Geração Z e sua ideia própria de trabalho Horário fixo não atrai, avisa jovem executivo
Executivo de 26 anos afirma que ‘mostrar serviço’ deve se traduzir em entrega de qualidade Aos 26 anos, é CEO da fintech NG.CASH, que oferece produtos financeiros como investimento em criptomoedas
JAYANNE RODRIGUES
No escritório da NG.CASH, os funcionários não precisam seguir horários rígidos, e os códigos de vestimentas não existem. A cultura organizacional mais flexível é reflexo da gestão de uma liderança que representa a geração Z (pessoas nascidas entre 1994 e 2010). Aos 26 anos, Mario Augusto Sá é CEO da fintech focada na geração que está entrando no mercado de trabalho e questiona estruturas hierárquicas e modelos tradicionais.
O executivo é um típico nativo digital. Hoje, a NG.CASH, fundada durante a pandemia, oferece soluções como cartão de crédito pré-pago, Pix e investimentos em criptomoedas. Com um escritório em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, Sá enfatiza que não exige a presença física dos funcionários nem monitora os horários de entrada e saída da equipe.
O espaço funciona mais como uma base da empresa. O foco é nas entregas. Embora seja um representante da geração Z, o CEO valoriza a sinergia entre diferentes gerações para construir equipes bem-sucedidas. Mas adianta que quem gosta de seguir dress code, horário comercial e “mostrar serviço” pode ter dificuldade em se adaptar ao ambiente mais flexível da NG.CASH.
Como o fato de ser uma pessoa da geração Z influencia o seu estilo de liderança? Gosto da geração Z, nasci em 1997. A maior parte do time é da geração Z (são quase 100 funcionários, sendo 51% da gen Z). Também temos pessoas mais velhas e de outras gerações, incluindo o CFO (Rodin Spielmann) e o CTO (Lucas Alves) da NG.CASH. Lidar com as pessoas da geração Z é diferente. Medimos se a entrega tem qualidade e não ficamos microgerenciando as pessoas, acreditamos nelas e olhamos para os resultados. Essa geração também valoriza a liberdade de horários e está muito mais focada na entrega.
Existe uma percepção de que a geração Z tem preguiça de trabalhar, rompe hierarquias. Você considera avaliações justas?
São avaliações justas, mas isso não é nem um pouco ruim. Eles rompem hierarquias, mas aqui não tem uma hierarquia, alguém vai ter de vir aqui falar comigo para resolver um problema. Eles não gostam de trabalhar às 7h da manhã, batendo ponto e saindo às 18h. Às vezes querem trabalhar das 18h às 7h da manhã. Então, sim, se você for botar no modelo tradicional que a pessoa tem de chegar lá, bater o ponto e ir embora, eles não gostam. Mas não significa que eles não tenham entregas maravilhosas. Tem de ser diferente para funcionar com essa geração. Se colocar na mesma caixinha das gerações anteriores, não vai funcionar, vai dar atrito. Talvez funcione para alguns, mas a maioria vai trabalhar infeliz e não vai ter tanta satisfação quanto trabalhar em uma empresa que valoriza esse tipo de relação. Tem que ser diferente. Ficar sentado no escritório o dia inteiro não é mostrar serviço. Você mostra serviço com entrega de qualidade.
Você desejava o cargo de liderança?
Não, foi acontecendo naturalmente. Gosto de resolver problemas, é o que me motiva. O cargo de liderança acaba sendo um pouco disso. O que muita gente não gosta é o que me traz energia. Tenho muita energia para resolver grandes problemas. O cargo de liderança veio muito pelo que me dá satisfação no trabalho: apaziguar as coisas, botar todo mundo na mesma direção e resolver problemas. Isso casou muito bem.
Como CEO, de alguma forma, você consegue moldar o local de trabalho. Qual é o diferencial da sua gestão? Muita liberdade de tempo e de hora. Tem Dev (desenvolvedor de software) que passa a madrugada no escritório, outro chega às 18h e vai embora às 7h da manhã. Ele gosta, vem porque quer, se quisesse ficar em casa também poderia. Essa liberdade é muito importante, não tem regra de roupa, pode vir de bermuda. Por exemplo, meu sócio está usando bermuda e chinelo ali ( aponta para a sala ao lado durante a entrevista). Tem um bar no escritório, que usamos quando batemos uma meta ou quando alguém quer mesmo. É um ambiente descontraído com a seriedade das entregas, levamos muito a sério.
Quais são seus propósitos? Construir algo relevante e positivo para o mundo, atingir milhões de pessoas e trabalhar com algo que tenha felicidade em falar que estou fazendo. Não estou vendendo cigarro, nada contra quem faz, mas não gostaria. Também tem o aspecto pessoal, que essa geração valoriza muito. Então, ter saúde, viajar, valorizo muito minha vida pessoal e a maioria das pessoas que trabalham aqui, também. Sou faixa preta de judô, pratiquei minha vida inteira, hoje estou com menos tempo para praticar. Mas faço academia e caminhada.
É difícil equilibrar a rotina de CEO e a vida pessoal?
É muito difícil. Normalmente chego ao escritório depois do almoço. Trabalho a parte da manhã de casa, faço as primeiras reuniões, vou à academia, almoço em casa ou marco algum encontro corporativo com investidor/fornecedor, depois venho para o escritório e fico aqui até o período da noite. Não costumo vir cedo, gosto de começar meu dia em casa e depois venho para cá.
Como você enxerga a liderança do futuro?
A liderança do futuro tem de saber extrair o melhor das gerações em vez de querer implementar nelas o jeito deles de trabalhar. Como é que você se adapta às novas gerações para extrair o melhor delas em vez de querer moldá-las ao seu jeito? Se você exigir as mesmas coisas do passado, vai ter pessoas frustradas. •
“A liderança do futuro tem de saber extrair o melhor das gerações em vez de querer implementar nelas o jeito deles de trabalhar”
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