O Estado de S. Paulo

Regulação do mercado de carbono abrirá ‘agenda verde’ da Fazenda

CÉLIA FROUFE AMANDA PUPO GABRIEL HIRABAHASI

Pasta prevê envio ao Congresso, ainda neste mês, de proposta para definir a compra e venda de créditos entre empresas e mais recursos para o Fundo Clima.

Previsão do ministério é enviar neste mês ao Congresso proposta para definir compra e venda de créditos entre empresas; agenda inclui ainda mais recursos para Fundo Clima

Algumas das propostas consideradas mais importantes pelo governo para estimular uma “revolução verde” na economia vão começar a sair do papel ainda neste mês. É o caso de projeto que o Ministério da Fazenda apresentará ao Congresso para regular o chamado mercado de carbono no País, além da abertura de uma consulta pública sobre taxonomia – uma espécie de manual de classificação. Na agenda de sustentabilidade, o instrumento serve para definir quais setores, atividades, projetos e ativos estão alinhados com os objetivos ambientais, sociais e de governança, mais conhecidos pela sigla em inglês ESG.

O governo também decidiu que parte (cerca de R$ 10 bilhões) do que poderá ser captado com a emissão dos primeiros títulos soberanos sustentáveis será direcionada ao Fundo Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e que tem o objetivo de financiar projetos, estudos e empreendimentos para a redução de emissões de gases de efeito estufa. “É nessa ordem de grandeza”, confirmou Rafael Dubeux, assessor especial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Dubeux é o responsável por liderar as discussões sobre o Plano de Transformação Ecológica (PTE), a “menina dos olhos” da equipe econômica. O plano soma mais de 100 ações mapeadas em seis diferentes eixos. Como as ações têm diferentes estágios de desenvolvimento, o governo ainda não consegue estimar com precisão os impactos para a economia.

Além do mercado de carbono e da taxonomia, também estão previstas para o curto prazo a entrega ao Legislativo de projeto de lei do “combustível do futuro” (com alta da mistura de etanol à gasolina e o diesel verde) e a regulamentação das eólicas offshore, além de um projeto específico para tratar de hidrogênio de baixo carbono.

Em outra frente do PTE, o Tesouro Nacional prepara para os próximos meses a primeira emissão de títulos soberanos sustentáveis. O governo tem pressa porque quer chegar à COP-28, em novembro, em Dubai (Emirados Árabes), com novidades e mostrar que o Brasil está realmente empenhado em relação a práticas sustentáveis. A COP-30, em 2025, está prevista para ocorrer no Brasil, em Belém (PA).

CARBONO. Para fechar o texto mais consensual possível para regular o mercado de carbono, o Ministério da Fazenda decidiu ouvir integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDES), o chamado “Conselhão”, antes de submeter a proposta aos parlamentares. A consulta informal ao órgão, reativado no governo Lula 3, deve ser concluída na próxima semana, embora o texto já seja considerado “bastante maduro”, afirmou Dubeux. “A ideia é ouvir e receber contribuições de conselheiros para que, neste mês ainda, comece a tramitar.”

Com esse projeto, o governo vai estabelecer regras para a venda de créditos de carbono por entidades que limitam seus níveis de emissões para aquelas com dificuldade de cumprir as metas de descarbonização (leia mais nesta página). Enquanto fecha a proposta final, o governo avalia a forma de encaminhar o assunto ao Congresso. Entre as possibilidades, está a de usar como veículo um projeto que já tramita no Senado, atualmente na Comissão de Meio Ambiente (CMA), sob relatoria da senadora Leila Barros (PDT-DF). O projeto já passou pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no fim do ano passado.

A minuta do texto sugere que fiquem sujeitas ao mercado regulado as instalações que emitam acima de 25 mil toneladas de CO2 equivalente por ano – um recorte horizontal para as emissões, e não por setores. Na prática, a linha de corte atinge majoritariamente a indústria. Em peso, os segmentos de siderurgia, cimento, alumínio e indústria química, por exemplo.

Para o agronegócio, o teto vai afetar poucos grandes frigoríficos. Por outro lado, a avaliação é de que o setor vai se beneficiar com o mercado de carbono regulado pela possibilidade de vender créditos de CO2, por exemplo, a partir de unidades que trabalham com reflorestamento. •

Formato Governo avalia incluir proposta para mercado de carbono em texto que já tramita no Senado

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2023-08-19T07:00:00.0000000Z

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