‘Nada na história se repete’, diz Simon Sebag Montefiore
Um dos principais pensadores da atualidade, o autor de ‘Os Románov’ participou de ciclo de conversas em São Paulo
ALICE FERRAZ ESPECIAL PARA O ESTADÃO
Pensar as relações humanas conduzidas pelas histórias de famílias e civilizações é a reflexão proposta pelo historiador britânico Simon Sebag Montefiore. De passagem pelo Brasil – que conheceu pela primeira vez em 2018 e de onde levou ótimas recordações –, Montefiore apresentou em conferência nesta semana, a convite do Fronteiras do Pensamento, suas análises sobre os desafios das democracias contemporâneas.
Famoso por suas obras sobre dinastias e famílias, Montefiore é elogiado pela combinação de precisão histórica com uma narrativa atraente. Em títulos como Os Románov, ele investiga o impacto das famílias reais na política, cultura e transformações sociais, explorando as tensões internas das dinastias – ciúmes, conflitos, traições e alianças.
Sua obra Jerusalém: A Biografia oferece uma visão detalhada de como a cidade foi moldada e influenciada por sucessivos regimes. “Todo mundo gosta de dizer que Jerusalém é um local sagrado para todos, mas nem sempre foi assim”, afirmou.
Reconhecido como um dos principais historiadores da atualidade, Montefiore salientou durante sua fala para cerca de 500 pessoas, em São Paulo, que é comum o uso de clichês históricos que não representam a realidade, o que torna essencial uma análise profunda dos fatos. “Nada na história se repete. Existem ecos, mas não repetições. Mudam as gerações, os contextos”, explica.
PODER. Na conferência, Montefiore também abordou as disputas territoriais e ideológicas do Oriente Médio e da Europa, incluindo conflitos contemporâneos, ressaltando a complexidade das narrativas e a crise atual da democracia liberal. “Os sistemas estão sempre se desenvolvendo e se reinventando. Isso aconteceu com as autocracias e agora se apresenta como um desafio para esse modelo atual de democracia. As pessoas querem viver em um sistema que seja poderoso; por isso, a democracia precisa mostrar seu poder”, afirma. O mesmo vale para a globalização, que, segundo ele, alcançou grandes conquistas para a
Microcosmo ‘Famílias são a forma de governo mais bem-sucedida que existe’, diz escritor britânico
humanidade – como o avanço na saúde, na agricultura e na longevidade. “Nunca estivemos em um lugar melhor. No entanto, a globalização não entregou tudo. As elites políticas ficaram divididas, há o problema da imigração. É necessário repensar esses modelos.”
Nascido em Londres, em uma tradicional família judia, Montefiore tem um interesse profundo nas relações familiares e suas implicações históricas. Para ele, as famílias são um microcosmo da política, em que dinâmicas como competição e alianças influenciam diretamente o desenvolvimento das nações.
Ele acredita que a proximidade e a tensão constante entre esses laços moldam decisões de poder, pois, ao longo da história, muitas escolhas políticas surgiram dentro do contexto privado das famílias, reverberando na esfera pública. Segundo Montefiore, poder, cultura e essas relações definiram – e ainda definem, no século 21 – o curso da história. “Famílias são a forma de governo mais bem-sucedida que existe”, afirma, destacando que a compreensão dessas interações pode lançar luz sobre o funcionamento de sociedades inteiras.
Além das conferências em São Paulo e Porto Alegre, Montefiore lançou seu mais novo livro, O Mundo: Uma História da Humanidade, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, no qual abrange desde as antigas dinastias do Egito e da China até o mundo contemporâneo. Durante sua visita, ele também conheceu comunidades no Rio de Janeiro, visitou o Museu Judaico de São Paulo e almoçou no restaurante Dalva e Dito, apreciando a culinária brasileira. •
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2024-11-02T07:00:00.0000000Z
2024-11-02T07:00:00.0000000Z
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