O Estado de S. Paulo

PSICOLOGIA Medo de dentista? Especialistas dão dicas para diminuir o desconforto

Adiar consultas pode causar problemas ainda maiores e mais complexos para sua saúde bucal; conversar com o profissional é o primeiro passo para minimizar a ansiedade

CHRISTINA CARON

Para Hope Alcocer, o diagnóstico foi grave: 11 cáries. Gengivas inflamadas. Um dente precisando de tratamento de canal. À medida que a lista de problemas odontológicos crescia, também aumentavam seus sentimentos de vergonha e medo. Vergonha por ter esperado mais de uma década para procurar atendimento. E medo porque ela não podia mais evitar o dentista.

Sua ansiedade veio de uma experiência na adolescência, quando seu dentista ignorou suas preocupações de que ela não estava suficientemente anestesiada antes de tratar uma cárie. A dor a fez querer pular da cadeira. “Minha dor era 11 em uma escala de 10 , conta. “Era muita dor.”

Ansiedade dental é um problema comum. Estudos com adultos nos Estados Unidos geralmente encontram que cerca de 20% dos respondentes têm medo moderado a alto de tratamento dental. A severidade varia de leve desconforto a fobia severa e pode ter raízes em experiências negativas anteriores ou traumas.

Quanto mais medo alguém tem, mais ela adia o cuidado – e mais provável é de desenvolver problemas dolorosos que demandam tratamentos caros ou complexos, dizem os especialistas. “É meio que uma profecia autorrealizável”, resume Kelly Daly, psicóloga clínica e cientista assistente de pesquisas na Faculdade de Odontologia da NYU.

Mas não precisa ser assim, adiciona a especialista, admitindo que ela mesma lutou contra ansiedade dental após um procedimento malsucedido. Aqui estão algumas estratégias que ela e outros especialistas compartilharam para superar seu medo e cuidar bem dos seus dentes.

ESCOLHA COM SABEDORIA

Se você ainda não tem um dentista que te escuta ou te deixa à vontade, procure outro, aconselham os especialistas.

S.D. Shanti, um dentista licenciado que educa profissionais de odontologia sobre como trabalhar com pacientes que têm fobias dentais, sugeriu fazer perguntas antes da sua primeira visita para ver quão aberto o profissional está em confortá-lo.

Por exemplo, você pode perguntar se o dentista poderia agendar você durante períodos de menos movimento, espalhar procedimentos por múltiplas consultas, ou oferecer um horário mais longo. Além disso, é possível pedir para trazer companhia para suporte emocional.

Você também pode querer visitar o consultório antes de um procedimento e “dessensibilizar-se” ao ambiente.

SEJA HONESTO SOBRE COMO VOCÊ ESTÁ SE SENTINDO

Alguns pacientes sentem vergonha de compartilhar quanto tempo faz desde que eles foram ao dentista, informam os especialistas, ou podem não se sentir confortáveis dizendo o quão assustados eles realmente estão.

Mas um dentista empático vai abordar suas preocupações imediatamente se você falar sobre isso, observam. Então, avise se você está se sentindo assustado ou com dor.

Alguns dentistas saberão imediatamente. Tricia Quartey, dentista no Brooklyn e porta-voz da Associação Dental Americana, disse que ela geralmente pode identificar a ansiedade dental olhando o raio X, mesmo antes de conhecer um paciente, porque os exames revelam uma gama de problemas acumulados.

Ela recomenda dizer ao dentista que você gostaria de usar um sinal como levantar a mão, por exemplo, quando precisar de uma pausa ou quiser falar.

APROVEITE O PODER DE SUA MENTE

Alguns dentistas vão oferecer óxido nitroso, um sedativo leve que pode ajudar os pacientes a se sentirem calmos e confortáveis durante um procedimento.

Embora isso possa ser uma ferramenta útil, Tricia diz que é melhor conversar com o dentista sobre quando ou com que frequência usá-lo.

“Eu, pessoalmente, quero que meus pacientes estejam acordados e vivenciem tudo para que possam perceber que não é tão ruim”, diz.

Muitos pacientes também tentam se automedicar, mas, se o seu dentista também planeja usar medicação, isso pode criar interações problemáticas, ressalta Shanti. Então, é melhor não tomar nenhuma substância antes da visita. Se você tomou, deve contar ao profissional.

