O Estado de S. Paulo

Prévia da inflação vai a 0,72% em julho e indica novo recorde

Além do peso da energia, especialistas chamam atenção para os serviços; mercado já vê alta maior para os juros

/ VINICIUS NEDER, THAÍS BARCELLOS, CÍCERO COTRIM e GUILHERME BIANCHINI

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA15), uma prévia do indicador oficial de inflação, avançou 0,72% em julho, maior variação para o mês desde 2004, informou, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 meses, a alta é de 8,59%.

Como esperado, a conta de luz, mais cara por causa da crise hídrica, foi a principal vilã, mas especialistas chamaram a atenção para a pressão dos serviços. Para analistas, o IPCA-15 de julho indica para uma inflação mais elevada e pode levar o Banco Central (BC) a elevar o ritmo de alta na taxa básica de juros (Selic, hoje em 4,25%).

Segundo o economista Leonardo França Costa, do ASA Investments, em meio ao avançoda vacinação contra a covid-19, era esperada a recomposição dos preços de serviços, mas havia dúvida se esse movimento ocorreria em um momento em que os bens industriais, pressionados pelo dólar e pelo encarecimento de insumos, passariam por um alívio.

“O que o IPCA-15 (de julho) mostrou é que vai ser junto. Foi horroroso”, diz França Costa, acrescentando que a projeção do banco para o IPCA deste ano, de 6,20%, tem viés de alta.

O IBGE não calcula um agregado dos preços de serviços no IPCA-15 – apenas nas leituras dos meses fechados no IPCA –, mas, nas contas do Banco BV, eles ficaram 0,71% mais caros em julho ante 0,30% em junho.

Para Raphael Rodrigues, economista do Banco BV, parece que os problemas da cadeia industrial – como a falta e o encarecimento de insumos – deverão demorar mais a se resolver do que a normalização do setor de serviços.

“Isso é especialmente relevante porque são coisas estruturais, ao contrário de commodities ou de alimentação, que dependem muito do clima. (Serviços e bens industriais) São preços estruturais que falam muito sobre o estado da economia, tanto que compõem o núcleo de inflação. São preços relevantes para a política monetária”, afirmou.

Desde que começou a subir a Selic, em março, o BC fez três altas de 0,75 ponto porcentual. Rodrigues ainda espera nova alta de 0,75 ponto na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em agosto, mas outros analistas já veem razões para uma elevação de 1,0 ponto.

“Realmente, deve ser 1,0 ponto. O IPCA de julho deve subir 0,90%”, disse França Costa, do ASA Investments.

Para João Leal, economista da gestora Rio Bravo, a alta na inflação de serviços seria o principal motivo para o Copom acelerar o ritmo de alta na Selic para 1,0 ponto na reunião de agosto. O economista João Fernandes, da gestora Quantitas, mantém a previsão de ajuste de 0,75 ponto nos juros, mas vê probabilidade entre 30% e 40% de um aperto mais forte pelo BC.

“O Copom vai olhar o IPCA15, porque tem um quadro qualitativo ruim, puxado por serviços, que é o componente mais importante para a política monetária”, disse Fernandes.

Na visão da economista do Banco Original Lisandra Barbero, a inflação mais pressionada em julho já estava no cenário do BC. Ela mantém a expectativa de mais uma alta de 0,75 ponto na Selic em agosto.

A energia elétrica ficou 4,79% mais cara, contribuindo com 0,21 ponto da alta de 0,72% no agregado. A gasolina subiu 0,50% em julho e acumula alta de 40,32% em 12 meses. As passagens aéreas ficaram 35,64% mais caras, ante a queda de 5,63% registrada na leitura de junho. Já os preços da alimentação subiram 0,49%, com destaque para o leite longa vida (4,09%), o frango em pedaços (3,09%), as carnes (1,74%) e o pão francês (1,81%). Alguns itens com deflação evitaram uma alta maior: permanecem em queda os preços da cebola (-15,94%), da batata-inglesa (14,77%), das frutas (-1,33%) e do arroz (-1,14%).

Economia

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2021-07-24T07:00:00.0000000Z

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