O Estado de S. Paulo

Região que mais cresce, Centro-Oeste não tem só o agro como atrativo

Setor de soja e gado também impulsiona outras áreas, como comércio; busca por melhor qualidade de vida é outro fator

MARCIO DOLZAN ANDREIA BAHIA JOSÉ MARIA TOMAZELA

Os dados iniciais do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anteontem, põem o Centro-Oeste como região com maior aumento proporcional de habitantes. A média anual foi de 1,2% ao ano, ante taxa nacional de 0,52%, a menor dos últimos 150 anos.

Por trás da alta está o avanço do agronegócio, um dos motores do PIB que resistiram aos sobressaltos da economia nacional na última década. Para além das cifras e da população, o protagonismo crescente do interior do País é cada vez mais evidente até no universo pop, com o sucesso da música sertaneja nos streamings e a frequência da região em novelas, a exemplo do remake de Pantanal (2022) e de Terra e Paixão (em exibição), ambas da TV Globo.

Filho de um assentado da reforma agrária, Gabriel França, de 21 anos, trocou o trabalho de tratorista em assentamentos do Pontal do Paranapanema, extremo oeste de São Paulo, por um emprego de operador de máquinas em cooperativa de Naviraí (MS). “Aprendi a dirigir trator no lote da minha família, em Marabá Paulista. Como o lote é pequeno, comecei a prestar serviços para outros assentados, mas ainda achei que era pouco.”

França fez cursos técnicos em Presidente Prudente e aprendeu a operar grandes máquinas agrícolas, incluindo colheitadeiras. Como sua região é mais voltada à pecuária, ele buscou emprego em empresas agrícolas do Estado vizinho. No fim de 2021, recebeu proposta da cooperativa e se mudou para Naviraí, que tem quase 50,5 mil habitantes, 8,7% a mais do que em 2020. “Atualmente trabalho com uma máquina que custa quase R$ 2 milhões”, diz ele.

“O agronegócio é o grande propulsor”, afirma Cleberson Ribeiro de Jesuz, professor de Geografia da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Mas não é o único, dizem os especialistas. O avanço do setor faz aumentar a oferta de emprego em outras áreas, como no funcionalismo público e no comércio local, por exemplo. Além disso, existe uma busca por mais estrutura e qualidade de vida.

“Há também a questão dos serviços que essas cidades oferecem. As pessoas saem das periferias das grandes cidades atraídas por melhor qualidade de vida”, diz Ana Maria Nogales Vasconcelos, do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília (UnB).

Abadia de Goiás, por exemplo, ocupa o topo da lista de cidades com maior aumento de domicílios – quase triplicou na comparação com o Censo 2010 –, além de ter registrado o segundo maior crescimento populacional do País, só atrás de Canaã dos Carajás (PA).

Abadia é um exemplo de cidade que não tem o agro como atrativo. O setor agrícola, aliás, representa 5% do orçamento do município. Quase metade da arrecadação vem de serviços, seguida da indústria metalmecânica.

Já Querência (MT) viu sua população dobrar entre 2010 e o ano passado – de 13 mil para 26 mil habitantes – e é um símbolo da força dos grãos na mudança da população. Começou com a monocultura de soja, depois chegou a produção de milho e, agora, investe em projetos de irrigação a partir de poços artesianos. A cidade, a 927 quilômetros de Cuiabá, tem inclusive um aeroporto.

“Mostramos grandes oportunidades para empreendedores poderem investir”, afirma o prefeito Fernando Gorgen (União Brasil). O resultado é que a arrecadação cresce, assim como a demanda. “No SUS, temos cadastradas mais de 29 mil pessoas. É um desafio muito grande.”

GERAÇÃO DE CUSTO. “Se, por um lado, o crescimento populacional é importante para o município, por outro gera custo e gasto muito grandes. É preciso muita articulação, que acredito que a maioria dos municípios não tem”, diz Cleberson Ribeiro de Jesuz, professor da UFMT. Ele lembra que as cinco maiores cidades de Mato Grosso, incluindo Cuiabá, são do setor produtivo.

E um quarto das cidades tem menos de 5 mil habitantes. “Os serviços de atenção à saúde e de educação muitas vezes não estão preparados para atender essa população”, afirma Ana Maria Vasconcelos, da UnB. “Vimos isso no passado: muitas cidades que se formaram no entorno das grandes metrópoles hoje apresentam grande pobreza.”

Crescimento populacional No Centro-Oeste, média anual foi de 1,2%, ante taxa brasileira de 0,52%, a mais baixa dos últimos 150 anos

METRÓPOLE

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2023-06-30T07:00:00.0000000Z

2023-06-30T07:00:00.0000000Z

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