Varejo virtual. Mercado Livre planeja investir R$ 23 bi após ‘herdar’ consumidor da Americanas
Gigante do comércio na internet ganha 8 pontos porcentuais do mercado com aperto de concorrente
LUCAS AGRELA WESLEY GONSALVES
O Mercado Livre anunciou ontem uma projeção de investimento de R$ 23 bilhões na operação brasileira neste ano, aumento de 21% ante 2023, quando a gigante argentina de comércio na internet investiu R$ 19 bilhões no negócio no Brasil.
Segundo a companhia, os investimentos estão divididos majoritariamente em quatro pilares: logística, tecnologia, Mercado Pago e Mercado Ads. “Esse comunicado é para reforçar que o Mercado Livre acredita no Brasil e no potencial do crescimento dos negócios no País”, disse o presidente do Mercado Livre no País, Fernando Yunes, em entrevista ao Estadão.
A maior parcela do investimento deste ano será para ampliar a capacidade logística da companhia.
O presidente diz que a decisão do conselho de administração de ampliar os investimentos se dá em parte após o crescimento da companhia em 30% em volume bruto de mercadorias e da conquista de aproximadamente 8 pontos porcentuais em participação de mercado no Brasil no ano passado – o melhor desempenho já registrado pela empresa nos últimos anos. Ele ainda lembra que a companhia atingiu e “superou” os R$ 19 bilhões projetados para o ano anterior em investimentos, com gastos que foram de inovação a custos fixos da companhia.
Yunes diz acreditar que parte desse resultado, avaliado como surpreendente, se deu por causa da crise financeira na Americanas, o que, segundo o executivo, fez com que o marketplace “herdasse” cerca de 80% dos clientes da concorrente – que enfrenta um processo
“Neste ano, queremos que seja o segundo maior resultado da história” Fernando Yunes
Presidente do Mercado Livre no Brasil
“As lojas virtuais fizeram uma revisão de custos para se tornarem mais eficientes” Maurício Salvador
Presidente da ABComm
de recuperação judicial com uma dívida bilionária de mais de R$ 42 bilhões. “Foi um recorde histórico para nós”, diz. “Neste ano, nós queremos que seja o segundo maior resultado da história, mas não dá para ganhar 8 pontos porcentuais de fatia de mercado de novo”, afirma Yunes.
O executivo diz que o ambiente macroeconômico não influencia as atuais decisões de investimento da empresa no Brasil, especialmente porque o mercado de comércio eletrônico ainda representa 14% do faturamento do varejo, o que avalia ser pouco e com muito espaço para manter um ritmo de crescimento acelerado a despeito da situação econômica do País.
Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), as vendas no e-commerce em 2023 atingiram R$ 185,7 bilhões no Brasil, 10% a mais do que em 2022. O preço médio de compra por cliente foi de R$ 470. A associação destaca que as principais categorias de produtos comprados via internet foram eletrodomésticos, eletrônicos, telefonia, casa e decoração, além de moda e acessórios. A ABComm estima que as vendas online no País neste ano cheguem a R$ 205,11 bilhões, com valor médio de R$ 490 por cliente.
“As lojas virtuais fizeram uma revisão operacional de custos nos últimos anos para se tornarem mais eficientes. A satisfação do consumidor com as entregas vem aumentando, o que é muito importante para a experiência de compra. Chegaremos neste ano a 92 milhões de brasileiros comprando na internet, quase metade da população. Isso mostra o quanto o e-commerce se popularizou. A internet é o melhor lugar para encontrar ofertas”, diz Maurício Salvador, presidente da associação.
PUBLICIDADE. Ainda dentro dos quatro pilares de investimentos para 2024, o Mercado Livre listou o Mercado Ads como uma das suas prioridades. Segundo dados da companhia, a plataforma de retail media – estratégia de publicidade que permite às marcas colocarem anúncios dentro de espaços de empresas varejistas – do Mercado Livre alcançou, em 2023, 170 mil anunciantes, entre pequenos vendedores do marketplace e também com gigantes do mercado nacional.
De modo geral, o Mercado Ads abre espaço para campanhas publicitárias dentro do seu ecossistema de negócios, que vai do e-commerce e serviços bancários, com o Mercado Pago, até a plataforma de streaming de vídeo gratuito da companhia, o Mercado Play.
Yunes afirma que o segmento de mídia de varejo tem potencial de crescimento dentro dos negócios no País. “Os anunciantes começam a buscar a nossa plataforma de e-commerce com os investimentos em retail media. Nós achamos que isso deve acelerar no Brasil”, diz
Esse potencial de lucros com publicidade digital dentro de plataformas de varejo virtual também movimenta outros negócios no País. Recentemente, o Grupo RaiaDrogasil criou a RD Ads, um braço dos negócios para gerir os anúncios dentro das operações da rede de farmácias. •
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2024-03-27T07:00:00.0000000Z
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