Canadá reage e também taxa EUA em 25%; China anuncia ação na OMC
Países reagem ao tarifaço de Trump anunciado no sábado; UE, que pode ser alvo de americano, promete retaliação
NYT, WP, CAROLINE ARAGAKI E GABRIEL AZEVEDO
Canadá, México e China reagiram ao tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A União Europeia disse que responderá “com firmeza” se o americano confirmar ameaças de taxar o bloco.
“Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!). Mas valerá a pena ”
Donald Trump, em post em rede
Canadá, México e China reagiram ontem ao tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no sábado. O governo canadense deu a resposta mais incisiva e prometeu que irá devolver a tarifa de 25% determinada pelos EUA. Os chineses – taxados em 10% – afirmaram que acionarão a Organização Mundial do Comércio (OMC). Já o governo mexicano prometeu retaliações “tarifárias e não tarifárias”, sem detalhar os próximos passos. Sem ser taxada, a União Europeia (UE) também prometeu retaliar caso seja alvo do americano.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que vai tarifar em 25% os US$ 155 bilhões (por volta de R$ 906 bilhões) em importações dos EUA, incluindo bebidas alcoólicas e frutas. “As ações da Casa Branca nos dividiram, em vez de nos unir”, disse Trudeau durante o anúncio da retaliação ainda no sábado à noite.
“Esta é uma escolha que, sim, prejudicará os canadenses, mas, além disso, terá consequências reais para vocês, o povo americano”, disse Trudeau em discurso televisionado de Ottawa. “Como eu sempre disse, tarifas contra o Canadá colocarão seus empregos em risco, potencialmente fechando fábricas de montagem de automóveis americanas e outras instalações.”
Na província canadense da
Colúmbia Britânica, o primeiro-ministro local, David Eby, pediu aos moradores que boicotassem bebidas alcoólicas de estados republicanos dos EUA e determinou a retirada de marcas americanas das prateleiras das lojas do governo.
Trump não pareceu comovido. Em uma postagem em sua rede social, a Truth Social, ele disse ontem que o país vizinho deveria se tornar o “precioso 51.º Estado” americano. Segundo ele, os EUA pagam “centenas de bilhões de dólares para subsidiar o Canadá” e que “sem esse subsídio massivo, o Canadá deixaria de existir como um país viável”.
O americano disse ainda que os EUA não precisam de nada que o vizinho tenha. “Temos energia ilimitada, deveríamos fazer nossos próprios carros, e temos mais madeira do que jamais poderemos usar.”
Os decretos dos EUA com as taxações preveem medidas de contrarretaliação, ou seja, caso os países atingidos pelo tarifaço respondessem com novas taxas, as alíquotas poderiam ficar maiores. As medidas e as contraofensivas vão valer a partir de amanhã.
O republicano justificou o tarifaço alegando que México e Canadá não coíbem a entrada de fentanil e imigrantes ilegais nos EUA. No caso da China, a alegação é de que o país também não combate o tráfico do opioide, responsável por pelo menos 90 mil mortes por overdose nos EUA em 2024.
“MEDIDA JUDICIAL”. O Ministério do Comércio da China afirmou ontem que apresentará uma medida judicial contra os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) e “tomará medidas correspondentes para salvaguardar firmemente seus direitos e interesses”, sem dar mais detalhes.
Pequim disse que “o aumento unilateral de tarifas por parte dos Estados Unidos viola gravemente as regras da Organização Mundial do Comércio” e destacou estar “fortemente insatisfeita” com a decisão. Para a segunda maior economia do mundo, a medida de aplicar tarifas por parte dos EUA “não só é ineficaz na resolução dos seus próprios problemas, mas também prejudica a cooperação econômica e comercial normal entre a China e os Estados Unidos”.
“A China espera que os Estados Unidos vejam e tratem o seu próprio fentanil e outras questões de forma objetiva e racional, em vez de ameaçarem outros países com tarifas. A China insta os Estados Unidos a corrigirem as suas práticas erradas, a encontrarem um meio caminho com a China, a enfrentarem os problemas de frente, a se envolverem num diálogo sincero, a reforçarem a cooperação e a gerirem as diferenças com base na igualdade, no benefício mútuo e no respeito mútuo”, disse o Ministério do Comércio da China, em nota.
Nos últimos anos, a China se tornou indiretamente mais dependente do mercado americano. As exportações chinesas aumentaram para países como México e Vietnã, que montam componentes do país em produtos acabados para reexportação para os Estados Unidos.
O superávit comercial da China – o valor pelo qual suas exportações excederam as importações – atingiu quase US$ 1 trilhão (R$ 5,83 trilhões) no ano passado.
CARTÉIS. Em um vídeo publicado ontem no X (ex-Twitter), a presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que revelaria os primeiros passos da reação ao tarifaço hoje. No sábado, ao justificar a medida, a Casa Branca disse que o governo mexicano é aliado dos cartéis de tráfico de drogas.
Claudia rebateu e disse que, se os EUA querem combater o narcotráfico, “não devem mirar no México, mas em seu próprio país, onde não fizeram nada para impedir a venda ilegal desta e de outras drogas”.
No vídeo, ela citou dados do Departamento de Justiça americano, que em 8 de janeiro reconheceu que 74% das armas utilizadas pelo crime organizado no México vêm ilegalmente da indústria militar dos EUA. Ela também destacou que seu governo apreendeu mais de 40 toneladas de drogas nos últimos quatro meses, sendo 20 milhões de doses de fentanil. “Rejeitamos categoricamente a calúnia que faz a Casa Branca contra o governo do México.” •
“Esta é uma escolha que, sim, prejudicará os canadenses, mas, além disso, terá consequências reais para vocês, o povo americano”
Justin Trudeau
Primeiro-ministro do Canadá
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