O Estado de S. Paulo

Educação financeira deve começar já na primeira infância, dizem especialistas

Formação pode ter início com atividades lúdicas e práticas sobre a diferença entre necessidade e desejo e evoluir para outros conceitos ao longo do crescimento da criança

LEONARDO GUIMARÃES

Com a volta às aulas, um tema ganha destaque entre pais e educadores: a importância de ensinar educação financeira desde a infância. Especialistas ouvidos pelo E-Investidor afirmam que o aprendizado sobre dinheiro pode começar já aos três ou quatro anos, de forma lúdica e prática, e evoluir conforme a criança cresce.

A avaliação é de que ensinar conceitos como diferenciação entre necessidades e desejos, planejamento financeiro e até investimentos desde cedo pode formar adultos mais conscientes, que evitam endividamentos desnecessários e valorizam o hábito de poupar.

Além disso, o uso de estratégias como mesada educativa, até mesmo jogos de tabuleiro e simulações de compra e venda tornam o aprendizado mais envolvente e eficaz. “O ideal é que a formação seja gradual e prática, com conceitos básicos no início, e mais avançados conforme a criança cresce”, diz Mariana Conegero, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital.

Segundo ela, até os 6 anos de idade é importante ensinar a diferença entre necessidades e desejos, estimular a poupança com cofrinhos e usar brincadeiras como lojinhas para simular transações.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimento, ressalta que crianças nessa faixa de idade estão na chamada gênese mental, período em que são construídas todas as características de comportamento, ética e moral da pessoa. “A partir do momento em que a pessoa consegue entender que, quanto mais juntar, mais ela vai ter, isso vai ajudar na consciência sobre o que é poupar”, defende o analista.

A partir dos 7 anos, indica Mariana, a mesada começa a ajudar no planejamento, com divisão entre gastar, poupar e doar, além de ensinar a comparar preços. Aos 11 anos, já é possível introduzir o conceito de orçamento, com registros de gastos e noções bancárias.

Aos 15 anos, entra a fase do cartão de crédito, impostos e investimentos. Mariana diz que nessa etapa também é válido incentivar a busca por uma renda própria, manter reserva de emergência e pensar em planejamento financeiro de longo prazo. “Uma boa educação financeira na infância impacta diretamente o comportamento financeiro na vida adulta, ajudando a desenvolver hábitos saudáveis, evitando problemas como endividamento excessivo”, diz a especialista.

Ainda na infância, é possível usar ferramentas lúdicas para tornar o processo de educação financeira mais envolvente. Um cofrinho tradicional pode ser substituído por potes ou

envelopes com objetivos diferentes: um para gastar, outro para poupar e um terceiro, por exemplo, para fazer doações. Jogos como Banco Imobiliário e Jogo da Vida também são úteis para ensinar conceitos li

Orientação precoce pode formar adultos mais conscientes e que valorizam hábito de poupar

gados ao mundo das finanças.

Vender doces ou outra atividade lúdica para ganhar dinheiro também estimula o empreendedorismo e a responsabilidade. “O segredo é fazer com que o aprendizado seja leve, divertido e prático, para que a criança absorva os conceitos naturalmente”, diz Mariana.

APLICATIVOS. Andressa Bergamo, planejadora financeira e sócia-fundadora da AVG Capital, lembra do jogo “Cashflow for Kids”, que pode ser usado para ensinar sobre um conceito mais avançado de fluxo de caixa. Ela cita também aplicativos voltados para a educação financeira infantil, como o PiggyBot, por meio do qual a criança pode aprender sobre poupança, planejamento e divisão do dinheiro de forma divertida. “Esses apps podem ser usados para visualizar metas financeiras de forma clara e até simular situações de compras”, diz.

Até mesmo uma ida ao supermercado pode ser uma oportunidade para ensinar aos filhos como lidar com o dinheiro de forma divertida. “Dar um valor fixo para a criança escolher o que comprar ajuda a desenvolver noções de prioridade e limite financeiro”, comenta Ângelo Belitardo Neto, da Hike Capital. Vincular a mesada ao desempenho escolar ou à leitura de livros também pode incentivar o aprendizado e a responsabilidade.

“Também é interessante estimular o uso do dinheiro para pagar pequenas despesas pessoais, como uma aula de futebol”, diz o especialista. Segundo ele, isso pode fazer com que a criança compreenda o valor do próprio esforço e a importância de administrar bem seus recursos.

Para Andressa, da AVG Capital, a educação financeira bem estruturada ajuda a criar um senso de controle sobre a vida financeira, promovendo uma sensação de segurança e autoestima ao dar o controle sobre o dinheiro. “Desde cedo, quem tem uma educação financeira sólida aprende não só a economizar, mas também a investir com prudência e a tomar decisões mais alinhadas com seus objetivos de longo prazo”, argumenta. •

E-INVESTIDOR

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2025-02-10T08:00:00.0000000Z

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