O Estado de S. Paulo

Fracassa leilão de petróleo que envolvia Fernando de Noronha

Mau momento. Com a venda de cinco dos 92 blocos ofertados, a Agência Nacional do Petróleo faturou ontem, no Rio, não mais que R$ 37 milhões, o menor volume de bônus desde 1993, pago por apenas duas empresas; órgão admite que já esperava o resultado

Fernanda Nunes / RIO

No pior resultado de todos os leilões de concessão de petróleo já realizados pela ANP, somente cinco de 92 blocos oferecidos foram arrematados ontem. A arrecadação para a União foi de R$ 37 milhões, a segunda mais baixa da história. Os riscos ambientais envolvendo duas das quatro bacias oferecidas contribuíram para o fracasso do leilão. As áreas da Bacia Potiguar foram alvo de crítica e de ações judiciais por estarem localizadas em cima da cadeia de montanhas submersas do Arquipélago de Fernando de Noronha.

DIRETOR-GERAL DA ANP

O governo amargou ontem o pior resultado de todos os leilões de concessão de petróleo já realizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A 17.ª rodada de licitações de áreas exploratórias foi a que vendeu menos blocos e a que teve a segunda pior arrecadação de bônus de assinatura para a União: R$ 37 milhões (superior apenas à realizada em 2003).

Somente cinco de 92 blocos oferecidos foram arrematados. O resultado só não foi pior porque a Shell colocou dinheiro em áreas da Bacia de Santos, onde já atua. Ainda assim, sem a concorrência da Petrobras ou de qualquer outra petrolífera, a empresa anglo-holandesa pagou o bônus mínimo, sem ágio.

“Só duas empresas participaram, num contexto de nove inscritas. É um resultado ruim”, avalia Anderson Dutra, sócio da consultoria KPMG. Entre especialistas, é consenso que as áreas oferecidas no leilão eram de risco e, por isso, menos atrativas. Além disso, a ANP sentiu a concorrência com a Petrobras, que está se desfazendo de campos de pós-sal. E ainda pesou o cenário turbulento da pandemia e da crise econômica.

Os riscos ambientais envolvendo duas das quatro bacias oferecidas – Potiguar e Pelotas – contribuíram para o fracasso do leilão. As áreas da Bacia Potiguar, em especial, foram alvo de

•Expectativa baixa

“As empresas definiram investimentos quando a crise era maior. Não havia expectativa de que os blocos fossem todos arrematados.” Rodolfo Saboia

de ações judiciais por estarem localizadas em cima da cadeia de montanhas submersas do arquipélago de Fernando de Noronha – e motivaram protesto na frente do hotel da Barra da Tijuca, no Rio, onde se realizou o leilão. “A relação entre custos e benefícios para prospectar petróleo nestas fronteiras geológicas se mostrou muito alta para as empresas”, avalia Henrique Jager, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás Natural (Ineep).

O especialista diz ainda que as áreas oferecidas na Bacia de Campos estão localizadas muito próximas de outras adquiridas pela Petrobras e pela Exxon em leilões passados. Se alguém se interessasse por elas, teria de negociar com as duas empresas possíveis acordos de compartilhamento de reservatório, uma medida conhecida na indústria de petróleo como unitização.

Seletividade. “Foi colocado um volume imenso de blocos numa conjuntura complexa, em que as empresas estão reorganizando seus portfólios de investimentos. Além disso, nos últimos anos as empresas realizaram amplos investimentos no Brasil e, agora, devem estar mais seletivas”, afirma Jager.

Para o diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, diante de um cenário desfavorável, o resultado foi o melhor possível. “As empresas definiram investimentos no ano anterior, quando a crise estava mais acentuada. Por isso, não havia expectativa de que todos os blocos pudessem ser arrematados”, afirmou. A tese é de que as petrolíferas tiveram de decidir se participariam do leilão ainda durante a pandemia, quando seus caixas estavam comprometidos. Além disso, acrescentou que essas empresas estão com projetos atrasados e, por isso, priorizando ativos que já têm em carteira.

Giovani Loss, sócio do escritório Mattos Filho e especialista em petróleo e gás, não acredita, no entanto, que a tendência seja de fracasso nos próximos leilões. Nova concorrência está marcada para 17 de dezembro, quando serão ofertados reservatórios de pré-sal excedentes a outros da Petrobras. Essa será a Segunda Rodada de Excedentes da Cessão Onerosa.

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2021-10-08T07:00:00.0000000Z

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