O Estado de S. Paulo

Habitação popular.

Mudanças feitas pelo governo impulsionam as vendas e as incorporadoras do setor têm ganhos de receitas e margens

CIRCE BONATELLI

Minha Casa, Minha Vida vive ‘fase de ouro’ e o lucro das construtoras do setor cresce 143%

As incorporadoras que atuam no Minha Casa Minha Vida (MCMV) tiveram resultados bastante positivos no terceiro trimestre, confirmando o melhor momento do programa habitacional desde a sua criação, há 15 anos.

Os balanços das empresas que atuam no segmento foram marcados pelo crescimento das receitas e dos lucros, resultados impulsionados pelo avanço na velocidade de vendas dos imóveis, alta de preços e expansão das margens – cenário que deve se estender por mais alguns trimestres, de acordo com analistas.

De acordo com levantamento realizado pelo Estadão/Broadcast com os números das cinco incorporadoras do segmento com ações na Bolsa de Valores – Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano e Tenda – a receita líquida consolidada dessas empresas totalizou R$ 6 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 31% em relação ao mesmo período de 2023. Já o lucro líquido consolidado alcançou R$ 539 milhões, salto de 143% na mesma base de comparação anual.

O aumento dos lucros em um ritmo maior que o das receitas se deve à diluição das despesas administrativas e comerciais, com melhora das margens de lucro, segundo as empresas. “Foi mais uma boa temporada para as empresas do setor imobiliário de baixa renda. As empresas estão em um momento muito positivo em termos de reconhecimento de receita e crescimento da rentabilidade”, diz a analista de construção civil do Santander, Fanny Oreng.

PREÇOS DE VENDA. A razão para o bom desempenho se deve aos ajustes promovidos pelo governo no programa MCMV, que ampliaram o poder de compra da população, facilitando as vendas . “Isso mostra que as condições do programa continuam muito favoráveis”, diz a analista.

Para Fanny, os próximos trimestres continuarão sendo bons para as empresas, com espaço para subir mais um pouco os preços de venda e preservar as margens. Por outro lado, há uma preocupação crescente com o aumento nos custos de materiais e mão de obra, uma vez que a inflação setorial já superou a média da inflação geral. “O comportamento dos custos é um ponto de atenção. Muitas empresas operam com gordura no orçamento das obras, mas isso precisa ser acompanhado.”

O analista de construção do Citi, André Mazini, concorda que o avanço da inflação acende uma luz amarela no setor. Deve-se lembrar que, no MCMV, os clientes são repassados para o financiamento bancário logo após a compra do imóvel na planta, e não só após na entrega das chaves. Dessa forma, as empresas não recebem parcelas mensais reajustadas pela inflação.

“Isso é um ponto para se ficar super de olho. A última disparada da inflação (setorial ), durante a pandemia, teve um efeito dramático para as empresas, com estouro nos custos e perda de margem”, lembrou Mazini. “Desde então, houve um aprendizado. As empresas não têm só a preocupação em vender rápido, mas também em ajustar preço e preservar margens.”

Para o ano que vem, Mazini espera que as incorporadoras mantenham o ritmo de lançamentos e vendas em níveis altos. Um ponto positivo foi a melhora no orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o MCMV. O orçamento para 2025 ficou em R$ 121 bilhões, estável em relação a 2024. Entretanto, os recursos para financiamento de imóveis novos cresceram 12,5%, chegando a R$ 101 bilhões, enquanto para usados caiu 35%, para R$ 20 bilhões (o restante pertence a linhas fora do programa).●

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2024-12-02T08:00:00.0000000Z

2024-12-02T08:00:00.0000000Z

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