O Estado de S. Paulo

Grandes siderúrgicas terão perdas com tarifa de 25% ao aço imposta por Trump

Entre as que mais devem perder, estão CSN, ArcelorMittal e Ternium; Brasil é o segundo maior exportador para os EUA

IVO RIBEIRO, COM NYT

Opresidente dos EUA, Donald Trump, assinou ontem duas ordens executivas que impõem tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio feitas pelo país. A medida, que retoma política do primeiro mandato de Trump de favorecer a indústria americana, terá forte impacto sobre grandes siderúrgicas brasileiras. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, atrás do Canadá. Entre as que mais devem perder, estão a ArcelorMittal e a Ternium, que produzem aço semiacabado, e a CSN, que vende produtos laminados. A Gerdau, que fabrica aço nos EUA, deve ser a única beneficiada, segundo analistas. No governo brasileiro, até a noite de ontem, a orientação era aguardar o detalhamento das medidas.

Como havia prometido na véspera, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou ontem duas ordens executivas impondo tarifas de 25% sobre todo o aço e o alumínio importados pelo país. Com a medida, Trump retoma uma política de seu primeiro mandato, que agradou aos fabricantes domésticos, mas prejudicou outras indústrias americanas e incitou disputas comerciais com aliados em várias frentes.

A medida atinge importantes parceiros comerciais dos EUA, inclusive o Brasil, que em 2024 foi o segundo maior fornecedor de aço para o mercado americano, atrás apenas do Canadá. Segundo a Casa Branca, não haverá exceções e, por ordem de Trump, os oficiais de alfândega vão aumentar “dramaticamente” a supervisão sobre as importações desses produtos.

As medidas favorecem os fabricantes americanos de aço, que se queixavam da competição de aço e alumínio “estrangeiros baratos”. Assim como fez no primeiro mandato de Trump, a indústria de metais dos EUA vinha fazendo lobby por proteção, e a administração Trump avalia que o setor siderúrgico é essencial para a segurança nacional dos EUA.

A medida de Trump terá forte impacto sobre as grandes siderúrgicas brasileiras.

Entre as fabricantes que mais devem perder com a barreira tarifária, estão a ArcelorMittal e a Ternium, produtoras de aço semiacabado (placas), e a CSN, que vende produtos laminados de alto valor agregado ao mercado americano.

Pelo sistema de tarifas que vigorava até agora – chamado Seção 232, de 2018, criada no primeiro governo de Trump –, o Brasil tem cota de exportação de 3,5 milhões de toneladas ao ano de placas isentas de impostos. Somando aços acabados, o total beira os 4 milhões de toneladas. Das quase 500 mil toneladas da cota de produtos acabados que cabem ao Brasil, quase metade se refere a material vendido pela CSN.

A dúvida entre os especialistas do setor ouvidos pelo Estadão é se as cotas permaneceriam e se a nova tarifa seria aplicada apenas sobre o excedente, o que amenizaria a situação.

Entre as siderúrgicas nacionais, a Gerdau, que já produz aço nos EUA, deve ser a única beneficiada, segundo os analistas.

No governo, a orientação até ontem à noite era a de aguardar os detalhes da nova medida, e entender se haverá algum espaço de negociação com os EUA. Essa foi a postura adotada, por exemplo, pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Indústria, Geraldo Alckmin.

A taxação sobre o aço foi mais uma das medidas na guerra comercial desencadeada por Trump, que já havia aprovado tarifa de 10% sobre produtos da China. Canadá e México também são alvo do presidente americano. Em meio a isso, alguns setores da indústria brasileira veem chances de aumentar negócios com outros mercados ( mais informações na pág. B3). •

Desde 2018, Brasil tem uma cota de 4 milhões de toneladas de aço que vende aos EUA sem tarifas

Toda a agressividade tarifária que não veio no dia da posse está aparecendo aos poucos, em menos de um mês depois que Donald Trump assumiu a Casa Branca. Já era esperado, de certa forma, que ele iria aplicar seu terrorismo tarifário aos poucos. Começou com as ameaças a Canadá e México; depois, efetivamente, deu sinais mais claros ao taxar em 10% os chineses e, agora, o anúncio de 25% para o aço e o alumínio.

Trump tinha uma visão mercantilista em seu primeiro mandato, e agora a isso se junta o modo imperialista de governo, que vê o Canadá como o 51.º Estado americano. Sem amarras e limites, muito menos assessoria econômica de qualidade, Trump seguirá impondo custos cada vez maiores a seu próprio país.

Como todos sabemos, menos Trump, quem pagará a conta do aumento tarifário serão os americanos, e isso implica alta temporária da inflação, que pode chegar a até 0,5 ponto porcentual neste ano. Além disso, as famílias americanas poderiam sofrer uma perda de renda disponível de US$ 1,2 mil neste ano, segundo o Peterson Institute, isso se ele não tarifar ainda mais e a depender das retaliações que ainda podem ocorrer.

O conjunto de políticas reforça a ideia de que será difícil os americanos escaparem de uma desaceleração mais grave neste ano. Trump conseguiu levar o Índice de Incerteza de Política Econômica para o terceiro pior nível dos últimos 40 anos, só perdendo para a recessão de 2008 e a pandemia. Não é pequeno o choque que Trump seguirá causando e o Brasil, que se esperava fosse ser atacado mais à frente, já deverá sofrer as consequências. A tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio pega em cheio nossos exportadores, que respondem pelo segundo maior nível de embarque para os EUA. Não será simples para os produtores de aço brasileiros acharem alternativas em um mundo em desaceleração.

O mercado chinês segue em crise no mercado imobiliário e a Europa, com seu principal motor em recessão, a Alemanha, dá sinais de um mundo que tende a diminuir a expansão do consumo de aço. Dada a pressão no mercado chinês, é quase certo que a importação de lá acabará por aumentar.

O fato é que o mundo sairá perdendo de uma guerra tarifária retaliatória e o Brasil, que já enfrenta suas próprias dificuldades, terá de lidar com mais uma crise. •

Como todos sabemos, menos Trump, quem pagará a conta do tarifaço serão os americanos

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2025-02-11T08:00:00.0000000Z

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