O Estado de S. Paulo

Não vai dar certo

José Roberto Mendonça de Barros j r . mendonca@ mbassoc i a d o s . c o m. b r ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS

Aavalanche de notícias ruins continua, sem qualquer indício de que vá parar logo. Na segunda semana de abril, o mercado de Treasures estressou, após um leilão com demanda fraca e boatos recorrentes de ordens de venda vindas da Ásia, um sinal de que a confiança nos papéis sempre considerados como livres de risco está sofrendo arranhões. Essa situação levou o presidente americano a adiar por noventa dias as chamadas tarifas recíprocas.

Poucos dias depois, foi a vez da liberação de importações vindas da China na área de telefones e outros eletrônicos, a chamada “emenda Apple”. Mas tudo isso em meio a ameaças de novas tarifas e outras retaliações.

A complicação, certamente não esperada por Trump, foi a decisão chinesa de enfrentar a guerra na linha de olho por olho, tanto na área tarifária quanto na comercial. O controle mais estrito nas exportações de terras raras e a suspensão das entregas de aviões da Boeing são bons exemplos.

Resta evidente que as ações chinesas já vinham sendo preparadas há muito tempo, e têm como base a segurança de que, por suas características, o país pode encarar os custos da guerra comercial por mais tempo que os

EUA, que já enfrentarão eleições legislativas logo adiante.

A insegurança e a volatilidade estão minando a confiança de países e agentes, afetando todos os mercados e implicando paralisia nos planos das em

Há uma percepção generalizada de que Donald Trump não sabe muito bem o que está fazendo

presas no curto prazo e nas decisões de investimento.

O comércio internacional está parando, o que se vê na vertiginosa queda de reservas de espaços nos navios de linha, especialmente na direção dos EUA.

Por essa razão, o Fed está correto ao adotar uma posição de cautela, esperando mais tempo para decidir os próximos passos da política monetária, o que provocou a ira de Trump, que não hesita em abrir mais uma linha de conflito que vai realimentar a incerteza. Continua muito difícil antever o fim da história. Mas parece seguro dizer que:

- O presidente americano faz apenas o que quer, seguindo seus instintos, improvisando muito;

- Há uma percepção generalizada de que Trump não sabe bem o que está fazendo;

- Volatilidade e incerteza estarão presentes por bastante tempo;

- O custo da perda de credibilidade do governo americano será enorme;

- Caminhamos para uma forte redução do comércio internacional;

- Nos EUA, a inflação subirá rapidamente e a atividade vai se contrair até, eventualmente, uma recessão.

Os mercados financeiros continuarão a refletir essas tendências. Muito susto pela frente.

ECONOMIA & NEGÓCIOS

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2025-04-20T07:00:00.0000000Z

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