O Estado de S. Paulo

Como uma escola pública do PA brilhou na prova de Redação

Professor de Marabá cria projeto focado na melhoria de textos a partir dos pontos fracos de cada estudante

ROBERTA PARAENSE COLABOROU GIOVANNA CASTRO

A concorrência é difícil para os interessados no curso de Medicina, mas Viviane Vitória, de 18 anos, já conquistou uma boa vantagem: 960 pontos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024.

A nota é para poucos candidatos, mas Viviane não vai comemorar o bom resultado sozinha. Na Escola Estadual Anísio Teixeira, em Marabá, sudeste do Pará, 85 alunos tiraram nota acima de 900 na redação do Enem (em 1.000 pontos possíveis). E ainda vão ganhar um prêmio de R$ 10 mil do governo estadual pelo desempenho.

Viviane conta que a preparação em sala de aula foi crucial. “Tudo isso aconteceu com a ajuda do professor Demétrius, que nos orientava nas etapas e nos incentivava. Não fiz cursinho. Me preparei com as aulas dele, uma vez por semana.”

Professor de Língua Portuguesa do colégio, Demétrius Araújo desenvolveu um projeto com foco na preparação para o Enem. Seu objetivo central foi mostrar aos alunos como melhorar as redações.

“Devido às circunstâncias, não são todos os professores de escola pública que fazem as correções dos textos, é um trabalho árduo. Tem alunos que chegam ao 3.º ano do ensino médio sem ter feito nenhum texto”, afirma Araújo. “Como eu não tinha a última aula, pedi à direção esse tempo para fazer essas correções e mostrar para os estudantes onde poderiam melhorar. E o resultado foi maravilhoso.”

Além do grupo com notas acima de 900, outros 150 alunos da mesma escola conquistaram nota superior a 800.

Quem também está radiante é Abraão Vieira, que tem 18 anos e obteve 940 pontos na Redação do Enem. “Eu treinava antes, mas minha nota era em média 820. Assumi o compromisso de fazer um texto por semana e pesquisava os temas na internet, mas nada foi muito eficiente”, diz. Depois, ele passou a fazer parte do projeto de redação.

“O professor corrigia, pontuava o que precisava melhorar. Aí começou a aumentar a nota”, explica o estudante, que ainda está decidindo se tenta cursos na área de Saúde e ou Engenharia. “Com essa nota, creio que consiga entrar na universidade.”

TRÊS PILARES. Segundo Araújo, o trabalho envolve três pilares: aprendizagem técnica, debate de temas e correção textual. “Já tem três anos que a gente faz isso. No primeiro, tivemos 34 notas acima de 900 pontos, no segundo, 64. Para o ano que vem, nossa meta é 100 notas acima de 900.”

Outra instituição paraense que está comemorando os resultados é a Escola Estadual Albanízia de Oliveira Lima, em

“Tem alunos que chegam ao 3.º ano do ensino médio sem ter feito nenhum texto”

Demétrius Araújo Professor “O professor pontuava o que precisava melhorar”

Abraão Vieira Estudante paraense

Belém. Uma foto dos alunos registrada na terça-feir capturou um momento repleto de orgulho e comemoração.

Glenda Siqueira, com nota 920, foi um dos 80 alunos da escola com pontuação acima de 900. “Quando vi minha nota na Redação, senti muita alegria e felicidade. Estudo aqui desde o 1.º ano do ensino médio e sempre participei de muitos projetos de estudos”, relembra.

Para incentivar os jovens, o governo do Pará criou o programa Bora Estudar, que prevê bonificação para o melhor aluno de cada turma e para todo aluno que tirar acima de 900 na Redação do Enem. Esses estudantes vão receber, cada um, R$ 10 mil do Estado.

O tema da redação em 2024 foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Em todo o País, 4.483 candidatos ficaram na faixa entre 950 e 1.000 pontos na redação, do total 3,178 milhões de participantes na última edição da prova. Somente 12 alcançaram a nota máxima – apenas um deles, de Minas Gerais, é aluno de escola pública.

O Pará, com 295 representantes, foi o 5.º colocado entre os Estados com mais alunos no topo, atrás de Ceará (631), Minas Gerais (590), Pernambuco (352) e São Paulo (322).

REDAÇÃO NOTA 1.000. Para Sabrina Ayumi Alves Shimizu, única estudante de São Paulo que conquistou a tão sonhada nota 1.000 na Redação, o segredo foi praticar semanalmente, usar referências conhecidas e fugir de modelos prontos. Moradora de Araçatuba, Sabrina tem 18 anos e acabou de completar o ensino médio na escola particular Thathi AZ.

Ela não fez curso preparatório para vestibular, mas tinha contato com o modelo de redação dissertativa, cobrado em processos seletivos para ensino superior, desde o início do ensino médio. “No primeiro ano, minha professora pedia uma redação a cada duas semanas, três semanas, ou por mês. No segundo, era uma redação a cada duas se

Para poucos Só 12 participantes do Enem em todo o País tiveram nota máxima em Redação

manas, de maneira fixa. Neste último ano, eu fazia uma por semana. Fiquei tão acostumada que, quando fui fazer o Enem de verdade, parecia só mais um simulado”, diz ela, que já havia prestado o Enem em 2022 e 2023, como treineira. Sabrina quer ser engenheira de produção e vai aplicar sua nota no Enem USP, modalidade de ingresso da Universidade de São Paulo. “Meu sonho é a Escola Politécnica.” •

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2025-01-17T08:00:00.0000000Z

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