O Estado de S. Paulo

O Brasil que o Google vê

Pedro Doria E-mail: coluna@pedrodoria.com.br; Twitter: @pedrodoria JORNALISTA

Na última terça, executivos do Google no Brasil reuniram imprensa, sociedade civil, academia, gente de tecnologia em geral para um evento que realizam todo ano. Assim como fazem empresas digitais por todo o mundo, os responsáveis por cada área alternam-se no palco para falar dos planos nos próximos meses, a visão que o Google tem para suas atividades no País. O que possivelmente passou despercebido para muitos dos presentes é que, nas entrelinhas, estava ali também uma visão que pouco vemos de Brasil. Na plateia, não havia políticos. É uma pena. Esquerda e direita teriam muito a aprender.

Um dos planos anunciados é a criação de endereços numéricos, georreferenciados por mapas, para casas nas favelas brasileiras. Em nosso País tem mais gente com celular do que gente com endereço, e ter endereço quer dizer poder fazer buscas de preços mais baixos para comprar online. A empresa vai distribuir também bolsas de estudo para quem quiser dominar tecnologia, aprendendo no nível técnico profissões do século 21.

Há duas ideologias dominantes no Vale do Silício. Mark Zuckerberg, Elon Musk e investidores como Peter Thiel e Marc Andreessen representam um libertarismo cada vez mais hostil ao Estado, mais hobbesiano na sua visão de que tudo deveria poder para quem consegue. E existe ainda vivo o tradicional liberalismo hippie do norte da Califórnia, preocupado com inclusão social, sonhando um mundo sem fronteiras, e buscando tornar compatíveis capitalismo e civilidade. Mais Locke, menos Hobbes. Tim Cook, Bill Gates – a turma do Google.

O Google não está sendo bonzinho. Está criando mercado consumidor para seus produtos. Mas a ideologia conduz a ação. Quando olha para o Brasil, não vê só o andar de cima.

Por aqui, entre nós, a direita vai se tornando lentamente uma caricatura do pior de si mesma, aprovando mesmo que envergonhada a barbárie das incursões policiais nos morros e nas periferias. Enquanto isso, num preconceito quase infantil com o sistema capitalista, a esquerda se recusa a ver que, nas periferias, um dos sonhos vivos é de empreender. É montar um negócio, ser o próprio patrão, empregar gente. Tem um mar de startups pulsando para nascer no Brasil, precisando apenas de um empurrão. É o tipo da política pública quem nem nossa direita nem nossa esquerda enxergam.

A gente joga PIB fora com educação ruim e políticas de incentivos voltadas só pra quem já é rico. Por que é preciso uma multinacional para enxergar o evidente?

Por que é preciso uma multinacional para que possamos enxergar aquilo que é evidente?

ECONOMIA & NEGÓCIOS

pt-br

2022-06-17T07:00:00.0000000Z

2022-06-17T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/282050510730373

O Estado