O Estado de S. Paulo

‘O Menino e a Garça’ será exibido no Brasil

Envolto em expectativas, por ser a última produção do diretor e pelo seu caráter autobiográfico, filme foi comprado e chegará às salas do País no começo de 2024

MARIANE MORISAWA

Um filme de Hayao Miyazaki, diretor de obras-primas como Meu Amigo Totoro e A Viagem de Chihiro, sempre é um evento cinematográfico. Mas o primeiro longa do cineasta depois de Vidas ao Vento, de 2013, quando ele chegou a anunciar sua aposentadoria, gerou um nível extra de expectativa.

Kimitachi Wa do Ikiru Ka (“Como Você Escolheria Viver Sua Vida?”) foi lançado no Japão, em julho, sem trailer, pôster ou divulgação. Foi a maior abertura de uma produção do Estúdio Ghibli no país.

A ansiedade cresceu com a exibição do filme, rebatizado de O Menino e a Garça, nos festivais de Toronto, San Sebastián, Nova York e Londres e, principalmente, com a estreia nos EUA, no último dia 8. A obra ficou em primeiro lugar na bilheteria – com o também japonês Godzilla Minus One em terceiro, algo raríssimo.

Começaram a sair as críticas e as premiações: melhor animação do ano para as associações de críticos de Nova York, Los Angeles e Boston, além de indicações ao Critic’s Choice e ao Globo de Ouro.

Mas os brasileiros ficaram angustiados: não havia distribuidor no Brasil. Não por falta de interesse. É que hoje, os filmes, com raras exceções, levam às salas metade do público que levavam antes de 2020. Isso significa um enorme risco para as empresas. Por uma série de circunstâncias, inclusive um desejo inicial de que houvesse uma única distribuidora para toda a América Latina, a vinda para o Brasil atrasou.

Mas o Estadão apurou, com exclusividade, que a Sato Company comprou a distribuição de O Menino e a Garça para os cinemas brasileiros. A companhia é a responsável pelo lançamento aqui de Godzilla Minus One, que estreou na quinta, 14, e ficou em segundo lugar na bilheteria do final de semana.

“É uma grande alegria, especialmente por ser esta obra, que é considerada a última de

Hayao Miyazaki”, disse ao Estadão Nelson Sato, presidente da companhia. O filme deve estrear em fevereiro ou na primeira semana de março.

TOM. O Menino e a Garça contém elementos explorados pelo diretor de 82 anos em seus trabalhos anteriores, como o luto e as dores do crescimento.

Mas o tom é diferente: mais sombrio, adulto, ainda que com uma estrutura mais livre, que vai encantar as crianças.

Miyazaki já usou elementos autobiográficos em seus longas, mas nunca de maneira tão evidente. Segundo Toshio Suzuki, cofundador do Ghibli, em entrevista ao site Deadline, o cineasta nunca havia feito

um filme em que ele próprio é o protagonista. Por isso, o personagem principal é um menino de 12 anos, Mahito.

Na primeira cena, ele corre desesperadamente em direção ao hospital onde sua mãe está internada, depois de um bombardeio na Segunda Guerra Mundial. É uma sequência diferente de tudo o que o Estúdio

Ghibli já produziu, simbolizando o horror da guerra e a impotência de uma criança frente à morte da mãe.

Como Mahito, o pequeno Hayao, nascido em 1941, cresceu com as imagens da guerra gravadas em sua memória. Durante o conflito, a família deixou Tóquio e foi morar em uma pequena cidade. Seu pai também fabricava partes de aviões destinados em combate. Sua mãe passou longos períodos internada por causa da tuberculose.

SONHO. Quando a garça do título aparece, dizendo-lhe que sua mãe ainda está viva, Mahito embarca sem hesitar em uma jornada vertiginosa por um território situado entre vida e morte, entre sonho e realidade, cuja porta de entrada é uma misteriosa torre construída por um tio-avô.

O Menino e a Garça é um testamento de Hayao Miyazaki. Como suas outras obras, traz seu assombro diante da capacidade de maldade e violência do ser humano, traumas e dores, mas também o valor da amizade, do amor, da beleza, do cuidado, da natureza, dos sonhos.l

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2023-12-21T08:00:00.0000000Z

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