Hope tentou de tudo para manter sua mente tranquila durante suas consultas. Cannabis comestível. Uma dose de vodca. Ervas homeopáticas. Xanax. Mas técnicas psicológicas simples acabaram fazendo uma diferença maior.

Hope descobriu isso depois que Tricia sugeriu que ela participasse de um estudo testando um aplicativo que ensina estratégias para lidar com o medo dental.

O aplicativo lembrava Hope de respirar pelo diafragma e a fazia recitar mantras como “estou segura”. Ela também foi instruída a perguntar a si mesma sobre o pior cenário possível e, então, o melhor cenário. Essas são todas táticas comuns para lidar com a ansiedade.

Especialistas ressaltam que focar na respiração é uma das coisas mais eficazes que você pode fazer. Shanti recomenda tentar uma inalação pelo nariz e uma exalação longa ou duas inalações curtas pelo nariz e uma exalação longa para ver o que se sente melhor. Pratique a técnica que você escolher ao longo do dia para estar familiarizado quando chegar a hora da sua consulta. Os exercícios de respiração e mentais foram “uma mudança de jogo”, conta Hope. “Fiz um tratamento de canal, e encarei como uma vencedora.” •

Focar na respiração é uma das coisas mais eficazes que você pode fazer, dizem os especialistas

Quando se trata de decoração, menos às vezes é mais. Foi o que descobri arrumando as estantes de livros do meu escritório em casa. Quando tentei enfiar ali toda a minha coleção de utensílios de cozinha vintage, o visual ficou mais para loja de sucata do que para estúdio sereno. Mas, depois que removi alguns objetos, o pano de fundo da minha mesa ficou bonito, calmo e organizado.

Esta é a mágica por trás do espaço negativo, as áreas vazias ao redor de objetos como móveis, arte e acessórios. Parece contraintuitivo, mas deixar áreas vazias faz com que os pontos focais brilhem, acrescenta interesse e permite que os espaços respirem, explica o ceramista e designer nova-iorquino Jonathan Adler. Não é à toa que ele chama o espaço negativo de arma secreta do decorador. Aqui estão as estratégias dele e de outros profissionais para reduzir a desordem visual e acrescentar drama – às vezes ao mesmo tempo.

CORTE – E DEPOIS CORTE MAIS UM POUCO

“Só porque você tem uma parede sobressalente ou um espaço vazio no chão, não significa que você precisa preenchêlo”, diz Ksenya Malina, designer em Nova York. Para evitar a sobrecarga visual, escolha um ponto focal em cada cômodo – uma lareira, uma obra de arte, uma escadaria dramática, uma peça de mobiliário – e remova os elementos que distraem ao redor.

Esta foi a abordagem adotada pela designer Olivia Westbrooks, de Atlanta, ao projetar um home office. Para destacar uma obra de arte de 2,5 metros de altura, ela manteve as paredes ao redor sem nada, permitindo que a peça se destacasse. A designer Kerrie Kelly, da Califórnia, usou a mesma estratégia em um banheiro minimalista. Graças ao amplo espaço negativo, todos os olhares se voltam para os belos azulejos de mármore com veios.

LIMITE AS CORES DAS PAREDES

Restringir a paleta de cores ajuda a manter o foco onde você quer – e também cria “uma sensação de espaço”, diz Malina. “Experimente pintar um cômodo com apenas uma cor, deixando as paredes, o acabamento, o teto e as portas todos iguais”, diz ela. “Isso aumenta a percepção de altura, permitindo que o olhar percorra o espaço sem interrupções.”

ESPACE AS VINHETAS

Como descobri na curadoria das estantes de livros do meu escritório, é bem tênue a linha entre o desordenado e o bem composto. “O espaço negativo ajuda a manter a bagunça sob controle”, diz Malina. É por isso que ela agrupa objetos com um tema (por exemplo, vasos de vidro vintage ou castiçais antigos). Depois, ela deixa um espaço em branco ao redor desse arranjo antes de acrescentar outro.

