Um novo jeito de aprender
Como novas tecnologias e metodologias de ensino impactam a aprendizagem dos alunos de MBA
Por Laís Duarte
Parar de estudar nunca foi uma opção para Leonardo Covello. O bancário, formado em Relações Internacionais, emenda um curso em outro, acreditando que o diploma de graduação não é suficiente para o mercado de trabalho de hoje – por isso, conquistou uma certificação de planejamento financeiro e outra de assessoria internacional em investimentos, e ainda queria mais. Aos 31 anos, na dúvida entre um mestrado e um MBA, escolheu a opção que mais cabia no seu estilo de vida, um MBA “personalizado” em Gestão e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Parte do curso é feita presencialmente, na sala de aula e com a presença “ao vivo” dos professores e colegas de curso, que são tradicionalmente de diferentes áreas de atuação. A outra é online e pode ser ajustada ao ritmo e tempo disponível do aluno para se dedicar – é o estudante quem define o currículo e monta sua grade de matérias, alinhados às necessidades de sua carreira e seu desejo de capacitação. “Sempre procuro garantir um currículo ‘parrudo’, mas durante muito tempo esbarrei nas grades ‘fechadas’ e metodologias muito engessadas, que não se aplicavam ao meu dia a dia”, explica
O exercício de “pensar fora da caixa”, comumente proposto pelos professores nas classes de MBA, tem transformado os próprios cursos de MBA. Currículos diferenciados e com ênfase em tecnologia, interação e metodologias inovadoras são os mais recentes atrativos desenvolvidos pelas instituições de ensino para cativar os alunos de hoje, que passam boa parte do dia conectados. Nesse novo cenário, as universidades deixam cada vez menos espaço para o formato tradicional de aulas expositivas.
“No mundo conectado, o aprendizado precisa também ser construído pelos estudantes. As metodologias de hoje abordam estudos de casos, simulações e mapas mentais que vão preparar aquele aluno para a tomada de decisões”, afirma Carolina Cavalcanti, doutora e professora associada da Fundação Dom Cabral. “Novas técnicas ajudam a ensinar a comunicação clara, gestão de conflito, empatia. Também são válidas visitas a instituições sociais para trabalhar questões éticas e expandir competências socioemocionais”, complementa.
No MBA da FGV, por exemplo, alunos, professores e coordenadores estruturam o curso individualmente, de acordo com as habilidades que o estudante quer e precisa desenvolver. “Essas necessidades são revistas a cada módulo. A evolução é acompanhada durante os 18 meses. Priorizamos as metodologias mais ativas, que permitem que o aluno direcione o estudo e escolha entre receber o conteúdo ou pesquisar, escrever artigos, propor ações reais para desafios diversos”, diz Vanessa Lopes Pires, superintendente de Educação Executiva da Unidade São Paulo.
Uma das metodologias adotadas é conhecida como PBL, Problem Based Learning, ou aprendizagem baseada em problemas, na sigla em inglês. Por meio de atividades guiadas, os estudantes são estimulados a resolver questões do mundo real. Outra estratégia é usar a gamificação para alavancar a aprendizagem. Em um jogo virtual, passado em uma empresa fictícia, as equipes vivenciam situações e precisam tomar decisões para solucionar problemas, incentivando a interação e a colaboração, fortalecendo competências técnicas e humanas, as famosas hardskills e softskills.
Os professores avaliam quem se sai melhor e analisam as habilidades a ser aprimoradas pelos estudantes. “As tecnologias estão evoluindo muito rápido e ter esses avanços para tornar o aluno o centro do aprendizado traz um ganho importante. Percebemos que ele sai feliz porque incorporou os conceitos, melhorou seu autoconhecimento, mapeou suas prioridades e passou a construir sua carreira de forma mais assertiva”, afirma a superintendente da FGV.
Para Diego Moreira, pesquisador com doutorado em Educação, História Política e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), a relação do professor com o aluno nunca será obsoleta, mesmo com a adoção das novas tecnologias. “O professor não pode ficar refém de uma plataforma, de um aplicativo. A relação professor e aluno ao redor do conhecimento é a base da educação”, lembra o pesquisador. Ele salienta que o mais importante é que o educador tenha pleno domínio do conteúdo, autonomia da didática e que, então, possa decidir o recurso tecnológico e metodológico que faz sentido para aquele curso, para aquela turma e para o perfil daquela disciplina que ele está lecionando.
“No mundo conectado, o aprendizado precisa também ser construído pelos estudantes” Carolina Cavalcanti, doutora e professora associada da Fundação Dom Cabral
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2024-11-24T08:00:00.0000000Z
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