O Estado de S. Paulo

Contas externas voltam a fechar no azul

Saldo positivo fica em US$ 2,8 bilhões em junho, melhor resultado para o mês; investimentos estrangeiros, porém, despencam 96,6%

Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues / COLABORARAM THAÍS BARCELLOS E GUILHERME BIANCHINI

O resultado das transações correntes ficou positivo em junho, em US$ 2,8 bilhões, informou ontem o Banco Central. Esse é o melhor desempenho para meses de junho desde o início da série histórica do BC, em 1995. Por outro lado, os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 174 milhões no mês passado ante a US$ 5,2 bilhões de junho de 2020, uma queda de 96,6%. O IDP representa os investimentos feitos por estrangeiros no País, tanto na construção de fábricas quanto na aquisição de participação em companhias. Em maio, as contas registraram um saldo positivo de US$ 3,8 bilhões.

Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, a frustração com o IDP em junho é explicada por uma saída de recursos por operações entre empresas, o que acende uma luz amarela, uma vez que as empresas estrangeiras estão enviando recursos produzidos internamente para as matrizes no exterior, sem reinvestir no País.

“(As empresas) Não veem capacidade para investir internamente. Isso pode dizer algo expressivo para nós, sobre a atividade e a perspectiva do empresariado. É o que mais preocupa, pois o IDP é um investimento na economia real, não é um investimento financeiro”, disse.

Os dados das contas externas

• Perspectiva

“(A queda do IDP) É o que mais preocupa, pois é um investimento na economia real.”

Carla Argenta

ECONOMISTA-CHEFE DA CM CAPITAL

refletem os efeitos da pandemia de covid-19, que desde março do ano passado reduz o volume de importações de produtos. Ao mesmo tempo, o Brasil tem se aproveitado da maior demanda global por commodities – produtos básicos, como alimentos, minério de ferro e petróleo, que são pilares da pauta de exportação do País.

Nessas contas estão todos os negócios do Brasil com o exterior, incluindo o saldo comercial de mercadorias e serviços, as remessas de lucros e dividendos e os juros pagos pelas empresas, além das transferências pessoais entre países.

De acordo com o economista-chefe do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, o ingresso baixo de IDP em junho deve ser um resultado pontual. “Estamos com um cenário bastante tranquilo em contas externas. Projetamos US$ 2 bilhões de déficit de conta corrente em 2021, apenas 0,12% do PIB. E o IDP totalizando US$ 55 bilhões, número bastante tranquilo”, disse Pedroso.

No primeiro semestre deste ano, segundo o BC, as contas externas registraram rombo de US$ 7 bilhões. O resultado é praticamente a metade do registrado no mesmo período de 2020, quando o déficit nas contas externas chegou a US$ 13,3 bilhões, influenciado pela primeira onda da pandemia de covid-19. A melhora do saldo no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado é reflexo da balança comercial brasileira, que vive bom momento por conta da alta dos preços das commodities.

Nos 12 meses até junho, o saldo das transações correntes está negativo em US$ 19,637 bilhões, o que representa 1,27% do Produto Interno Bruto (PIB).

Conta de viagens. Ainda sob os efeitos da pandemia, a conta de viagens internacionais registrou déficit de US$ 221 milhões em junho, informou o BC. O valor reflete a diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que os estrangeiros desembolsaram no Brasil no período. Em junho de 2020, o déficit foi de US$ 72 milhões.

Com o dólar mais elevado e a restrição de voos em vários países, os gastos líquidos dos brasileiros no exterior despencaram nos últimos meses. O desempenho da conta de viagens internacionais

em junho foi determinado por despesas de brasileiros no exterior, que somaram US$ 449 milhões. O gasto dos estrangeiros em viagem ao Brasil ficou em US$ 228 milhões no mês passado.

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse que os gastos dos turistas brasileiros no exterior são os maiores desde março de 2020, quando o mundo foi atingido pela pandemia. Ele reconheceu, porém, que o valor ainda está distante dos gastos pré-pandemia, quando era comum que os brasileiros gastassem US$ 1,5 bilhão por mês, em média.

Economia

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2021-07-28T07:00:00.0000000Z

2021-07-28T07:00:00.0000000Z

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