O Estado de S. Paulo

‘Liberation Day’: oportunidades para a agricultura brasileira

Eduardo Martins, do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas)

Reginaldo Minaré, da Associação Brasileira de Bioinsumos (Abbins)

Frederico Bernardes, da Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais (Abrefen)

Paulo Romano, do Instituto Fórum do Futuro (IFF)

OLiberation Day de Trump pode ser interpretado não apenas como uma medida protecionista, mas como um sinal do esgotamento de um modelo global baseado na dependência de insumos centralizados e comércio linear de commodities. Indica uma oportunidade para o Brasil acelerar a transição para uma agricultura regenerativa e soberana.

Nossa dependência de insumos importados é estrutural e conhecida. Um novo ciclo de imprevisibilidade nos custos de fertilizantes sintéticos e defensivos químicos, que se soma a outros, como a covid-19 e o conflito Rússia-Ucrânia, amplia a urgência de termos uma produção doméstica de insumos. Entre 2020 e 2022, o cloreto de potássio passou de US$ 250 para US$ 520 por tonelada; a ureia chegou a US$ 700/t, e o glifosato ultrapassou os US$ 9/kg, dobrando seu preço. Os dados demonstram a fragilidade da estratégia produtiva excessivamente dependente. O Brasil construiu os pilares regulatórios e tecnológicos necessários para uma substituição sustentável e competitiva de insumos. A Lei dos Bioinsumos (Lei n.º 15.070/2024), permite e incentiva a produção on farm de insumos biológicos. A regulamentação dos remineralizadores (Lei n.º 12.890/2013) legitima o uso de fontes minerais nacionais. Além disso, o Código Florestal (Lei n.º 12.651/2012) estabelece parâmetros claros para conservação e uso do solo.

Esses fundamentos criam uma oportunidade singular. A agricultura regenerativa prioriza a regeneração dos solos com o uso de bioinsumos, remineralizadores, plantas de cobertura e fertilizantes naturais. De acordo com o relatório da BCG (2024), a transição regenerativa em 40 milhões de hectares no Cerrado brasileiro pode gerar até R$ 32 bilhões por ano em valor adicional, com a possibilidade de sequestrar mais de 1,2 bilhão de toneladas de CO2 em três décadas.

Esse modelo responde às crises recorrentes de insumos e atua de forma preventiva contra a expansão desordenada da fronteira agrícola. Além disso, a substituição de importações por cadeias regionais regenerativas permite que os recursos destinados a compras externas circulem regionalmente. A estruturação de biofábricas locais, moagem de rochas silicáticas, polos de compostagem e redes de sementes adaptadas estimula a economia rural, gera empregos qualificados e fortalece a cooperação.

A agricultura tropical regenerativa é uma estratégia que une segurança alimentar, segurança climática e segurança econômica. O Brasil tem a base, a demanda e a oportunidade. O que está em jogo é como escolher crescer: reproduzindo vulnerabilidades ou regenerando sua vocação mais potente. •

A agricultura tropical regenerativa é uma estratégia que une segurança alimentar, segurança climática e segurança econômica

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2025-04-29T07:00:00.0000000Z

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