O Estado de S. Paulo

Gravação mostra como PCC ofereceu R$ 3 milhões por morte de delator

Em áudio ao qual ‘Estadão’ teve acesso, policial conversa com advogado acusado de ser ligado à cúpula da facção criminosa

MARCELO GODOY

Em áudio a que o Estadão teve acesso, policial fala com advogado ligado à facção sobre prêmio por morte de empresário.

Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões.

O empresário revelou em sua delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) um áudio em que um advogado falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do PCC.

O áudio, ao qual o Estadão teve acesso, tem 4 minutos e 59 segundos e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial. A conversa se dá entre um investigador que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada por Gritzbach sem o conhecimento dos demais.

No bate-papo, o advogado concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou que “as corregedorias das Polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes”.

O policial procurou Gritzbach para alertá-lo. Ele pôs o telefone no viva-voz para conversar com o advogado, acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação.

O áudio começa com o advogado questionando: “Trezentos, tá bom?” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas, senão quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”. Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho. O advogado pergunta: “Eu não

Com 4 minutos e 59 segundos de duração, áudio faz parte do Anexo 6 da delação do empresário

gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?”. E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.

O homem ligado à cúpula da facção insiste: “Você acha que três vai? Você acha que tá fácil de resolver ou tá complicado?”. O investigador, então, diz ao seu interlocutor: “Tá facinho, mas tem os seguranças”. O homem que encomendava o crime ainda pergunta: “Passarinho tá voando direto?”. E o policial responde: “Uma vez ou outra, mas tem um segurança”.

Ao fim da ligação, o investigador continua falando com Gritzbach. “Você escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘Nós vamos subir ele, e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí’’’. Cebola está foragido e a reportagem não conseguiu localizar sua defesa.l

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2024-11-11T08:00:00.0000000Z

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