

“O peso do crescimento profissional e da remuneração é altíssimo e, para muitos, é o principal objetivo. Avaliar o valor da rede de contatos e a experiência que o curso oferece é importante, especialmente se o custo for alto. O MBA demanda um investimento substancial de tempo e recursos e a expectativa de aumento de salário ou promoção deve ser considerada”, diz Colletto.

GUIA DE POS + MBA

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2024-11-24T08:00:00.0000000Z

2024-11-24T08:00:00.0000000Z

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