O Estado de S. Paulo

Fogo destrói parte do acervo da Cinemateca

Fogo consome 3 salas em galpão da zona oeste paulistana; origem pode estar em manutenção de ar-condicionado e PF vai apurar

SÃO PAULO E BRASÍLIA /JOÃO KER, JÚLIA MARQUES e LAURIBERTO POMPEU

Um incêndio atingiu o galpão que abriga parte do acervo da Cinemateca Brasileira, em SP. O fogo destruiu salas que abrigavam filmes históricos e material impresso. Funcionários alertavam para o risco de incêndio.

Um incêndio destruiu parte do acervo de um galpão da Cinemateca na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, na noite de ontem. Ao menos três salas do 1º andar – duas de filmes históricos e uma de material impresso e documentos – foram consumidas pelo fogo. Segundo o Corpo dos Bombeiros, as chamas começaram após manutenção de um ar-condicionado em uma sala da instituição, a mais antiga do tipo na área de cinema na América Latina. Não houve vítimas e as chamas foram controladas. O governo federal disse que pediu à Polícia Federal para apurar o caso.

Nos últimos anos, artistas e funcionários da Cinemateca têm alertado para a precariedade da estrutura, falta de investimentos, e risco de incêndio (leia mais nesta pág.). Ainda não há confirmação se o acervo queimado era formado por cópias ou por originais.

As chamas atingiram três salas de área entre 300m² e 400m²,. O andar térreo não foi afetado. “Estamos apurando o

• Crítica

“A segurança não se faz só com controle de temperatura e segurança. É feita pelo exame periódico desse acervo pelos técnicos.

E a Cinemateca está sem técnico nenhum.”

Carlos Augusto Calil CINEASTA

que foi queimado e o que foi preservado nessas três salas, mas provavelmente não foi preservado nada”, afirmou a capitão Karina Paula. A corporação ainda apurava ontem se o local tinha alvará de incêndio.

Conforme a Secretaria de Cultura do governo federal, o sistema de climatização havia passado por manutenção havia um mês. “Só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico”, declarou, em nota, a pasta.

Nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mário Frias, escreveu que a apuração da PF vai indicar se o incêndio foi criminoso ou não “Tenho compromisso com o acervo ali guardado, por isso mesmo quero entender o que aconteceu”, disse.

A Cinemateca tem a função de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro. É administrada pela Secretaria Nacional do Audiovisual, parte da Secretaria Especial de Cultura. Há dois anos, o contrato que a Associação Roquette Pinto (Acerp) mantinha com o Ministério da Educação para a gerência da instituição não foi renovado.

O governo federal se comprometeu com novo edital para a função, mas a promessa não saiu do papel. Em maio de 2020, ao demitir Regina Duarte do comando Secretaria Especial da Cultura, o presidente Jair Bolsonaro declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela iria para a instituição – ela não assumiu a função. Em agosto, Frias declarou que a Cinemateca estava “protegida”, em visita ao local

A sede da Cinemateca fica na Vila Clementino, na zona sul. O prédio no número 290 da rua Othão, na Vila Leopoldina, foi doado à Cinemateca em 2009, pela União. Com área total de 8.400 m², dos quais 6.356 são de área construída, passou a abrigar dois anos mais tarde as reservas específicas de guarda de acervos, áreas de processamento de acervos fílmicos e documentais, laboratório de impressão fotográfica digital e demais instalações administrativas, de apoio e serviços da instituição.

Reação. “Caso se confirme que o incêndio é fruto da falta de manutenção que nós e todo o setor audiovisual já tínhamos anunciado, vamos perceber que essa é mais uma ação de ataque à cultura e ao patrimônio cultural brasileiro por parte do governo federal, que tem linha ideológica completamente distanciada da cultura brasileira”, disse o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Yousseff.

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2021-07-30T07:00:00.0000000Z

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