O Estado de S. Paulo

Era impossível piorar *Professor da Universidade Stanford

Guilherme Lichand*

Receita para melhorar Programas de tutoria no turno escolar e estratégias com alunos e famílias com foco no socioemocional

No exame de 2022, a nota média dos jovens nos países da OCDE retrocedeu 15 pontos em Matemática e 11 pontos em Leitura. Os números são muito parecidos com os que documentamos em um estudo recente realizado com dados dos anos finais do ensino fundamental e médio de São Paulo (em coautoria com Carlos Alberto Dória). Um ano após a retomada das aulas presenciais, estimamos perdas acumuladas dessa magnitude. No Pisa, contudo, a nota média dos estudantes brasileiros praticamente não retrocedeu. O que explica essa aparente inconsistência? As grandes diferenças envolvem as diferentes avaliações e o desempenho dos estudantes em cada uma delas. Como afirma Francisco Soares, ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), as avaliações brasileiras alinhadas ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são exclusivamente de múltipla escolha e focadas, em vez de exigir que o aluno combine múltiplas habilidades. Já o Pisa é focado na avaliação de competências, em particular por perguntas discursivas. O Brasil teve desempenho tão ruim nessa avaliação ao longo da última década que não havia muito espaço para piorar. Em 2012, quase 70% dos nossos estudantes de 15 anos não atingiam o nível básico de proficiência em Matemática. Já na OCDE, em 2012, apenas 25% dos estudantes estavam aquém do nível básico. O relatório mostra que as perdas foram fortemente concentradas entre os estudantes de alta proficiência em cada disciplina. Se considerarmos, portanto, que as perdas dos estudantes brasileiros foram tão dramáticas quanto as do resto do mundo (apenas mais difíceis de capturar nesta avaliação), nos resta discutir o que fazer (para além de lamentar). Nesse mesmo estudo, documentamos que políticas de recomposição de aprendizagens são necessárias para avançar. Em particular, programas de tutoria no turno escolar e estratégias de comunicação com os estudantes e suas famílias focadas em habilidades socioemocionais, tão negligenciadas no período de ensino remoto, podem até mesmo dobrar as taxas de aprendizagem diante das enormes perdas acumuladas. Infelizmente, essas e outras políticas ainda não são adotadas em escala por quase nenhuma rede no País. •

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2023-12-06T08:00:00.0000000Z

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