O Estado de S. Paulo

Wärtsilä mira leilão no Brasil com 10 termoelétricas a gás

Há 34 anos no Brasil, empresa da Finlândia construiu 30 usinas no País com uma capacidade de gerar um total de 3 GW

GABRIEL VASCONCELOS

A estratégia de crescimento da fabricante finlandesa de motores a combustão Wärtsilä no Brasil passa pelo próximo leilão de reserva de capacidade, disse ao Estadão/Broadcast o presidente global da companhia, Anders Lindberg. A empresa está envolvida em 10 projetos de usinas termoelétricas a gás natural em desenvolvimento para disputar o certame, equipamentos de partida rápida com capacidade instalada entre 200 MW e 600 MW.

“No Brasil, o importante para nós no momento é o próximo leilão de capacidade, onde teremos boa oportunidade de fornecer para muitos dos projetos vencedores”, diz Lindberg. Ainda que o desempenho dos projetos na licitação dependa das propostas feitas pelas empresas assessoradas, ele define como “altas” as expectativas da fabricante.

Há 34 anos no Brasil, a Wärtsilä já construiu 30 usinas no País com uma capacidade total de 3 GW, mas nenhuma feita especificamente para reserva de capacidade, mercado que a empresa deseja disputar cada vez mais com projetos greenfield — em 2021, no primeiro leilão do tipo, quase 1GW dos 4,6GW contratados foram de usinas construídas no passado para geração permanente que tiveram contratos renovados sob o novo formato.

Baseada em números da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Wärtsilä estima que esse mercado flexível vai precisar de pelo menos 10 GW até o início da próxima década. Isso, diz Lindberg, vai exigir ao menos mais dois leilões, incluindo o processo em questão.

LEILÃO ATRASADO. Em viagem ao Brasil no fim de outubro, Anders Lindberg se reuniu com clientes e autoridades do setor elétrico a fim de se inteirar sobre o cenário: a incerteza segue sendo a data do certame, originalmente marcado para o fim de agosto deste ano e protelado há meses. Agora a expectativa de Lindberg é de que o leilão de capacidade aconteça no primeiro ou no segundo trimestres de 2025.

Ao Estadão/Broadcast, fontes com conhecimento do assunto disseram que toda a preparação técnica por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e de demais órgãos competentes já foi concluída e a definição de uma data está na mesa do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Presidente da subsidiária brasileira da Wärtsilä, Jorge Alcaide é mais enfático ao reclamar da falta de clareza com relação ao leilão. “Precisamos de uma definição clara sobre quando os certames vão acontecer, porque há um custo muito grande na preparação de projetos. Hoje é como comprar uma passagem de férias sem ter férias marcadas.”

Alcaide também cita incertezas de regras e preços mínimos, por exemplo, sobre a acomodação dos preços do gás flexível e outros aspectos ligados ao funcionamento das usinas. Espera-se que os termos do leilão imponham uma hora e 30 minutos de rampa de partida e oito horas de operação mínima. Em que pese o cenário, diz o executivo, o Brasil segue prioritário para a companhia, ao lado do mercado americano, onde a empresa concentra a maior parte do portfólio e mira, sobretudo, o mercado de térmicas flexíveis do Texas.

PROJETOS. A Wärtsilä não abre os clientes que assessora, mas detalha que, entre os 10 projetos em desenvolvimento, quatro deles estão no Sudeste, três estão no Nordeste, dois no Sul e um no Norte do País. Um deles, apurou o Estadão/Broadcast, é o projeto de expansão da termoelétrica Povoação, no norte do Espírito Santo, recentemente comprada do BTG pela Eneva.

Segundo Alcaide, o “número mágico” de capacidade para a Wärtsilä para esse leilão é de 250 MW, mas é possível ser competitivo entre 200 MW e 500 MW. Com a demanda crescente por energia flexível, diz ele, o tempo dos grandes projetos de geração contínua, na casa dos GW, está acabando.

“As plantas que já existem obviamente participarão do leilão e têm uma grande vantagem porque o projeto tem um custo menor, já planejaram a instalação e a operação. Mesmo que sejam atualizadas, isso ainda é menos custoso do que construir uma planta completamente nova”, diz o presidente global da Wärtsilä, Anders Lindberg. •

“As plantas que já existem têm uma grande vantagem porque o projeto tem um custo menor”

Anders Lindberg

Presidente global da Wärtsilä

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2024-11-18T08:00:00.0000000Z

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