O Estado de S. Paulo

Fim do apoio a elétricos nos EUA não é um caso isolado

Queda nas vendas tem feito montadoras tradicionais reavaliar planos, incluindo a continuidade da oferta de motores a combustão

TIÃO OLIVEIRA

O avanço da oferta de carros elétricos está sob ameaça no mundo todo. A novela da transição energética ganhou um novo, e dramático, capítulo na segunda-feira, quando o 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou, durante seu discurso de posse para o segundo mandato, que vai acabar com os incentivos para a produção e venda desse tipo de veículo no país.

Conforme Trump, sua administração vai “encerrar o Green New Deal” (conjunto de propostas para reduzir as emissões de carbono e incentivar a economia) e acabar com o apoio do governo ao veículo elétrico. O presidente disse que isso vai “salvar a indústria automobilística” dos EUA e os empregos dos americanos que atuam em empresas do setor.

Embora o discurso tenha um tom ufanista, na prática tenta esconder a incapacidade das montadoras norte-americanas de concorrer com as fabricantes chinesas. Além disso, a mudança de rota faz um afago em um grande número de consumidores, que demonstram total desinteresse em trocar veículos com motores a combustão por elétricos.

Esse movimento não é novo. A GM, por exemplo, vinha alardeando havia tempos que faria apenas carros elétricos a partir de 2035. Porém, a queda nas vendas, que resultou em uma enorme pressão feita pela rede de concessionárias, fez a empresa mudar os planos. Assim, em janeiro de 2024 a dona de marcas como Chevrolet e Cadillac informou que passaria a investir em sistemas híbridos plug-in. Ou seja, modelos com motores a combustão e elétricos, cujas baterias podem ser recarregadas em tomadas.

Das marcas do Grupo Stellantis, ao menos duas sinalizaram mudanças na mesma direção. A Chrysler, que prometia lançar seu primeiro SUV elétrico em 2026, suspendeu o projeto. Documento enviado aos fornecedores envolvidos no desenvolvimento do modelo determinou a imediata interrupção “até novo aviso”.

A RAM, por sua vez, indica que pode trazer de volta o motor V8 à sua linha de picapes. Segundo o CEO da marca nos EUA, Tim Kuniskis, o fim do “vê-oitão” substituído pelo seis-clindros biturbo, que é mais potente e menos poluente e gastão, teria desagradado ao consumidor. Assim, seria um dos motivos para a queda nas vendas da RAM 1500.

O desinteresse do público pelos elétricos também afeta a Ford, cuja linha de picapes Série F lidera as vendas de veículos nos EUA há 48 anos seguidos. CEO da empresa, Jim Farley confirmou há cerca de um ano que a produção da F150 Lightining, versão elétrica da picape grande, seria reduzida. Segundo o executivo, os altos preços e a falta de infraestrutura de recarga seriam responsáveis pelo baixo interesse dos clientes por essa opção.

FORA DOS EUA. Seja como for, o retrocesso não é “privilégio” das marcas norte-americanas. Em 2021, a Volvo, sueca controlada pela chinesa Geely, anunciou que deixaria de fazer carros com motor a combustão até 2030. Porém, a queda nas vendas fez a empresa rever os planos. Em novembro, um porta-voz da Volvo informou que o SUV XC90 com motor a gasolina, por exemplo, continuará à venda “enquanto houver consumidores interessados”.

A próxima mudança de rota pode ser da Porsche. Em 2024, a marca lançou a versão elétrica do Macan, seu segundo carro do tipo – o primeiro foi Taycan. Inclusive, as versões a gasolina do SUV deixaram de ser oferecidas em vários países.

Porém, isso pode mudar em breve. Segundo o vice-presidente e diretor financeiro da Porsche, Lutz Meschke, os carros com motor térmico continuarão em linha por mais tempo do que o previsto. Inicialmente, a empresa previa que seus elétricos representassem 80% das vendas globais até 2030. Porém, o Taycan, por exemplo, registrou queda de 50% no ano passado. •

XC 90 com motor térmico

SUV de topo da sueca controla pela Geely terá opção a gasolina enquanto ‘houver interessados’

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2025-01-22T08:00:00.0000000Z

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