O Estado de S. Paulo

Com mais assaltos e furtos, medo ofusca o lazer na região do Ibirapuera

Casos chamam atenção na Rua Macau e na área do Museu de Arte Contemporânea; começo da manhã e o início da noite são considerados os horários mais críticos

ÍTALO LO RE

Casos são frequentes na Rua Macau e na área do Museu de Arte Contemporânea, áreas próximas do parque.

Divorciado, o supervisor técnico Gilson Coelho, de 41 anos, tem no exercício físico uma forma não só de espairecer, mas também de ver mais a filha, de 19. Toda semana ele sai de Diadema, na Grande São Paulo, e a busca para ir correr de noite no Parque do Ibirapuera, zona sul da capital. Na quinta da semana passada, porém, o encontro não saiu como o esperado.

Quando retornaram à moto de Gilson, parada na Rua Macau, próxima ao portão 6 do parque, a encontraram com o banco quebrado e o módulo de ignição levado. “Fiquei indignado”, disse ele, que teve de chamar reboque para tirar o veículo dali – a filha voltou para casa de carro de aplicativo. Segundo testemunhas, o alarme da moto até disparou, mas não inibiu a ação dos ladrões.

Roubos e furtos têm chamado atenção de moradores da região e frequentadores do parque. Os casos chamam atenção na Rua Macau, no Jardim Lusitânia, e nos arredores do Museu de Arte Contemporânea (MAC), na Vila Mariana. Em geral, os ladrões agem de moto, principalmente no começo da manhã e da noite. A suspeita é que os casos estejam subindo mais nas últimas semanas, com relatos de algumas vítimas que sequer registram boletim de ocorrência.

Com a mão de obra, o conserto da moto de Gilson ficaria por volta de R$ 1,2 mil, mas ele preferiu comprar só as peças (avaliadas em cerca de R$ 800) e consertar ele próprio. Até a última vez que falou com a reportagem, ele não tinha registrado a ocorrência. “Tenho seguro, mas só cobre quando rouba a moto toda. Agora tenho que focar em correr atrás do prejuízo”, disse.

CORREDOR ASSALTADO. No começo da manhã da última sexta, 1.º, câmeras de segurança flagraram um corredor sendo assaltado ao descer do carro na Rua Ismael Guilherme, a uma quadra do Parque do Ibirapuera. Ele teve o celular e a chave do carro levados por dois motoqueiros armados por volta de 5h30, segundo uma moradora do bairro. A Polícia Civil afirmou que está analisando as imagens das câmeras de monitoramento para identificar os autores do crime.

O começo da manhã e o início da noite são considerados os horários mais críticos, justamente pela maior movimentação de frequentadores do parque. “No caso dos roubos, eles (criminosos) costumam chegar cedo, para assaltar à mão armada frequentadores em ruas que dão acesso ao parque, como a Macau e a Pedro de Toledo”, diz Nelson Cury, presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia (Sojal). “Faz uns 60 dias que vem piorando, mas pelo menos a gente tem observado que a polícia resolveu fazer mais blitze e focar nas portas de entrada do parque”, acrescentou ele. A Sojal tem reforçado os pedidos de incremento no policiamento nas entradas do parque pela Avenida Quarto Centenário – além do portão 6, há a entrada 5 por ali.

Ele reforça ainda a importância de as vítimas registrarem ocorrência. “Quanto mais boletins de ocorrência tiver, maior vai ser o mapa de calor e mais vai ter a atuação da polícia nessa área.”

AO LADO DA FILHA. O gestor de tecnologia Peter (nome fictício), que é morador do Jardim Lusitânia e preferiu não se identificar, contou que foi assaltado à mão armada na região no último dia 24. Ele saiu para uma caminhada matinal com o cachorro e a filha, de 2 anos, quando foi abordado por um motociclista que tinha acabado de estacionar. “Ele gritou para que eu passasse o celular e dissesse minha senha. Fui correndo para casa para trocar minhas senhas de e-mail e outros aplicativos, o que impediu que o prejuízo fosse maior”, disse o morador, de 41 anos.

Segundo ele, antes de fugir do local, o ladrão ainda tentou roubar um corredor que passava por perto, mas o outro alvo estava sem o celular – o momento foi flagrado por uma câmera de segurança. O ladrão saiu com pressa na sequência. Era por volta de 7h.

Moradores do Jardim Lusitânia dizem ao Estadão que especialmente furtos de celulares e de veículos viraram assunto constante em grupos de WhatsApp do bairro. “Furtaram meu carro na porta da minha casa”, contou uma empresária de 45 anos, que também não quis se identificar. O caso ocorreu há seis meses.

O Radar da Criminalidade, ferramenta desenvolvida pelo Estadão com base em dados públicos, aponta que, em setembro, um dos pontos da região que mais concentrou casos de roubos e furtos é o entorno do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Avenida Pedro Álvares Cabral. Foram registradas 20 ocorrências por ali em setembro deste ano, alta de 5,3% na comparação com o mesmo período de 2023. A principal incidência foi de furtos de celular, com 14 casos. Uma das explicações para a incidência de casos com esse perfil nesse ponto é que, por ali, há muitos pontos de ônibus. Além de ser rente à Avenida 23 de Maio, considerada um ponto de fuga bastante recorrido.

Quando se leva em conta o portão 6 do Parque do Ibirapuera, que fica na Avenida Quarto Centenário e de frente para a Rua Macau, foram registrados

“No caso dos roubos, eles (criminosos) costumam chegar cedo, para assaltar à mão armada frequentadores em ruas que dão acesso ao parque, como a Macau e a Pedro de Toledo. Faz uns 60 dias que vem piorando”

Nelson Cury

Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia (Sojal)

Entorno do museu Em setembro, houve alta de 5,3% de crimes nas proximidades do Museu de Arte Contemporânea

9 crimes em setembro, queda de 10% em relação ao recorte passado. Os furtos de celular, com 7 casos, também predominam. Ainda não há dados para o mês de outubro, mês em que ocorreram muitos dos casos levantados pela reportagem.

No caso de toda a área atendida pelo 36.º DP(Vila Mariana), que abrange também a área do Parque do Ibirapuera, 299 furtos foram registrados em setembro (alta de 8,7%). Além disso, houve a notificação de 81 roubos (queda de 20,6%). Nos nove primeiros meses do ano, foram 2,8 mil furtos (alta de 0,3%) e 852 roubos (redução de 10,5%). •

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2024-11-08T08:00:00.0000000Z

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