O Estado de S. Paulo

Ano começa com disparada de vendas de imóveis usados em São Paulo

Queda da taxa de juros e o temor de alta nos preços do mercado nos próximos anos faz consumidor correr para comprar moradia melhor agora

LUCAS AGRELA

As vendas de imóveis usados em São Paulo tiveram crescimento expressivo no primeiro bimestre deste ano em relação a 2023. Levantamento feito pela plataforma de comercialização de imóveis Loft, com dados do IPTU da cidade, mostram que Vila Mariana, Itaquera e Jardim São Paulo lideraram o ranking de vendas na capital, com altas de 78%, 51% e 47%, respectivamente.

O estudo, feito com exclusividade para o Estadão, mostra ainda que, em número de vendas, a liderança ficou com Vila Andrade (245), seguida de Bela Vista (205) e Tatuapé (201). Empresas como Cyrela, Plano&Plano, MRV, Cury e Tenda têm projetos de novos apartamentos nesses bairros.

Para o especialista em dados da Loft, Fábio Takahashi, o aumento das vendas nessas regiões da capital paulista é reflexo de movimentos no cenário macroeconômico do País, embora os bancos ainda não tenham reduzido de forma significativa as taxas de financiamento para moradias. “Os dados confirmam esse movimento de aquecimento do mercado imobiliário iniciado com a queda da taxa de juros”, diz.

Outro fator que motiva a compra de imóveis neste começo de ano, especialmente os menores, segundo Takahashi, é a expectativa de alta de preços ao fim do ciclo de queda da taxa Selic. De acordo com o Relatório Focus do Banco Central, a Selic deve chegar a 9% ao fim deste ano, indo a 8,5% em 2025, patamar a ser mantido até 2027.

BUSCA DE LIQUIDEZ.

Já o IGP-M, índice usado para reajuste de contratos de aluguéis, a estimativa para 2024 é de alta de 2%; e para 2025, 3,65%. A alta modesta prevista é um dos fatores que levam proprietários a colocarem seus imóveis de aluguel à venda em busca de liquidez, fomentando o mercado de usados.

Com os juros em queda, o mercado imobiliário tende a se beneficiar, tanto pela redução no custo dos financiamentos quanto pelo efeito psicológico do consumidor ver o dinheiro aplicado rendendo menos. “Ainda é um momento interessante para financiamento e pode melhorar ao longo do ano se tivermos redução dos juros como o mercado espera”, diz o diretor do banco Inter Flávio Ramos Queijo.

O gerente-geral de negócios da Cyrela, Alexandre Dentes, diz que a Vila Mariana é um dos bairros para onde as pessoas mais se mudam, o que leva a região a ter estoque baixo. Ou seja, tudo que é lançado é rapidamente vendido. Com isso, o mercado de usados também tem forte demanda. “O motivo da demanda na região é a sua localização estratégica. A Vila Mariana é a arquibancada do parque do Ibirapuera. Todo paulistano quer estar perto do trabalho e ter um pouco de prazer indo ao parque, e a Vila Mariana oferece as duas coisas”, diz Dentes.

Outra região com bastante demandada é Itaquera. A podóloga Nara Helen conta que tinha um imóvel localizado próximo ao Parque do Carmo, comprado em 2017 por R$ 216 mil. Em pouco mais de um mês, após anunciar numa imobiliária local, foi vendido por R$ 255 mil. Para efeito de comparação, o tempo médio de venda de um imóvel é de 16 meses, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias. “Eu pensei que fosse demorar mais tempo, porque não é algo barato, como uma televisão. Era uma venda de mais de R$ 200 mil”, diz Nara.

Segundo dados da Rede Lopes, que tem cerca de 40 imobiliárias na capital paulista, o mercado de imóveis usados na cidade teve crescimento significativo entre janeiro e março de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Na zona sul da cidade, os principais destaques foram os bairros Vila Olímpia, Moema, Chácara Santo Antônio e Santo Amaro, onde os números de transações mais do que dobraram em relação ao mesmo período de 2023.

Na zona norte, bairros como Casa Verde, Vila Guilherme e Tucuruvi tiveram alta expressiva nas vendas de imóveis usados, de mais de 30% nas transações. Na zona oeste, os bairros Jardim América, Pinheiros, Itaim Bibi e Lapa também tiveram aumento significativo nas vendas de usados. “Há um déficit não só de moradias, mas de qualidade habitacional. Pelo preço médio, nesses bairros, as compras são um upgrade”, diz o diretor da Rede Lopes, Matheus de Souza Fabricio. •

Em bairros da zona norte, como Casa Verde e Tucuruvi, as vendas cresceram mais de 30%

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2024-04-16T07:00:00.0000000Z

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