O Estado de S. Paulo

Executivos da varejista passaram a pressionar bancos a mudar registros

M.G. e C.E.V.

Depois da mudança de regras emitida pela CVM, em 2016, começaram a aparecer mais pedidos dos ex-executivos da Americanas para os bancos realizarem correções nas respostas que enviavam aos questionamentos da auditoria externa, que na época era feita pela KPMG. Em linhas gerais, os investigados buscavam convencer os funcionários dos bancos a consolidar, em suas respostas às auditorias, diversas operações numa mesma conta, sem especificar suas modalidades, e evitando ao máximo que as expressões “risco sacado” e confirming aparecessem.

Foram identificadas 22 respostas de instituições financeiras às cartas de pedidos de esclarecimentos de auditorias que tratavam da existência de saldo em aberto de operações de risco sacado, relatou o comitê independente. Após os questionamentos, nove instituições financeiras enviaram novas respostas para a KPMG, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2018, e para a PwC em dezembro de 2015 e de 2020.

‘AZEDOU MUITO’. O relatório ainda revela uma troca de mensagens, de fevereiro de 2017, entre os ex-executivos indicando que eles estavam com mais dificuldades para conseguir um acordo com o Itaú sobre as alterações que queriam nas cartas que seriam apresentadas à KPMG. Isso teria “azedado” as conversas com o banco, segundo já revelado pelo Estadão/Broadcast.

O presidente da Americanas na época, Miguel Gutierrez, chegou a fazer uma reunião para tratar o assunto e definir estratégias de como explicar à auditoria as respostas passadas pelo Itaú. “Vamos ter de olhar para todo esse português e palavras e montar o melhor discurso. Agora é a hora! Vamos com tudo. Itaú não é Santander. Assunto azedou muito. Podemos ter efeitos colaterais.”

Ao Estadão, o Itaú disse que sempre prestou todas as informações aos pedidos de esclarecimentos feitos pelas auditorias. Até setembro de 2017, a Americanas mantinha convênio para operações de risco sacado com o banco e, por meio desse convênio, as operações eram cotadas pela empresa e formalizadas, naquelas condições, pelos seus fornecedores. “Nesse contexto, todos os saldos eram reportados nas cartas, inclusive as enviadas em 2016 e 2017”, informa.

Alerta

Presidente da rede chegou a marcar reunião para definir como tratar da oposição de alguns bancos

ALERTA. O Itaú foi uma das instituições que, em janeiro de 2023, alertaram a CVM sobre operações suspeitas de vendas de ações da Americanas por ex-diretores da varejista ocorridas pouco antes da divulgação do rombo bilionário nas contas da empresa, segundo relatórios de investigação revelados pelo Estadão. •

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2024-10-10T07:00:00.0000000Z

2024-10-10T07:00:00.0000000Z

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