O mesmo método se aplica na organização dos móveis, diz Adler. “Pense na sua casa como uma série de ilhas com um pequeno fosso de espaço limpo e vazio ao redor de cada uma”, diz ele. “Depois, decore essas ilhas com peças que despertem alegria, conversem entre si e, o melhor de tudo, intriguem.”

ESCOLHA MÓVEIS AREJADOS

No meu quarto, eu me esforcei para iluminar uma área de estar com duas poltronas de pernas escuras com estofamento tradicional. E então, pronto, tudo mudou: aproveitando os poderes mágicos do espaço negativo com um pufe otomano, consegui arejar o cômodo.

Se vidro ou pufes não forem seu estilo, considere móveis “flutuantes”, como consoles e mesas de cabeceira montados na parede. “Quando os móveis ou o posicionamento dos itens parecem pesados, as peças flutuantes mantêm o cômodo equilibrado e leve”, diz Adler.

TRABALHE A DIMENSÃO

Inclua superfícies com espaço positivo e negativo para proporcionar um pouco de drama. Para embelezar o teto de um cliente, Westbrooks projetou um detalhe tridimensional de marcenaria. Contra uma superfície plana de madeira, algumas peças se projetam para fora, criando um padrão cruzado irregular. Os contrastes resultantes em profundidade dentro da madeira intrigam os olhos e dão uma sensação de movimento.

Não quer gastar dinheiro com um trabalho de carpintaria personalizado? Tente comprar uma cabeceira canelada ou instalar painéis de parede canelados para destacar uma parede. Ou siga a sugestão do arquiteto e designer parisiense Hugo Toro e crie uma ilusão de dimensionalidade com um piso gráfico de alto contraste.

INCLUA ELEMENTOS ESCULTURAIS

Você se lembra da famosa ilusão de ótica do vaso de Rubin? Se você olhar apenas para o espaço positivo, verá um vaso. Mas, se você isolar o espaço negativo, vai ver dois rostos de perfil – um lembrete visual de que a ausência pode contar uma história tanto bem quanto a presença. Com esse conceito em mente, procure móveis com silhuetas que produzam antiformas interessantes, como o Riviera Waterfall Console de Jonathan Adler. Ou incorpore acessórios ou plantas igualmente intrigantes, como um espelho em forma de poça, um ficus-lira ou cactos com flores.

EXPERIMENTE UM LAYOUT INESPERADO

Adicione um elemento de surpresa interrompendo a simetria no espaço negativo de seu cômodo, sugere Adler. Coloque o ponto focal no canto ou pendure obras de arte em níveis diferentes, como ele fez no Parker Palm Springs. “As pessoas às vezes se esquecem de que o posicionamento de tudo na casa é tão importante quanto os itens que a preenchem”, diz ele. “Se a seleção de peças glamourosas é a menina de ouro da decoração, então o espaço negativo é o irmão do meio negligenciado – e estou aqui para dizer: não o negligencie!”

CAPRICHE NO PAPEL DE PAREDE

Como você pode acrescentar estampa, cor e interesse a um cômodo sem gerar sobrecarga visual? A resposta é papel de parede, diz Toro. Uma estampa repetitiva pode dar uma sensação de recuo, de modo que as paredes se tornam efetivamente um espaço negativo. Uma estampa com bastante espaço em branco pode ser absolutamente serena, afirma a designer Colleen Simonds, de Pittsburgh.

Para o quarto de uma criança, ela escolheu um papel de parede em preto e branco para suavizar o cômodo e dar aos olhos um lugar para descansar. No entanto, para revestimentos de parede com padrões e cores ousados, provavelmente é melhor se conter.

Em uma sala de jantar, Simonds cobriu apenas uma área com papel de parede, deixando as paredes ao redor em branco. “Colocar papel de parede em todas as quatro paredes teria sido um exagero, mas ainda queríamos uma dose ousada de cor e estampa”, explica. Em outras palavras, o cômodo precisava de um pouco de espaço negativo. •

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

“Pense na sua casa como uma série de ilhas com um pequeno fosso de espaço limpo e vazio ao redor de cada uma. Depois, decore essas ilhas com peças que despertem alegria e intriguem” Jonathan Adler

Ceramista e designer

Em abril, Sara Sidner fez sua 16.ª e última rodada de quimioterapia – foi quando disse que não iria trabalhar porque estava fraca demais para ser âncora do CNN News Central, o programa matinal de notícias que ela apresenta com John Berman e Kate Bolduan. Foi o único dia em que Sidner pediu licença médica durante a quimioterapia.

