Impressa em 3D com ajuda de robô, casa de 57 m² leva só 8 dias para ficar pronta
Mais sustentável, modelo criado em Minas quase não gera resíduos e não desperdiça materiais, dizem fabricantes
ALINE RESKALLA
Todo o material para erguer a edificação levou quatro dias para ser impresso; estruturas foram encaixadas como brinquedo de montar
Imprimir paredes em 3D, montar uma casa, depois desmontá-la e transportá-la de caminhão de um Estado para outro parece cena de animação. Mas, no início do mês, um centro de desenvolvimento tecnológico em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, possibilitou que isso realmente acontecesse.
Controlada por um software avançado e um robô, uma máquina 3D imprimiu, em quatro dias, toda a estrutura e os elementos necessários para a montagem de um imóvel de 57 m². Como se fosse um brinquedo de montar, a casa de dois quartos levou dois dias para ficar pronta. Mais dois foram dedicados a acabamentos e decorações.
Em oito dias, portanto, foi possível erguer uma pequena residência ao custo de R$ 120 mil, de forma limpa e sustentável, sem geração de resíduos e desperdício de materiais, segundo os fabricantes.
E segura: as paredes são impressas em camadas de microconcreto aditivado de alta resistência e conectadas por estruturas de aço.
EMISSÕES. Hoje, o setor de construção industrializada é responsável por 40% das emissões de gás carbônico no mundo e tem índice de desperdício de materiais calculado em
mais de 30%. Além disso, requer alto consumo de combustíveis, energia, cimento e água.
Desenvolvida pela Cosmos 3D, joint venture formada pela Katz Construções e a empresa espanhola IT3D, a tecnologia da casa impressa é mais sustentável. “Nosso modelo gera quase zero resíduo em comparação ao sistema convencional, que tem perda de 25% a 30%
dos materiais usados. A cada três casas construídas pelo método tradicional, uma é desperdiçada”, afirma o presidente do Grupo Katz, Daniel Katz.
Segundo o empresário, a meta da empresa é obter o balanço de carbono neutro para o modelo, e para isso contratou uma consultoria para fazer um inventário de carbono da parte de impressão e, assim, encontrar maneiras de reduzir ainda mais as emissões do processo.
Katz, que teve a ideia do projeto na pandemia e rodou o mundo até encontrar um parceiro na Espanha, enfatiza a importância do aspecto social da iniciativa, que permite construções mais rápidas e acessíveis. Assim, diz ele, pode ser mais uma ferramenta para ajudar a reduzir o déficit habitacional no Brasil, hoje estimado em cerca de 7 milhões de moradias. “O prazo de entrega, a precisão e a durabilidade das construções podem solucionar a questão habitacional no Brasil. Com a tecnologia, podemos fazer centenas de casas, habitações populares em prazo exíguo e com custo menor. Oferecemos redução de tempo, liberdade geométrica e qualidade superior”, defende Katz.
A casa construída em Minas Gerais já foi desmontada e transportada em um caminhão para a Bahia, onde será exposta em um projeto da empresa. Outro imóvel já foi impresso no mesmo local, em Nova Lima.
O PROCESSO. A impressora da Cosmos 3D possui tecnologia in-house, permitindo que o processo de confecção da edificação ocorra internamente, diminuindo custos e aumentando a velocidade de entrega dos projetos aos clientes.
O processo de impressão é conduzido por um software desenvolvido especialmente para a impressora. Composto pela impressora Cosmos X-I e uma estação integrada de mistura/bombeamento, o sistema de construção Cosmos X-I deposita o material em camadas sucessivas para formar o objeto desejado, solidificando-o ou curando-o à medida que cada camada é depositada.
“Queremos não apenas ser uma construtora, mas, sim, prover tecnologia para construtoras e incorporadoras, visando fazer parte da solução para os desafios habitacionais”, afirma Daniel Katz.
TENDÊNCIA. Para a arquiteta Cícera Gontijo, a tecnologia 3D na construção civil é uma grande tendência, embora o mercado brasileiro, segundo ela, seja um pouco conservador. “Nos Estados Unidos, a construção modular é bem avançada, mas tem crescido por aqui também. Acredito que, com o tempo, a impressão 3D vai agradar mais ao brasileiro até por sua rigidez. E a redução de tempo é fantástica”, afirma Cícera.
Vice-presidente de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Dionyzio Klavdianos avalia o uso da impressão 3D no setor como uma “ideia disruptiva e interessante”, mas que ainda é incipiente e precisa evoluir e ganhar escala para ser considerada alternativa contra o déficit habitacional.
Mudança de Estado Casa montada em Minas foi desmontada e será levada de caminhão até a Bahia para ser exposta
De acordo com ele, a impressão 3D, na indústria de forma geral, por enquanto está restrita à produção dos componentes. “A CBIC apoia bastante esse movimento. Temos o projeto 2030, cujo objetivo é levar a construção industrializada a um novo patamar no País.”
Klavdianos diz acreditar que a construção como linha de montagem já domina segmentos como os de habitação social, por ser uma alternativa econômica, eficiente e rápida, além de sustentável. “O projeto Minha Casa, Minha Vida é uma realidade por conta de sistemas mais industrializados”, diz.
“Na crise da pandemia, foram construídas unidades de saúde bem rápido graças a esses sistemas, a construção industrializada em aço e madeira, dando boa vazão a uma demanda urgente.” •
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