O Estado de S. Paulo

Cidades implantam rodízio de água; consumo de energia sobe

Grandes centros, como Curitiba, têm racionamento; demanda por eletricidade está em alta, apesar do risco de apagão

José Maria Tomazela SOROCABA E ITU (SP) COLABOROU JÚLIO CÉSAR LIMA, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

A falta de chuvas que deixou os reservatórios com níveis críticos e põe em risco o abastecimento de energia elétrica no País também faz com que pelo menos 53 cidades de cinco Estados racionem a distribuição de água, informa José Maria Tomazela. Na lista de cidades com rodízio no abastecimento, aparecem grandes centros urbanos, como

Curitiba. As bacias dos Rios Grande, Paraná, Paranapanema e Paraguai – que banham SP, PR, MG, MT e MS – estão sob os efeitos da estiagem severa. No período chuvoso de setembro de 2020 a março de 2021, o Brasil teve a menor entrada de água nos reservatórios em 9 décadas, mas o consumo de energia vai na direção contrária e já supera o nível pré-pandemia. Em junho, o consumo total do País subiu 12,5% ante o de igual período de 2020, puxado sobretudo pelo setor industrial, com expansão de 19,4%, informa Renée Pereira. O consumo residencial e no comércio também cresceu e a previsão é de que siga em alta nos próximos meses.

A seca histórica deste ano já faz pelo menos 53 municípios de cinco Estados racionarem água, afeta a navegação e ainda contribui para o desequilíbrio do ecossistema nas Regiões Sul, Sudeste e CentroOeste do País. Na lista de cidades com rodízio no abastecimento aparecem até centros urbanos grandes, como Curitiba e a região metropolitana.

As bacias dos Rios Grande, Paraná, Paranapanema e Paraguai – que banham São Paulo, Paraná, Minas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – estão sob os efeitos da estiagem severa. Segundo o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, por exemplo, o Brasil teve a menor entrada de água nos reservatórios dos últimos 91 anos no período chuvoso de setembro de 2020 a março deste ano.

No Paraná, além da capital, outras 28 cidades da região metropolitana estão com rodízio de 36 horas com água e outras 36 sem fornecimento. Manter serviços como a lavagem de pratos e a cozinha funcionando virou um desafio para Gustavo Paz, de 42 anos, dono de um bar em Fazenda Grande Rio, a 26 quilômetros de Curitiba.

“Neste período, raciono o máximo que consigo, haja vista que minha casa é um sobrado e o bar ocupa a parte de baixo. Tenho mil litros de água nas caixas d’água, mas às vezes não é suficiente pela forma com que elas foram distribuídas pelo imóvel”, diz. “Procuro equilibrar a limpeza de pratos, talheres, principalmente nos dias em que há fornecimento de água”, conta Paz, que já trocou copos de vidro pelos de plástico com a dificuldade de lavagem.

A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) disse que a medida foi necessária para afastar a possibilidade de colapso no sistema de abastecimento. Além do histórico de poucas chuvas, projeções meteorológicas indicam prolongamento da estiagem. Em julho, choveu 14,6 milímetros na região, diante da média histórica de 92,4 mm no mês. No interior, as cidades de Santo Antônio do Sudoeste e Pranchinha também racionam.

Desde o início de julho, os 170 mil moradores de Itu (SP) recebem água em dias alternados. Os mananciais operam com 32% da capacidade. A Companhia Ituana de Saneamento disse enfrentar a pior estiagem das últimas nove décadas. O mecânico Alexandre Rodrigues, de 46 anos, a mulher, Pâmela, e os filhos de 2 e 7 anos já se acostumaram com a falta de água na torneira, mesmo morando a 500 metros de uma das represas que abastecem Itu. “A gente se vira como pode, controla o

“A gente se vira como pode, controla o tempo no banho, espera juntar a roupa para lavar e, quando lava, recolhe a água da máquina para lavar a casa.”

Pâmela Rodrigues

tempo no banho, espera juntar a roupa para lavar e, quando lava, recolhe a água da máquina para lavar a casa”, conta ela, que mora há mais de 7 anos ali. Crises de abastecimento se repetem com frequência. “Virou uma coisa normal.”

Um plano de racionamento foi adotado também em Salto, na mesma região, desde 7 de julho. Os moradores recebem água 12 horas por dia. Em Bauru, 90 mil pessoas abastecidas pelo Rio Batalha também enfrentam rodízio. Em Rio Preto, 100 mil ficam sem água de 13 a 20 horas. A represa municipal, que produzia 450 litros por segundo, agora fornece 300. Quem reincidir no desperdício leva multa de R$ 2,2 mil. Em Santa Fé do Sul, uma das represas secou e a outra opera com meia capacidade.

A falta de chuvas já compromete o abastecimento em cidades do Pantanal sul-mato-grossense, como Coxim e Corumbá. As prefeituras usam bombas móveis para captação de água, por causa do afastamento das margens. A Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul) informou que há risco de intermitência em alguns sistemas de abastecimento operados pela companhia, como em 2020. Informou ainda ter contratado a perfuração de 13 poços em localidades que estão sujeitas a ficar sem água. Várzea Grande, vizinha de Cuiabá, abriu licitação para a contratar 40 caminhões-pipa.

Ameaça. A Grande Belo Horizonte também corre risco de desabastecimento. O Rio das Velhas, responsável por abastecer 60% da região, entrou em estado de alerta no dia 3, segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica. A Companhia de Saneamento de Minas (Copasa) informou ter reduzido a captação no rio em 500 litros por segundo e esse volume é compensado por outras fontes. A empresa, por ora, descarta racionamento, mas pede que a população economize. No interior, há racionamento em cidades como Campanha e São Gonçalo do Sapucaí. /

MORADORA DE ITU

Primeira Página

pt-br

2021-08-13T07:00:00.0000000Z

2021-08-13T07:00:00.0000000Z

https://digital.estadao.com.br/article/281921661112522

O Estado