Um desastre anunciado e caro
Edvaldo Santana ✽ EX-DIRETOR DA ANEEL
Abraçado ao setor elétrico, o governo, em maio, ou início do período seco, fez uma aposta em que escolheu a ambiguidade. Apostou que as condições hidrológicas fossem favoráveis, quando tudo dizia o contrário.
“Até aqui, tudo bem” era a palavra de ordem até 24 de agosto. Ontem, porém, parece que a aposta mudou, e corretamente. Só que, até então, foram cerca de 120 dias a aumentar os estragos.
Estudos do ONS do fim de julho deixavam evidente que, mesmo com o uso de toda a reserva de potência (de 12 mil MW) para suprir o consumo, em outubro o sistema teria uma “sobra” de 3 mil MW. Apesar do otimismo e da coerência de utilizar a totalidade da reserva de potência, o resultado não passava de ilusionismo. Na prática, como toda potência já vem sendo utilizada, inclusive a reserva, em outubro faltarão 9 mil MW, em lugar da “sobra”.
Isso deixa o sistema extremamente vulnerável para atender às maiores demandas, entre 17 horas e 20 horas. É essencial reduzir o consumo em proporções gigantescas. Não será fácil e custará caro. E, como se insistiu no irracional “até aqui, tudo bem”, quando os cenários hidrológicos se deterioravam, o custo para gerar energia subiu, o que aumenta o prêmio a ser pago aos grandes consumidores que aceitarem reduzir a produção.
Assim, a demora em adotar ações também do lado da demanda, além de tornar incertos seus efeitos, resultará em uma conta de luz impagável já em 2022, o que pode criar duas crises – energética e tarifária. Dramático.
Economia
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2021-08-26T07:00:00.0000000Z
2021-08-26T07:00:00.0000000Z
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