O Estado de S. Paulo

Em ‘Round 6: O Desafio’, as mortes são falsas, mas o dinheiro é verdadeiro

Streaming Reality Show Competição brutal baseada na série coreana de sucesso tem 456 jogadores disputando o prêmio de R$ 22 milhões

CHRISTOPHER KUO

A jogadora 450, vestida de agasalho verde e branco, corre para cruzar a linha de chegada. De repente, a cabeça de uma boneca gigantesca gira e ela congela, mas já é tarde demais. Ela cai no chão. Quem assistiu ao thriller de TV Round 6 vai se lembrar do banho de sangue da brincadeira Batatinha Frita 1, 2, 3 e, m que os jogadores tinham de correr e parar toda vez que a cabeça de uma boneca virava – ou então seriam mortos a tiros. Mas, nesta versão do jogo, não era sangue que encharcava a roupa da Jogadora 450: era tinta preta de um dispositivo sob sua camiseta. Em seguida, ela se levantou, desapontada, mas ilesa.

Ela e outros 455 concorrentes disputavam o prêmio de US$ 4,56 milhões (cerca de R$ 22,3 milhões) como parte de Round 6: O Desafio, reality show da Netflix que estreou recentemente, recriando as brincadeiras diabólicas da famosa série coreana no streaming. Quando a Netflix abriu a chamada de elenco em 2022, mais de 80 mil pessoas se inscreveram. À medida que seu número diminui, os jogadores forjam alianças e quebram promessas, fazendo manobras maquiavélicas para evitar a eliminação e ganhar vantagem na busca pelo prêmio em dinheiro.

“Queríamos que o programa fosse, assim como a série, um estudo da natureza humana sob pressão”, disse em entrevista John Hay, produtor do programa filmado na Inglaterra.

ACUSAÇÕES. Ao contrário da série original, os produtores do programa dizem que não sabiam de antemão quem venceria. No início do ano, alguns exjogadores disseram à revista Rolling Stone que as brincadeiras foram fraudadas, alegando que alguns participantes foram préselecionados para avançar para as próximas rodadas.

Ao New York Times, a Netflix negou isso. “Todas as eliminações da série foram aprovadas por juízes independentes, que estiveram presentes o tempo todo para garantir a imparcialidade das brincadeiras”, afirmou um porta-voz.

Em entrevista, os produtores executivos disseram que compilaram muitas imagens dos competidores no início dos jogos, o que lhes permitiu editar o programa para focar nos competidores que sobreviveram até fases posteriores.

Para complementar os jogos, os produtores também introduziram testes de personalidade: minidesafios em que os competidores são obrigados a fazer escolhas difíceis. No início, dois competidores têm a opção de eliminar um jogador ou dar a outro uma vantagem na próxima brincadeira. Em outro teste, um homem recebe um telefonema e é informado de que tem dois minutos para convencer outro jogador a pegar o telefone dele e ser eliminado.

“O drama gira em torno de alianças e grupos que as pessoas formam”, contou Stephen Lambert, um dos produtores executivos. “Nós precisávamos criar desafios que estimulassem o senso de lealdade e confiança das pessoas.”

A recriação das brincadeiras exigiu uma engenharia complexa. Para reconstituir o jogo da dalgona, em que os participantes têm de extrair parte de um doce sem quebrá-lo, os designers passaram meses testando receitas de biscoitos, para encontrar uma que evitasse as alergias e não fosse muito mole nem muito quebradiça.

BATATINHA. Reconstituir a brincadeira Batatinha Frita 1, 2, 3 também trouxe desafios. Para projetar a boneca, com mais de 4 m de altura, os designers solicitaram as dimensões exatas de Hwang Dong-hyuk, diretor da série original. Depois, fizeram desenhos para a maior impressora 3D do Reino Unido que funcionou por um mês para fabricar os componentes da boneca, informou o principal designer de produção, Mathieu Weekes.

A tarefa mais difícil foi projetar uma cabeça enorme que pudesse girar rápido o suficiente para eliminar os competidores sem voar do corpo da boneca, avisou Ben Norman, chefe do design de brincadeiras. Assim que a boneca ficou pronta, os competidores foram levados a um hangar em Cardington, no norte de Londres.

Ex-competidores disseram à Variety e Rolling Stone no início do ano que foram forçados a jogar sob temperaturas gélidas e, por isso, alguns jogadores precisaram de cuidados médicos, o que a Netflix confirmou. O porta-voz acrescentou que médicos estiveram no set o tempo todo e que “todas as medidas de saúde e segurança foram tomadas nas filmagens”.

Um dos competidores, Bryton Constantin, de 23 anos, disse em entrevista que se lembra de pessoas reclamando do frio, mas não de competidor com problemas graves por causa disso. “Não nos inscrevemos para uma viagem ao Havaí, mas para o Round 6 e para ganhar US$ 4,56 milhões.”

“Ninguém gosta de ficar junto com outras 200 pessoas e comer comida ruim todos os dias”, concluiu Constantin. “Mas você fica lá batalhando porque todo mundo está lá exatamente pelo mesmo motivo.” • TRADUÇÃO RENATO PRELORENTZOU

“Não nos inscrevemos para uma viagem ao Havaí, mas para o ‘Round 6: O Desafio’ e para ganhar R$ 22 milhões”

Bryton Constantin

Competidor

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2023-12-06T08:00:00.0000000Z

2023-12-06T08:00:00.0000000Z

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