O Estado de S. Paulo

Setor público terá de cortar 20% do gasto de energia

‘Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara?’, questiona; governo anuncia bônus para quem economizar eletricidade

Sandra Manfrini Eduardo Rodrigues

Decreto presidencial determina que órgãos da administração pública reduzam em até 20% o consumo de energia elétrica entre setembro de 2021 e abril de 2022. Caso a meta não seja cumprida, será necessária justificativa.

O aumento na conta de luz tem pesado no orçamento das famílias e é um dos fatores que pressionam a inflação, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem essa visão. “Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”, questionou ele ontem. “Isso vai causar perturbação, empurra a inflação um pouco para cima, BC (Banco Central) tem de correr um pouco mais atrás da inflação”, afirmou ele, no lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo.

Guedes disse que a economia brasileira está “vindo com toda a força” após a crise causada pela pandemia da covid-19, mas admitiu que “há, sim, nuvens no horizonte”. “Temos a crise hídrica forte pela frente, mas a economia brasileira está furando as ondas”, disse.

O ministro da Economia disse ainda que a “economia está bombando”. “E continua a narrativa de que o governo não faz nada”, reclamou. Segundo Guedes, os críticos já transferiram o colapso para 2022, ao perceberem que a economia voltou a crescer. “Mas vamos continuar crescendo”, disse.

Bônus por economia. Na contramão do discurso de Guedes, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou ontem um programa de redução voluntária do consumo para residências para tentar baratear um pouco as contas de luz. O governo pretende dar descontos aos consumidores que baixarem a carga a partir de 1.º de setembro.

Segundo a pasta, a divulgação dos detalhes da medida deve ocorrer no início da próxima semana.

“O programa está sendo estruturado e contará com definição de meta mínima de redução para concessão de crédito”, informou o ministério em nota distribuída à imprensa. “Estamos avaliando a métrica para todos os consumidores. A ideia do programa é premiar aqueles consumidores que se esforçarem em reduzir a carga e, assim, contribuir para o aumento da segurança, da confiabilidade e do custo de geração”, disse o secretário de Energia Elétrica do ministério, Christiano Vieira.

Sem muitas explicações, o secretário deu a entender que os descontos seriam pagos via Encargo de Serviços do Sistema (ESS) – taxa cobrada na conta de luz por meio de tarifas ou bandeiras tarifárias. Dessa forma, o “bônus” seria custeado pelos próprios consumidores, tanto os atendidos pelas distribuidoras e os residenciais como os que operam no mercado livre, como as indústrias. As regras, porém, só devem ser apresentadas no início da próxima semana.

Já Albuquerque afirmou que as perspectivas de chuvas até o fim do período seco deste ano, meados dos meses de setembro e outubro, “não são boas no momento”. Em entrevista coletiva, ele afirmou que os meses de julho e agosto registraram o pior volume de água que chegou aos reservatórios da série histórica. “Permanece a perspectiva de menores precipitações até o final do período seco, até o final de setembro, outubro”, afirmou.

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2021-08-26T07:00:00.0000000Z

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