O Estado de S. Paulo

Movimento sem cabeça

Carlos Andreazza E-mail: ca.andreazza@gmail.com; Twitter: @andreazzaeditor JORNALISTA

Reportagem de Levy Teles dá conta de que a Câmara poderá não votar a LDO, caso o STF não libere a distribuição de emendas parlamentares. A ameaça chantagista é conversa fiada; ou se contrataria o apagão do Estado em 2025. Ocorre que bravata também comunica.

Os deputados da bazófia mui dedicados a informar que a rebelião seria “movimento sem cabeça”, fruto da indignação congressista difusa. Informam que o levante não teria liderança os liderados preferidos Claudio Cajado, do PP da Bahia, e Júlio Arcoverde, do PP do Piauí – que são Arthur Lira e Ciro Nogueira.

A LDO é a que baliza as despesas. Não votá-la acabaria – assim lembrou o sutil Arcoverde, presidente da Comissão Mista de Orçamento – “atingindo o orçamento do próprio Supremo”. Arcoverde é aquele para quem os fundos orçamentários controlados autoritariamente pelos donos do Congresso consistiriam em direito adquirido dos parlamentares.

O movimento parlamentar fanfarrão e sem cabeça tem agenda e ritmo. Serão seis semanas até o fim do ano legislativo. Tudo vai se acertar. Já previsto aquele “esforço concentrado” – o trator das urgências – por meio do qual passará a boiada.

Arcoverde mostra a trilha: “Existe uma movimentação (para não votar a LDO), mas acho que depois que o Senado aprovar (o projeto de lei das emendas), resolve a questão”.

A senha está dada. É o projeto de regulamentação das emendas parlamentares. Texto que dá “mais transparência” à administração dos fundos orçamentários governados pelos senhores do Congresso. Mais transparência – esse estranho princípio constitucional. Mais transparência sobre o absolutamente obscuro; como se jogar alguma luz sobre a escuridão profunda significasse claridade.

O projeto foi criado com intenção desviada: a de gerar as condições discursivas para a liberação das emendas suspensas. Autor da peça: Rubens Pereira Junior, do PT do Maranhão – que é Lula e Dino. Relator na Câmara: Elmar Nascimento – que, amizades perdidas à parte, é quem se chama na hora de a onça beber água.

Doravante será o Senado cumprir seu papel no teatro e todos – STF incluído – encenarem que o bicho respeita a Constituição. O mundo real estando no lugar de sempre: onde não se vê.

O projeto entrega o anel – a falta de objeto da emenda Pix – para manter gorduchos os dedos. A emenda de comissão, superfície para a operação do orçamento secreto, com sua gestão autoritária-opaca blindada.

A deputada Adriana Ventura deu a letra: “(...) Na emenda de comissão continua a mesma coisa. Listas secretas de alguns líderes partidários. O presidente da comissão é mero operador. A comissão não sabe. O membros não sabem. Somos todos laranjas e eu não quero ser laranja”.

Somos todos otários. •

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