O Estado de S. Paulo

Grupo canadense tem projeto de R$ 13,2 bi para potássio no AM

Brazil Potash já obteve licença para exploração de mina; previsão é de 2,2 milhões de toneladas anuais

IVO RIBEIRO

O grupo canadense Brazil Potash Corp. se prepara para iniciar a instalação de uma mina de extração e beneficiamento de potássio em Autazes, município amazonense a 113 km de Manaus, até meados de 2025. As reservas encontramse próximas do Rio Madeira, que será usado como rota de escoamento ao principal mercado brasileiro de consumo de fertilizantes, o Centro-Oeste.

O investimento previsto é de US$ 2,5 bilhões (equivalente a R$ 13,7 bilhões) e o projeto prevê capacidade anual de produção de 2,2 milhões de toneladas de cloreto de potássio. A previsão da empresa é iniciar a operação da mina em 2028, ou início de 2029. Do minério extraído do subsolo (a mina terá 800 metros de profundidade), a silvinita, 30% é composto de cloreto de potássio (KCL) e o restante (70%) é cloreto de sódio (NaCl), o sal de cozinha, separado na planta de beneficiamento.

A agricultura brasileira tem grande dependência de insumos importados para produção de fertilizantes – estima-se que cerca de 80% dos fertilizantes utilizados no País vêm de fora. E um dos principais itens dessa lista é o potássio, um dos três elementos para se obter o NPK – mistura de nitrogênio, fósforo e potássio –, que resulta no fertilizante propriamente dito.

Do volume total de potássio consumido no País, cerca de 95% vem do exterior – Canadá, Rússia, Belarus, Alemanha e Israel. No primeiro semestre foram importados 7 milhões de toneladas do mineral, projetando o consumo de ao menos 12 milhões de toneladas no ano.

Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), as reservas brasileiras de potássio estão localizadas nos Estados de Sergipe e Amazonas. Na Amazônia, a reserva em Autazes teria 800 milhões de toneladas. Com sua descoberta, em 2011, o Brasil se consolidou como local de uma das dez maiores reservas do mineral no mundo.

LICENÇAS. A Brazil Potash Corp. obteve em abril a licença do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão do governo estadual, para a instalação da mina. Porém, contou com a decisão, em segunda instância, do Tribunal Regional Federal da 1.ª região (TRF1), que derrubou um despacho da juíza Jaiza Fraxe que impedia o licenciamento ambiental sob alegação de que o Ipaam não teria competência para dar o aval, que seria prerrogativa do Ibama, um órgão federal.

O projeto também foi alvo de questionamento do Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM), que barrou a exploração da mina durante vários anos, pelo seu impacto ao meio ambiente e também às comunidades indígenas próximas à mina, principalmente o povo Mura, que tem 36 aldeias na área.

Adriano Espeschit, CEO da subsidiária Brasil Potássio, diz que essas pendências foram resolvidas. “No projeto apresentado ao órgão ambiental, há 333 condicionantes que temos de atender”, afirma, acrescentando que acordos também foram firmados com representantes dos Mura, que em assembleia no ano passado teriam aprovado a instalação da mina.

CONDIÇÕES. Juliano Valente, presidente do Ipaam, disse ao Estadão que cabe à Brasil Potássio, a partir de agora, com as licenças de instalação, cumprir todas as condicionantes durante a implantação do projeto para, então, poder receber a licença de operação. Segundo ele, o órgão ambiental fará o monitoramento nesse período.

De acordo com Espeschit, o projeto em Autazes é importante para o Brasil pois vai substituir quase 20% das importações de potássio. E lembra que somente as lavouras de grãos do Centro-Oeste consomem 5 milhões de toneladas de potássio por ano. O executivo contou ainda que a Brasil Potássio já tem acertado contrato de fornecimento de 500 mil toneladas anuais do mineral para o grupo Amaggi.

Segundo a empresa, já foram investidos no projeto US$ 230 milhões (R$ 1,26 bilhão) em pesquisas minerais na área (sondagens geológicas e análises sísmicas), estudos ambientais e de engenharia e aquisições de terras. O projeto da mina vai ocupar 9 hectares para instalação de dois poços de acesso às camadas de minério no subsolo; 350 hectares para as instalações de beneficiamento (a maior parte em áreas hoje usadas para pastagens de animais); e até 100 hectares para instalação do terminal privado às margens do Rio Urucurituba, próximo do Rio Madeira.

Uma boa parte do cloreto de sódio, explicou o executivo, inicialmente será empilhada a seco em áreas específicas próximas das instalações de beneficiamento. A ideia é, em alguns anos, quando frentes de lavras ficarem exauridas, usar o sal estocado para preencher as galerias/cavas. Já o cloreto de potássio granulado será transportado até o terminal portuário privado no Rio Madeira em caminhões por uma rodovia de 12 quilômetros que será revitalizada desde a mina. No local, será colocado em barcaças e subirá o rio. Outra alternativa é o escoamento pelo Rio Tapajós, até Miritituba, e de lá chegar à BR-163.

Importado Atualmente, 95% do potássio usado na produção de fertilizantes no País vem de fora

Em agosto, a empresa canadense entrou com pedido de oferta pública de ações (IPO) na Bolsa de Nova York (NYSE) a fim de levantar recursos financeiros para a etapa inicial do projeto de Autazes. Segundo informação do site especializado Reset, o objetivo é captar US$ 150 milhões (R$ 819 milhões) ainda este ano para dar suporte de capital à subsidiária Brasil Potássio.

Espeschit diz que até o final do ano serão iniciadas as obras ligadas à mina, como a perfuração dos dois poços (shafts) para acesso subterrâneo. Em 2025, o plano é avançar nas obras de terraplenagem e a seguir dar curso à implantação completa do projeto, que deverá durar de 36 a 42 meses. •

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