O Estado de S. Paulo

PEC Kamikaze passa sem mudanças na Câmara e vai a promulgação

Emenda ‘Kamikaze’

Emenda confirmou decretação de estado de emergência para respaldar a concessão de benefícios a 3 meses das eleições. Medidas custarão R$ 41,2 bilhões.

Proposta que prevê estado de emergência para respaldar concessão de benefícios a três meses das eleições passa em 2.º turno na Câmara; medidas vão custar R$ 41,2 bi

Em uma vitória para o governo, a Câmara rejeitou sugestões da oposição, entre elas a de tornar permanente novo valor do Auxílio

A Câmara dos Deputados aprovou ontem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) “Kamikaze”, que turbina benefícios sociais a menos de três meses das eleições. Em votação em segundo turno, a proposta teve 469 votos a favor (308 eram necessários), 17 contra e 2 abstenções e agora vai à promulgação do Congresso.

Em uma vitória para o governo, a Câmara rejeitou as sugestões de mudança (destaques) feitas pela oposição. Por 345 votos a 143, os deputados rejeitaram o destaque do PT que propunha a retirada do estado de emergência, que blinda o presidente Jair Bolsonaro de punições da Lei Eleitoral. Isso porque a legislação proíbe a concessão de benesses às vésperas da eleição, exceto em casos de calamidade pública e emergência. As propostas poderiam limitar os efeitos eleitorais da PEC em favor do presidente.

Outra mudança rejeitada, por 344 votos a 149, foi a de tornar a parcela de R$ 600 do Auxílio Brasil permanente, proposta pelo PSOL. Assim, a parcela turbinada, que começa a ser paga em agosto, vale só até o final do ano.

A PEC, articulada pelo Palácio do Planalto e sua base governista no Congresso, aumenta o valor do Auxílio Brasil – sucessor do Bolsa Família – de R$ 400 para R$ 600 por mês, além de conceder bolsa-caminhoneiro de R$ 1 mil e bolsa-taxista de R$ 200 mensais até dezembro, entre outras medidas (ver quadro). Todas as medidas valem só até o fim deste ano.

FORA DO TETO DE GASTOS.

O valor total de aumento de despesas é calculado em R$ 41,25 bilhões aos cofres públicos, recurso que será contabilizado fora da regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo à inflação registrada no ano anterior.

Logo no início do dia, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que a sessão seria também virtual – permitindo que os deputados pudessem registrar presença de forma remota.

A manobra tinha o objetivo de garantir o quórum de deputados da base governista e impedir a oposição de emplacar mudanças no texto.

Na terça, durante a análise dos destaques após a aprovação da PEC em primeiro turno, Lira interrompeu a sessão pela instabilidade da conexão de internet na Câmara. Ele classificou o episódio como “grave” e “sem precedentes”. Ainda na noite de ontem, a pedido de Lira, técnicos da Polícia Federal foram ao Congresso investigar o ocorrido. A PF abriu um procedimento preliminar para apurar as falhas.

Segundo o presidente da Câmara, o representante de uma das empresas que operam o servidor de internet na Casa entrou em contato com ele, pediu desculpas pelo problema técnico e disse que não houve “boicote”.

Aprovada no Senado em 30 de junho, a PEC teve sua tramitação acelerada na Câmara por meio de manobras regimentais. O governo tem pressa para pagar as benesses, vistas pela campanha de Bolsonaro à reeleição como uma forma de alavancar sua popularidade. Hoje, o chefe do Executivo aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para garantir os recursos ao pagamento dos novos auxílios e da ampliação dos benefícios sociais já existentes, o governo terá de editar uma medida provisória com crédito extraordinário, recursos do Orçamento da União para despesas que ficam fora do teto de gastos. • COM BROADCAST

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2022-07-14T07:00:00.0000000Z

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