Avaliação da Capes vai focar no artigo, não no periódico que o publicou
Órgão do MEC diz que veículo de publicação ainda será levado em conta, mas serão vistos outros critérios, como pertinência do tema
RENATA CAFARDO
Uma das formas de avaliar os programas de pós-graduação no País mudará a partir do ano que vem. Em vez de considerar o periódico em que a produção científica dos pesquisadores foi publicada, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), vai agora focar nos artigos.
Hoje, o sistema nacional chamado Qualis Periódicos classifica as revistas científicas com conceitos A1, A2, B1, B2, B4, B5 e C, sendo A as de maior impacto. Quanto mais trabalhos o pesquisador de um programa de pós tem publicados em periódicos A, por exemplo, maiores são suas chances de ser mais bem avaliado pelo processo.
Esse e outros parâmetros (como corpo docente, qualidade das teses, currículo) são parte da avaliação da pós no País, feita de quatro em quatro anos pela Capes. Ela é levada em conta para o financiamento dos programas, como recursos para pesquisas e para bolsas de mestrado e doutorado.
A partir da próxima avaliação, que vai de 2025 a 2028, a Capes passará a classificar o artigo e não onde ele foi publicado. “Pode ser que um trabalho publicado num periódico B1 tenha tido impacto sobre a ciência muito maior do que quem publicou na Nature e isso não é levado em consideração hoje”, diz a presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho. A Nature é uma das revistas científicas de maior prestígio. A mudança foi aprovada em outubro, mas os detalhes só serão publicados em março de 2025.
Insegurança Parte da comunidade acadêmica teme que análise dos artigos passe a ter caráter subjetivo
A indefinição tem causado insegurança em parte da comunidade acadêmica, que teme que a análise dos artigos passe a ter caráter subjetivo. “A proposição de extinguir o sistema Qualis e a implementação de novos critérios de avaliação de periódicos trouxeram preocupações quanto à manutenção da previsibilidade no processo avaliativo e à ética nos processos de produção, publicação, disseminação e citações dos artigos publicados em periódicos científicos”, diz o Fórum Nacional de Coordenadores de Pós-Graduação em Educação (Forpred).
‘MAIS JUSTO’.
Denise nega que o Qualis Periódicos foi “sepultado”. Um dos procedimentos para a classificação dos artigos, diz, ainda será o indicador do veículo de publicação. Mas também serão consideradas as citações alcançadas, os critérios de indexação e o acesso aberto do artigo. A análise ainda levará em conta a pertinência “do tema abordado, avanço conceitual proveniente do trabalho e a contribuição científica do estudo”. “É muito mais justo que você avalie o artigo do que a revista”, completa.
O diretor do Programa SciELO, que indexa e publica em acesso aberto os periódicos de qualidade do Brasil, Abel Packer, elogia a mudança. “Agora o sistema passa a privilegiar o impacto real das pesquisas.”
Para pesquisadores, a mudança pode ainda elevar o interesse em se publicar em revistas científicas nacionais. Os valores para publicação de artigos em revistas internacionais são muito mais altos que os cobrados no Brasil. •
METRÓPOLE
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2024-11-28T08:00:00.0000000Z
2024-11-28T08:00:00.0000000Z
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