O Estado de S. Paulo

Produção de carros é a menor para agosto em 18 anos

Setor afirma que a crise política atrasa a retomada econômica, e protestos como o de 7 de Setembro preocupam as matrizes

Cleide Silva

A indústria automobilística registrou queda de 21,9% na produção em agosto, se comparada ao mesmo mês de 2020, que já foi fraco em razão da pandemia. Foram produzidos 164 mil veículos, o pior resultado para meses de agosto em 18 anos. No mês passado, 11 das 21 fábricas de automóveis e comerciais leves pararam a produção total ou parcialmente. Hoje, há quatro plantas nessas condições.

No ano, a produção supera em 33% o volume de 2020, com 1,47 milhão de unidades, mas a comparação é com uma base muito fraca, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes.

Os estoques de carros nas revendas e nas fábricas são suficientes para 13 dias de vendas, o menor da história do setor.

Em novas projeções, a Anfavea calcula que deixará de produzir este ano entre 240 mil e 280 mil veículos por causa da falta de semicondutores, problema que só deve diminuir a partir do segundo semestre de 2022. No mundo todo, a previsão é de perda de produção de 7 milhões a 9 milhões de veículos.

Crise política. Para Moraes, o cenário político atual prejudica ainda mais a agenda de retomada econômica. As manifestações ocorridas na terça-feira, Dia da Independência, deixam o quadro ainda mais preocupante para o setor.

“A questão política cria ainda mais instabilidade no mercado e preocupa nossas matrizes”, diz. O dirigente da Anfavea ressalta ainda que o setor já enfrenta problemas com o desabastecimento de peças, aumento de preços de matérias-primas e da energia, inflação, juros e câmbio em alta, desemprego e a questão da pandemia ainda não resolvida. “Parte desses problemas é decorrente da instabilidade do País”, diz.

“Nossa posição é de que o Supremo Tribunal Federal (STF) defina o que é correto, e que o Congresso encontre a melhor saída”, afirma Moraes.

Empregos. O único dado positivo registrado pelo setor em agosto foi o de empregos, que vem se mantendo praticamente estável há três meses, apesar das demissões que a Ford está fazendo após o fechamento de suas fábricas no País e da falta de chips para a produção.

Em agosto, o saldo positivo foi de 277 novas vagas. As montadoras empregam atualmente 103 mil trabalhadores, número próximo ao de um ano atrás (103,3 mil), mas inferior ao do fim de 2020 (104,6 mil).

No início deste mês, a Toyota anunciou que abrirá 870 vagas neste ano par um terceiro turno de trabalho, e o grupo Caoa contratou 385 funcionários e iniciou o segundo turno. “Há ociosidade de pessoal em algumas fábricas, mas não é linear, pois há empresas contratando e um esforço grande em manter empregos”, diz Moraes. O setor opera com metade de sua capacidade produtiva.

Economia

pt-br

2021-09-09T07:00:00.0000000Z

2021-09-09T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/282248078678229

O Estado