Jornalista veterana que foi aclamada na CNN quando era correspondente internacional e cresceu na carreira com a cobertura do assassinato de George Floyd e do aumento das mortes por coronavírus no auge da pandemia, Sidner está enfrentando um inferno.

Ainda assim, ela vem fazendo o que tem feito durante todo o diagnóstico e o tratamento: está trabalhando. Ela acabou de ganhar seu primeiro prêmio News Emmy como âncora pela cobertura do descarrilamento do trem tóxico em East Palestine, Ohio. A quem pergunta como ela está, Sidner responde: ela não está morta. Longe disso.

Nesse processo, ela não apenas continuou cobrindo as maiores histórias do mundo, mas também usou sua plataforma para divulgar a conscientização sobre o câncer de mama entre as mulheres negras.

Mulheres negras têm um risco menor de serem diagnosticadas com câncer de mama em comparação com as brancas, mas têm 40% mais chances de morrer da doença, geralmente porque são diagnosticadas em estágios mais avançados, quando é mais difícil tratar, de acordo com a Sociedade Americana de Câncer.

“O fato de ela ter decidido ir ao ar e falar sobre o que estava passando e colocar isso no contexto, não porque quisesse falar sobre si mesma, mas para ajudar outras pessoas – isso a define”, disse Alexandra Heerdt, médica de Sidner no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York.

Monique James, psiquiatra do centro que trabalha com pacientes com câncer de mama, acrescentou: “Ela está chegando a muitas mulheres negras por ser quem é e por ser muito aberta ao falar sobre o assunto”.

Agora, enquanto aguarda a cirurgia de reconstrução da mama, Sidner reflete sobre o que a impede de deixar essa parte de sua vida escapar. “Quero ser útil”, disse. “Não tenho permissão para desistir. Lutar por si mesma é uma coisa boa”.

PROCESSO. Sidner havia se preparado para o pior depois que descobriu um nódulo, e os médicos ordenaram que ela fizesse uma biópsia após uma mamografia. Ao receber o diagnóstico, ela não compartilhou imediatamente a notícia nem com seu marido. “Foi o dia mais difícil, porque consigo controlar como vou reagir, mas não posso controlar como as outras pessoas se sentem”, disse ela.

A princípio, Sidner estava resignada com a morte e tinha uma ideia de como escreveria as cartas a seus entes queridos.

Mas, na carta para sua mãe, ela não conseguiu passar de “Querida mãe”. Foi quando decidiu canalizar sua resposta emocional para atacar a doença. “De repente, pensei: esta é sua batalha pessoal e, se você não lutar agora, não poderá fazer mais nada.”

Dias depois, os médicos do Memorial Sloan Kettering Cancer Center traçaram o plano de quimioterapia com uma mastectomia dupla e radioterapia. A decisão de anunciar publicamente seu diagnóstico veio depois de ter tido dificuldades com uma peruca que usava no ar para cobrir seu cabelo ralo.

Em 8 de janeiro, Sidner compartilhou com os telespectadores como, apesar de nunca ter fumado, raramente ter ingerido álcool e não ter histórico familiar da doença (todos fatores de risco), ela estava com câncer de mama. “Eu agradeci ao câncer por ter me escolhido”, disse ela, segurando as lágrimas. “Estou aprendendo que, não importa o inferno que enfrentemos na vida, eu ainda sou loucamente apaixonada por esta vida.” O diagnóstico, segundo ela, teve o efeito surpreendente de tornála grata por poder respirar todos os dias. O momento logo viralizou nas redes sociais.

Não importa como sua história de câncer termine, Sidner quer manter os pés no chão e parar de fingir que está bem nos dias em que não está. “Mas quer saber?”, disse ela, “Ainda é melhor estar viva do que a alternativa.” •

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU*

“Estou aprendendo que, não importa o inferno que enfrentamos, eu ainda sou loucamente apaixonada por esta vida”

Sara Sidner

Jornalista

BEM-ESTAR

pt-br

2024-10-26T07:00:00.0000000Z

2024-10-26T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/282299620657357

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