O Estado de S. Paulo

Serviços têm queda de 0,6% em setembro

Resultado ficou abaixo da expectativa; único segmento que teve registro de alta foi o de restaurantes, aponta o IBGE

DANIELA AMORIM COLABORARAM LUCIANA XAVIER e MARIANNA GUALATER

Assim como a indústria e o varejo, o setor de serviços também amargou perdas em setembro. O volume de serviços prestados no País encolheu 0,6% em relação a agosto, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira baixa depois de cinco meses. Mesmo com a queda, o setor ainda acumula alta de 11,4% no ano. Em 12 meses, o avanço é de 6,8%.

Em setembro, houve quedas em quatro das cinco atividades de serviços pesquisadas pelo IBGE: transportes (-1,9%), outros serviços (-4,7%), informação e comunicação (-0,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%). O único crescimento ocorreu nos serviços prestados às famílias (1,3%).

O resultado surpreendeu até as estimativas mais pessimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam um avanço mediano de 0,5%. A retração é reflexo da desaceleração da atividade econômica, o que acende sinal de alerta para os próximos resultados, avaliou o economista Lucas Rocca, da LCA Consultores.

“Quando olhamos para frente, vemos outros setores com desaceleração mais acentuada e piora do cenário como todo. Sabemos que os serviços estão muito relacionados ao cenário, então deixa pelo menos alguns pontos de interrogação de como vai se comportar”, disse.

JUROS. O fraco resultado do setor de serviços em setembro fez crescer a chance de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central repetir uma dose de alta de 1,5 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na reunião de dezembro, conforme sinalizado pela própria autoridade monetária, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno.

A inflação elevada e resiliente tinha aumentado as apostas de economistas em uma possível elevação de 2 pontos porcentuais. “O dado de serviços reduz o apelo por uma nova aceleração da alta de juros, pois 150 p.b (pontos-base) já é um ritmo forte tendo em vista que a economia tem dado sinais de fraqueza”, disse.

GASTOS. Em um cenário de avanço da imunização da população contra a covid-19 e de aumento na mobilidade das pessoas entre as cidades brasileiras, as famílias de classe média e alta permanecem priorizando o consumo de serviços em detrimento da aquisição de bens no comércio, especialmente nos últimos seis meses, afirmou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE. Os serviços prestados às famílias tiveram uma expansão pelo sexto mês seguido, período em que acumularam um crescimento de 52,5%.

“Esse movimento acontece mais entre famílias de renda média e alta. As famílias mais pobres destinam mais renda para consumo de itens essenciais”, disse Lobo. Apesar da melhora nos últimos meses, os serviços prestados às famílias ainda operam em patamar 16,2% inferior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. “Nos serviços prestados às famílias, há uma ociosidade importante ainda.”

TRANSPORTE AÉREO. Ainda não há impacto perceptível da inflação no desempenho do setor, com exceção do transporte aéreo de passageiros, que sofreu com o aumento nas passagens em setembro, disse Lobo. “A pressão de inflação que a gente observa sobre os consumidores não se reflete de maneira mais incisiva sobre os serviços aqui investigados”, explicou. “Não dá para confundir o efeito preço sobre a renda das famílias, que é obvio, com o efeito preço sobre os serviços prestados. A inflação de serviços está mais moderada”, afirmou Lobo.

ECONOMIA

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2021-11-13T08:00:00.0000000Z

2021-11-13T08:00:00.0000000Z

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