Aumento dos juros futuros abre uma nova oportunidade para a renda fixa
No dia 1.º, o Tesouro IPCA+ era oferecido com uma taxa de 6,99% ao ano, além da inflação; na última quinta-feira, o Tesouro Prefixado 2027 bateu a taxa de 13,23% ao ano
LUÍZA LANZA
O estresse na curva de juros futuros do Brasil abriu uma oportunidade única para os investidores de renda fixa. Nas últimas semanas, o retorno oferecido pelos títulos do Tesouro Direto disparou, batendo as máximas do ano tanto nos ativos prefixados, quanto naqueles indexados à inflação. Agora, a missão é escolher entre o 13% ao ano ou o IPCA + 7%, dois níveis bastante relevantes de rentabilidade.
No dia 1.º, o Tesouro IPCA+ estava sendo oferecido com uma taxa de 6,99% ao ano, além da variação da inflação. Na última quinta-feira, o Tesouro Prefixado 2027 bateu a taxa de 13,23% ao ano. Os dois níveis de rendimento foram as máximas de 2024.
Oswaldo Meireles, planejador financeiro CFP e sócio da Eu me banco, explica que o avanço das taxas está diretamente ligado à insegurança do mercado em relação às contas públicas. Agentes econômicos cobram do Executivo uma contrapartida de corte de gastos para manter de pé as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal, em 2023.
É por isso que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros integrantes do governo vêm dando inúmeras declarações indicando que o Executivo prepara medidas para equilibrar as contas públicas. Enquanto a agenda de revisão fiscal é apenas uma expectativa, surgem no mercado todos os dias alguns sinais do que pode vir a ser anunciado; seja em relação a propostas, seja ao montante do pacote. As notícias repercutem no Ibovespa, no dólar e nos investimentos.
“Com o aumento de gastos do governo e a tentativa de ajuste apenas pelo lado da receita, é esperado que as metas apresentadas no arcabouço fiscal não serão entregues. A consequência é que as instituições, as empresas e os investidores cobram mais juros para investir no Brasil”, diz Meireles.
RETORNO. A contrapartida disso são as oportunidades de aumentar os retornos na renda fixa. Na visão de especialistas, tanto o IPCA + 7% quanto os 13% ao ano são opções atrativas e oferecem ao investidor um retorno raro de encontrar no mercado. Apesar de serem títulos de risco soberanos, emitidos pelo governo federal, as diferenças nos indexadores fazem um deles parecer a verdadeira oportunidade do momento.
IPCA+ é a grande oportunidade Quando os títulos do Tesouro indexados ao IPCA começaram a oferecer 6% de juro real ao ano, em meados de abril, período em que o governo mudou as metas fiscal para 2025, o nível de rentabilidade era considerado “insano” pelo mercado.
De lá para cá, porém , as taxas nunca caíram. A piora na percepção em relação ao quadro fiscal fez investidores cobrarem maior prêmio de risco nos títulos de dívida do governo e o Tesouro IPCA+ foi se aproximando aos poucos do 7% de juros real.
Esse nível de rentabilidade é bastante raro. Um levantamento da Quantum Finance mostra que, nos últimos 10 anos, o Tesouro IPCA+ 2029 nunca ultrapassou os 7% na ponta prefixada. O único dos 3 títulos IPCA+ oferecidos hoje no Tesouro Direto que já bateu esse nível foi o com vencimento em 2035 – ainda assim, a taxa de 7% só apareceu em 4,74% das sessões na década.
“É um patamar extremamente raro. A primeira vez que vimos níveis parecidos foi no ano do impeachment da Dilma, em 2016”, destaca Charo Alves especialista da Valor Investimentos. “Para o investidor que busca títulos mais conservadores, uma taxa acima de 6,7% é uma excelente oportunidade; são pouquíssimas classes de ativos que conseguem entregar uma rentabilidade tão atrativa.”
O IPCA+ é a grande oportunidade do momento também na visão de Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter. O entendimento é de que, com as taxas se aproximando de 7%, o investidor “compra tempo”, podendo dobrar o investimento em um período menor. A preferência é pelo IPCA+ 2045, que, além de apresentar um alto nível de retorno, tem uma volatilidade menor na marcação a mercado.
“Para investidores que não possuem um horizonte de investimentos tão longo ou têm receio de comprar um ativo com esse vencimento, o que recomendamos é a B29. O risco, no entanto, é, quando chegar a 2029, a taxa para reinvestir bem provavelmente não será mais alta ou igual às atuais”, destaca Winalda em relatório.
RISCOS. Os mais de 13% oferecidos pelo Tesouro Prefixado também representam um nível de retorno atrativo. Quem segurar o título até o vencimento leva o tão procurado 1% ao mês em um ativo de risco soberano. Mas é preciso aguentar as variações da marcação a mercado.
“Treze por cento ao ano também são uma excelente taxa, mas envolvem um risco superior. Se a Selic continuar subindo, esse título pode ficar defasado no mercado e ter uma marcação negativa”, destaca Charo Alves, da Valor.
O risco maior, neste caso, é de que o cenário macroeconômico piore muito e a curva de juros continue a subir, superando os 13% ao ano. Neste caso, o investidor estaria “travado” em uma taxa menor do que a negociada no mercado; se tentar vender as posições, será penalizado na marcação a mercado. •
E-INVESTIDOR
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2024-11-18T08:00:00.0000000Z
2024-11-18T08:00:00.0000000Z
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O Estado