O Estado de S. Paulo

Bolsonaro desafia CPI e se nega a explicar denúncias na Saúde

Presidente responde com xingamento à cobrança sobre negociação de vacina

Amanda Pupo Daniel Weterman Matheus de Souza / BRASÍLIA

Horas após a cúpula da CPI da Covid cobrar “de maneira formal” uma manifestação sobre as denúncias apresentadas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) a respeito de um esquema de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin, o presidente Jair Bolsonaro deu a resposta, em transmissão ao vivo pelas redes sociais: “Caguei. Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, afirmou. “Não tenho paciência para

Ou fazemos eleições limpas no Brasil, ou não temos eleições” JAIR BOLSONARO

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, EM NOVO ATAQUE AO SISTEMA ELEITORAL

ficar ouvindo patifes acusando o governo. Como a gente desmonta essa CPI de picaretas, sete picaretas?”, perguntou, numa referência ao grupo composto por senadores independentes e de oposição conhecido como “G-7”. Bolsonaro se tornou alvo de inquérito no STF por causa dessa denúncia, feita pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda, irmão do deputado. Sob pressão, o presidente ampliou as críticas ao sistema de urnas eletrônicas, que ele ataca sem comprovar fraude.

A cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid enviou ontem uma carta ao presidente Jair Bolsonaro, cobrando dele que se manifeste sobre as denúncias de corrupção apresentadas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF), referentes às negociações para compra da vacina indiana Covaxin. Bolsonaro não só desafiou a CPI como recorreu a xingamentos para dizer que “em hipótese alguma” atenderá a esse pedido.

“Caguei. Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, afirmou o presidente, na noite de ontem, em transmissão ao vivo pelas redes sociais. “Não tenho paciência para ficar ouvindo patifes acusando o governo. Como a gente desmonta essa CPI de picaretas, sete picaretas?”, perguntou ele, numa referência ao grupo composto por senadores independentes e de oposição, conhecido como “G-7”.

Em depoimento à CPI, há duas semanas, Miranda disse ter avisado Bolsonaro, em 20 de março, de um esquema de cobrança de propina para aquisição da Covaxin. Na ocasião, o deputado também afirmou que o presidente atribuiu as irregularidades a um “rolo” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR).

Bolsonaro se tornou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por causa dessa denúncia – feita antes pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda, irmão do deputado –, sob suspeita de ter se omitido e cometido o crime de prevaricação.

Na carta, os senadores Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI; Randolfe Rodrigues (RedeAP), vice-presidente; e Renan Calheiros (MDB-AL), relator, dizem ter tomado a iniciativa de pedir ao chefe do Executivo, “de maneira formal”, que se manifeste sobre as “graves acusações” porque, após 13 dias das declarações de Miranda, impera o silêncio no Palácio do Planalto.

Aziz, Renan e Randolfe – a

‘Picaretas’

“Não tenho paciência para ficar ouvindo patifes acusando o governo. Como a gente desmonta essa CPI de picaretas, sete picaretas?”

Jair Bolsonaro PRESIDENTE

quem Bolsonaro chama de “saltitante” – afirmam no documento que essa atitude contribui para a “execração” de Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde e um dos expoentes do Centrão. “Somente Vossa Excelência pode retirar o peso terrível desta suspeição tão grave dos ombros deste experimentado político, o deputado Ricardo Barros, o qual serve seu governo em uma função proeminente”, escreveram.

Barros tem dito que quer ir “o quanto antes” à CPI e chegou a entrar com pedido no Supremo Tribunal Federal. “A CPI sequestrou a minha honra”, disse. Bolsonaro trata o assunto com cautela porque o líder do governo na Câmara foi indicado para o cargo pelo presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), um dos líderes do Centrão.

A carta da cúpula da CPI foi protocolada no Planalto por um funcionário do Senado. “Rogamos a Vossa Excelência que se posicione, de maneira clara, cristalina, republicana e institucional, inspirando-se no Salmo tantas vezes citado em suas declarações, em jornadas pelo país: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’”, insistiram os senadores no documento.

Um dia depois de Aziz ter mandado prender o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, sob acusação de falso testemunho, a temperatura política em Brasília continuou alta e a tensão tomou conta da Praça dos Três Poderes. Dias foi solto ainda na noite de quarta-feira, após pagar fiança de R$ 1.100, mas a CPI está atrás de um dossiê feito por ele com novas denúncias sobre irregularidades na Saúde.

Politização. Ao depor ontem à CPI, a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Francieli Fantinato, disse não ter contado com o apoio de Bolsonaro para divulgar a importância da vacinação durante a pandemia. Francieli afirmou que pediu para sair por causa da “politização” do assunto, promovida pelo presidente. “Quando a gente tem ciência, quando a gente tem segurança no produto que está usando, quando os resultados apontam de forma favorável que aquilo pode trazer um resultado para a população, ter uma politização do assunto, por meio do líder da Nação, traz elementos que muitas vezes colocam em dúvida”, avaliou.

Ainda ontem, em conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro acusou o presidente da CPI de ter desviado R$ 260 milhões da Saúde, quando era governador do Amazonas. Aziz rebateu e o desafiou a procurar um processo em que fosse réu ou denunciado.

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