Setor de diversidade é ‘esquecido’ por empresas
Levantamento da startup To.gather revela que em 61% das companhias no País as pautas de diversidade e inclusão ainda competem com outras demandas do setor de RH
SHAGALY FERREIRA
A maior parte das empresas no Brasil não dispõe de área ou liderança para criar e gerir exclusivamente políticas de diversidade e inclusão (D&I). De acordo com o estudo Panorama da Diversidade nas Organizações, publicado em maio pela startup de dados de diversidade To.gather, 60,9% das companhias no País encaminham essa pauta ao setor de recursos humanos (RH), em meio a outras demandas.
As políticas de D&I são tratadas com dedicação exclusiva por somente 22,1% das empresas, segundo o levantamento, que mapeou 289 companhias de 20 segmentos do mercado. Outras organizações ainda conduzem a pauta por meio de departamentos corporativos diversos como os de Comunicação, de Sustentabilidade e de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).
Além disso, conforme o relatório, os investimentos corporativos em ações de diversidade têm relação direta com a existência ou não de um departamento específico na empresa. Entre os locais com área exclusiva para D&I, 93,6% têm investimento dedicado à diversidade. Já nas empresas nas quais a pauta é conduzida pela área de RH, apenas 27,3% têm esse tipo de destinação orçamentária. A maioria dos valores investidos para esse fim é de até R$ 100 mil por ano.
Na análise da CEO da To.gather, Erica Vaz, a ausência de áreas de D&I nas corporações é um sinal negativo para o avanço da pauta no mercado. Para ela, isso mostra que as políticas de governança voltadas para a diversidade nas empresas podem não estar encontrando um elo entre o planejamento teórico e a prática. Nem mesmo a existência de comitês de diversidade na alta governança substitui o engajamento efetivo de um especialista na ponta para complementar o trabalho, avalia.
“Em um cenário de limitação de conhecimento e de investimento, (as empresas) acabam se limitando às ações mais básicas, como provocar um treinamento ou uma semana de diversidade. São ações pontuais e um pouco mais superficiais. E se a pauta cai direto no RH e não tem mais ninguém sendo responsável, o tema pode acabar indo quase para o final da fila”, explica a especialista.
“(Já) quando uma empresa está investindo em diversidade, há a vantagem de ter uma pessoa dedicada, que vai respirar a diversidade quase 100% do seu tempo e vai também saber direcionar melhor as ações.”
ONDE ESTÃO.
Quanto maior o porte da empresa, mais alta a probabilidade de que ela tenha áreas ou lideranças de D&I, com investimento de recursos específicos para suas políticas, sinaliza o levantamento. É nas companhias com mais de 1 mil funcionários (73%, segundo a pesquisa) que se encontram a maior parte desses setores dedicados à pauta. As que possuem acima de 10 mil colaboradores são as que mais investem financeiramente na área, com valores acima de R$ 700 mil.
A Coca-Cola, por exemplo, criou em 2020 a posição de gerente sênior de Diversidade & Inclusão, para acelerar e monitorar a agenda de diversidade da companhia, e elevou mais tarde o posto ao status de diretoria, conta a diretora de Diversidade & Inclusão da Coca-Cola no Brasil e Cone Sul, Rita Oliveira. Ela gerencia estratégias de D&I para Brasil (onde a empresa tem 57 mil funcionários), Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai.
Sem divulgar a quantia investida, Rita afirma que a área está no “centro do negócio”. “Ter uma força de trabalho diversa estimula a inovação e o crescimento sustentável do sistema”, diz a executiva.
Pesquisa
Políticas de diversidade e inclusão são tratadas com dedicação exclusiva por 22% das empresas
OPORTUNIDADES & LEILÕES
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2024-06-23T07:00:00.0000000Z
2024-06-23T07:00:00.0000000Z
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