O Estado de S. Paulo

Os ganhos sociais do mercado de carbono

David Canassa Diretor da Reservas Votorantim

Oconceito de um mercado de créditos de carbono surgiu ainda nos anos 1990, com o Protocolo de Kyoto. O foco eram soluções puramente climáticas, mas logo se percebeu sua capacidade de gerar, de forma convergente, impactos sociais positivos. A partir do Acordo de Paris (2015), esses ganhos adicionais – hoje chamados cobenefícios – passaram a ser diretamente atrelados aos projetos de carbono através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização

das Nações Unidas.

O consenso sobre a importância dos cobenefícios nos projetos de carbono vem do amadurecimento da visão holística dos impactos das mudanças climáticas. Uma floresta, por exemplo, não é uma estrutura isolada, e, se os padrões climáticos mudam, ela perde biomassa. Isso se reflete em alterações nos regimes de chuva, volume de água das nascentes e comportamento dos animais. Em comunidades próximas, representa pesca escassa, falta de mobilidade fluvial, má colheita e surgimento de pragas.

Por outro lado, projetos de carbono ligados à conservação e restauração florestal promovem melhora na qualidade do ar, segurança alimentar,

Ao incorporar cobenefícios, cria-se um ciclo virtuoso no qual natureza e pessoas prosperam juntas

saúde, geração de emprego e renda e amortecimento de eventos climáticos extremos. A certificadora Gold Standard

calcula que projetos que envolvem stakeholders locais, com ganhos além do clima, podem gerar o valor compartilhado na casa dos bilhões de dólares.

No Brasil, a legislação de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) evidencia a relevância dos cobenefícios para as diferentes iniciativas, inclusive de carbono. A inclusão de comunidades nos projetos ganha camadas adicionais num país com mais de 500 milhões de hectares de florestas nativas.

Comunidades integradas a projetos potencializam os esforços de conservação, já que o conhecimento local é incorporado aos planos de gestão e a experiência técnica e científica é compartilhada de volta, gerando ganhos (não apenas financeiros) superiores a qualquer alternativa que cause degradação. Surgem, então, cadeias produtivas inclusivas e novos mercados de produtos da floresta.

Para os negócios, a consultoria McKinsey afirma que projetos com cobenefícios são mais atraentes por estarem alinhados às crescentes demandas das empresas por impactos sociais, além dos ambientais.

Ao incorporar cobenefícios a projetos de carbono, é possível unir o combate às mudanças climáticas à promoção de justiça social e desenvolvimento econômico em regiões vulneráveis. Cria-se um ciclo virtuosono qual natureza e pessoas prosperam juntas. •

ECONOMIA & NEGÓCIOS

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2024-10-09T07:00:00.0000000Z

2024-10-09T07:00:00.0000000Z

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