O Estado de S. Paulo

Um pedido que não saiu como o esperado

Itália quis de volta base de estátua, mas alemães agora exigem retorno da obra

A decisão de um museu italiano de pedir de volta à Alemanha a base de uma escultura não teve o efeito esperado – os alemães não apenas se negaram a devolvê-la como, agora, exigem que a obra seja retornada ao acervo estatal de obras antigas do país.

A Discobolus Palombara é uma cópia romana do século 2.º de um original grego de bronze e está hoje no acervo do Museu Nacional Romano. Ela foi descoberta em escavações no século 18 e pesquisas posteriores mostraram que a base que sustenta a escultura foi feita no século 17.

A obra pertenceu a diferentes proprietários até o início do século 20. Em 1937, Adolf Hitler quis comprá-la, acreditando que a figura retratada simbolizava aquilo que definia como ideal da perfeição ariana. Havia, no entanto, um impedimento: por ter sido considerada patrimônio italiano, a peça não poderia ser vendida.

A negociação só foi concretizada um ano depois, por conta da intervenção do ditador italiano Benito Mussolini e de seu ministro de Relações Exteriores, Galeazzo Ciano – sob protestos do então ministro da Educação, Giuseppe Bottai, contrário à negociação.

Com o final da 2.ª Guerra, a escultura foi devolvida ao país como parte de um lote de obras de arte obtidas ilegalmente pelos nazistas. A base de mármore da estátua, porém, permaneceu na Alemanha. Foi ela que o Museu Romano requisitou às autoridades da Baviera, na Alemanha, onde ficam as Coleções Estatais de Antiguidades (Staatliche Antikensammlung).

Como resposta, os diretores do museu italiano receberam um comunicado no qual os representantes da coleção pediam a devolução do Discobolus Palombara, alegando que a escultura havia sido transportada ilegalmente para a Itália em 1948.

“Não posso abrir mão da reivindicação de restituição do Discobolo. A escultura foi comprada legalmente pelo Estado alemão”, escreveu Florian S. Knauss, diretor da Antikensammlung, em carta enviada ao museu italiano.

‘Discobolus Palombara’ era patrimônio italiano e só foi negociada em 1937 por ordem de Mussolini

O pedido não agradou ao ministro da Cultura da Itália, Gennaro Sangiuliano. Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, na sexta, dia 1.º, ele afirmou que o país se recusa a devolver a obra. “Eles terão de passar por cima do meu cadáver”, reforçou o ministro um dia depois, à TV Rai. Ele classificou de “inadmissível” o pedido alemão de devolução da obra. “Esta peça faz parte do nosso patrimônio nacional”, disse Sangiuliano à Rai.

O governo alemão não se pronunciou sobre o caso, mas a solução poderá ser mais simples do que parece se o que sugere o próprio Sangiuliano se confirmar: ele expressou dúvidas sobre se a ministra da Cultura alemã, Claudia Roth, estava ciente do pedido da Baviera, questionando, assim, seu caráter oficial. •

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2023-12-06T08:00:00.0000000Z

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