Inteligência artificial impulsiona inovações nos cursos de MBA
IA está transformando o aprendizado e a formação dos líderes do futuro em escolas de negócios
Por Patrícia Giuffrida
Ainteligência artificial (IA) chegou aos cursos de MBA trazendo oportunidades e também desafios. De ferramentas que auxiliam em pesquisas rápidas a modelos que facilitam a análise de dados em tempo real, esses recursos tecnológicos estão ampliando o potencial de ensino e transformando a dinâmica nas salas de aula. “Nos cursos de MBA, as ferramentas de gestão empresarial – como análise SWOT – são, muitas vezes, complexas e exigentes, e a inteligência artificial tem viabilizado um nível de profundidade antes impraticável”, afirma Edson Ito, professor do MBA Executivo Internacional da Fundação Instituto de Administração (FIA).
Ele cita como exemplo um curso de negociação, no qual a IA é usada para explorar, detalhadamente, o ambiente competitivo e o perfil de negociadores, possibilitando uma compreensão que antes demandaria tempo e esforço que nem sempre são possíveis de alcançar manualmente. “Isso capacita os alunos a entenderem melhor os contextos e tomarem decisões essenciais em mercados de alta competitividade”, completa.
De acordo com Ito, quando os alunos interagem com IA, desenvolvem conhecimentos técnicos e também o pensamento crítico e a capacidade de resolver problemas de forma mais eficiente. “Além disso, a IA ajuda os alunos a definirem objetivos mais claros e a tomar decisões mais embasadas em fatos e análises mais profundas.”
Mas quando o uso não é bem direcionado pode virar um problema. “Muitos alunos acham que a IA vai resolver todas as questões propostas pelo professor e, por isso, eles não se esforçam em desenvolver uma resposta. Isso dificulta o processo cognitivo e pedagógico”, afirma o professor do MBA em Gestão de Negócios da Fecap Roberto Falcão. Para ele, o ideal é o docente propor atividades com o uso de IA – e depois pedir que os estudantes reflitam sobre o que produziram.
Jornada de adaptação
Incorporar o uso de inteligência artificial na sala de aula tem sido um grande desafio para docentes e estudantes. “Todos nós estamos aprendendo a lidar com a IA. Os professores devem compreender que é necessário integrar a inteligência artificial ao aprendizado, em vez de lutar contra ela”, diz Guy Cliquet do Amaral Filho, gerente executivo em Desenvolvimento de Ensino e Aprendizagem do Insper.
Segundo ele, ainda há resistência ao uso de inteligência artificial no ambiente acadêmico. Por isso é tão importante que instituições de ensino estimulem a utilização dessas ferramentas por meio de ações, como treinamentos para educadores. No Insper, foi criada uma Comunidade de Aprendizagem com foco em IA voltada aos docentes. “Há workshops, trocas de experiências e discussões em grupo sobre a utilização de IA”, afirma Fabiana Oliveira Paixão Fernandes, professora da área de Desenvolvimento de Ensino e Aprendizagem do Insper.
Já a Fundação Getulio Vargas (FGV) lançará, em 2025, um curso de 30 horas sobre IA e todos os estudantes de especialização terão acesso de forma gratuita e on demand, a fim de se familiarizar com o tema.
Experiências inovadoras
Os especialistas acreditam que a IA é uma tendência que veio para ficar nos cursos de MBA, mas ainda é utilizada em pequena escala. A expectativa é de que aconteça uma expansão no uso nos próximos anos. “Com a IA, futuramente, precisaremos redesenhar quais as novas competências das lideranças, quais métodos e atividades de ensino devem ser desenvolvidos para isso e quais impactos provocarão na sociedade”, diz Amaral.
Atualmente, entre as ferramentas de IA mais usadas por alunos e professores, está o ChatGPT, da OpenAI. “O Insper disponibilizou uma versão a todos os docentes. Um exemplo prático foi a criação de um plano de negócio com os alunos, no qual exploramos a IA para gerar ideias iniciais, estruturar propostas e avaliar diferentes cenários. Os alunos puderam aplicar seu uso no contexto de negócios, desenvolvendo não só habilidades técnicas de uso da IA, mas também uma visão crítica ao avaliar as respostas geradas pelo assistente virtual”, afirma Fabiana.
Na Fecap, os professores usam diferentes ferramentas, entre elas o Gamma. “Nas aulas de Marketing, já pedi para os estudantes produzirem slides com ela. Assim, eles não perderam tempo com a diagramação e focaram no conteúdo”, relata Falcão. Ele também já usou com os alunos a SciSpace para pesquisar artigos acadêmicos, a Leonardo.AI para criar imagens e a Kling AI para produzir pequenos vídeos.
Quem se interessou desde o início pelo uso da IA nos estudos foi a administradora Beatriz Robertoni Dutra, de 33 anos. Ex-aluna do MBA Executivo Internacional da FIA, ela é gerente de parcerias de uma grande empresa de tecnologia. “No MBA, realmente entendi o poder da IA para o aprendizado, ao usar ferramentas de inteligência artificial generativa para pesquisa e organização de ideias.”
Ela detalha uma das experiências com o uso de IA durante o MBA. “Na aula de Simulação de Gestão, utilizamos ferramentas de IA generativa para construir e analisar um cenário político hipotético em 2030, no qual duas empresas competiam no mercado aeroespacial. Considerando a alta competitividade do setor e diversas variáveis importantes, a ferramenta nos ajudou a elaborar os desafios e as oportunidades que nos apoiaram na análise do cenário e no desenvolvimento do case de forma muito mais ágil.”
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2024-11-24T08:00:00.0000000Z
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