O Estado de S. Paulo

‘Traçou o caminho e definiu tudo o que veio depois’

ALVARO GRIBEL

“Ele parecia um repentista, era o download mais rápido, trabalhava com uma velocidade 5G, nunca vi nada igual”

Nizan Guanaes não tem dúvidas ao dimensionar a importância de Washington Olivetto para a publicidade brasileira. Segundo ele, o amigo que morreu na tarde de ontem representa para o segmento o que João Gilberto foi para a música popular brasileira, ou seja, o artista que definiu “o antes e o depois”, uma espécie de “Abraão”, pai de todos os publicitários brasileiros que vieram posteriormente. “Ele é praticamente Abraão, que teve um monte de filhos. Depois, são variações adequadas ao tempo. Mas a boa escola vem dele. Quando falam que ele foi um dos maiores publicitários brasileiro, não, está errado. Foi o maior publicitário brasileiro”, disse ele, emocionado, ao Estadão. A seguir, os principais trechos:

O que Washington Olivetto representou para o setor? Ele era o João Gilberto, mas feliz (risos). Se olhar os comerciais de antes, eram muito americanizados, não tão brasileiros. Mas ele vai lá, percebe isso e começa a fazer uma publicidade com a cara do Brasil. Tinha qualidade global, mas tinha a cara do brasileiro. Ele falava o tempo todo que tinha de fazer propaganda para vender, para construir uma marca e criar cultura popular. Esse era o tripé dele. Ele traçou uma nova linha, uma régua nova. Tudo que veio depois só existe porque ele falou: turma, é por aqui.

Quando a gente pensa no Olivetto, vem à cabeça os comerciais da Bombril, da

Cofap, do primeiro sutiã. O que mais o sr. destacaria? Tudo que ele fez. O trabalho dele de construção para o Itaú é incrível, o “Pode entrar que a casa é sua”. Depois ele sai do Itaú e faz o casal Unibanco. Depois o cachorrinho da Cofap. O tempo todo, você vai olhar e é gol, gol, gol. Tudo é maravilhoso.

Ele tinha essa paixão e amor pelo País.

Amor pelo País, pela cultura brasileira. Eu o conheci numa gafieira na Bahia. Dei muita sorte. Eu e todo mundo que iria ser publicitário, a torcida do Corinthians (não a do Flamengo,

já que falamos dele), queríamos ser Washington Olivetto. Eu vou para uma gafieira e lá está o meu ídolo. Eu fui tietar e falei que um dia queria trabalhar com ele. Ele fez cara de quem ouve isso a vida toda. Depois fui para o Rio, saindo de Salvador e aí ganhei o Profissionais do ano, da Rede Globo, ganhei tudo. E ele era do júri. E eu só ganhei tudo por causa dele. E ali começou a minha vida. Fui para São Paulo, mostrei o meu trabalho para um monte de gente, ninguém me deu atenção. E um dia recebi uma ligação, era ele que disse: ‘Aqui é o Washington Olivetto, você gostaria de trabalhar comigo?’ Eu falei, isso deve ser trote, mas graças a Deus não era.

Como era como chefe? Era alegre trabalhar com ele, mesmo nos minutos tensos. Uma vez, ele foi apresentar uma campanha ao Olavo Setúbal.

E o doutor Olavo, muito cortês, perguntou: ‘Washington, a campanha está boa?’ Ele respondeu: ‘Se a campanha não estivesse boa, eu teria vindo de tênis rosa (risos)’. Ele era maravilhoso, espirituoso.

E quem são os herdeiros dessa escola de criação? Todos nós. Ele é praticamente Abraão, que teve um monte de filhos. Depois, são variações adequadas ao tempo. Mas a boa escola vem dele. Quando falam que ele foi um dos maiores publicitários brasileiros, não, está errado. Foi o maior publicitário brasileiro.

Como era o processo de criação dele?

Ele parecia um repentista, era o download mais rápido, trabalhava com uma velocidade 5G, nunca vi nada igual. Em dois minutos, o que você estava tentando horas para parir, ele sentava e resolvia.l

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2024-10-14T07:00:00.0000000Z

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