O Estado de S. Paulo

Bolsonaro pede e Saúde orienta a não vacinar adolescentes

Salvador e Natal pararam a imunização; já a capital paulista não vai suspender. Espírito Santo e São Paulo criticaram a decisão. Ministro Queiroga elencou motivos e defendeu imunização completa só do grupo com comorbidades; Anvisa mantém a indicação de im

Mariana Hallal

O Ministério da Saúde retirou adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades da lista de grupos cuja vacinação contra a covid-19 é recomendada. O ministro Marcelo Queiroga (Saúde) confirmou que o pedido partiu do presidente Jair Bolsonaro. A Anvisa manteve a liberação para esta faixa etária do imunizante da Pfizer, aplicada em adolescentes nos EUA, Chile, Canadá, França e Israel.

O Ministério da Saúde retirou adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades da lista de grupos cuja vacinação contra a covid-19 é recomendada. Em transmissão nas redes sociais, o ministro Marcelo Queiroga confirmou que o presidente Jair Bolsonaro pediu a reavaliação. A decisão da pasta foi criticada por especialistas e pelos Conselhos Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e Nacional de Secretários de Saúde (Conass). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve a liberação do imunizante da Pfizer para essa faixa etária.

Salvador e Natal mandaram parar a imunização. Já a capital paulista informou que não vai suspender. Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão e São Paulo criticaram a decisão do ministério.

“A minha conversa com o Queiroga não é uma imposição. Eu levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, o que eu vejo, o que chega ao meu conhecimento”, disse Bolsonaro. O presidente destacou que a Anvisa recomenda a vacinação de adolescentes com Pfizer, mas não seria obrigação. “Tenho visto alguns governadores e prefeitos obrigando a vacinar essa garotada”, afirmou Bolsonaro. “Se tivermos efeitos colaterais graves, quero saber quem vai se responsabilizar. Nós aqui estamos fazendo a coisa certa. Tem a lei que estamos seguindo.” A vacina da Pfizer, único imunizante autorizado no Brasil para uso em adolescentes, já foi amplamente testada nessa faixa etária. Outros países como Estados Unidos, Chile, Canadá, França e Israel também a usam .

O Ministério da Saúde alegou que pelo menos 1,4 mil adolescentes de 12 a 17 anos receberam imunizantes que não foram aprovados pela Anvisa para a faixa etária. As 1,4 mil aplicações de outros imunizantes correspondem a 0,04% do total.

Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros, houve 114 casos de eventos adversos nessa faixa etária. Os eventos adversos, porém, compreendem qualquer ocorrência indesejada após a vacinação, que não necessariamente tenha relação causal com o imunizante. Febre e dor de cabeça são exemplos.

Medeiros citou ainda um evento adverso grave, em investigação, registrado pelo Estado de São Paulo. Uma adolescente de 16 anos teria morrido depois de ser vacinado. A ligação entre o óbito e o imunizante não está comprovada. A Anvisa destacou não haver elementos suficientes para estabelecer a conexão entre o óbito e o uso do imunizante e manteve a liberação do produto para essa faixa etária. “No momento, não há uma relação causal definida entre este caso e a administração da vacina”, disse a agência, em nota.

“A Anvisa já iniciou avaliação e a comunicação com outras autoridades públicas e adotará todas as ações necessárias para a rápida conclusão da investigação. Entretanto, com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina.”

Os jovens que receberam uma dose das vacinas da Janssen, AstraZeneca ou Coronavac serão monitorados pelo ministério e não devem receber a segunda dose, de acordo com Queiroga. “Não vou autorizar a intercambialidade de vacinas nessas idades”, disse.

Críticas. Especialistas em saúde criticaram a nova orientação. Para a epidemiologista Ethel Maciel, “não há justificativa técnica” para a interrupção por parte da pasta. “A única justificativa neste momento seria a prioridade da vacinação em relação ao número de vacinas disponíveis. Mas, se há vacinas disponíveis, não há nenhuma razão de segurança para que isso (a interrupção) aconteça”, diz Maciel. O epidemiologista Pedro Hallal reforça que campanhas de vacinação não podem ser destinadas só a grupos de risco. “Campanha de vacinação é para atingir imunidade coletiva. Então, quanto mais gente estiver vacinada, mais a gente está protegido”, diz.

Coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie FontesDutra destaca que os dados apresentados até o momento indicam segurança e uma boa resposta imunológica gerada pela vacina da Pfizer em adolescentes. “É muito importante vacinar os adolescentes porque é uma população que está retornando para as aulas agora de forma presencial ou híbrida”, defende Fontes-Dutra.

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2021-09-17T07:00:00.0000000Z

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