O Estado de S. Paulo

País chega a ter áreas perto da Coreia ou só à frente do Camboja

Diferença nas médias das Regiões alcança 45 pontos; elite da rede particular tem desempenho de top do ranking da OCDE

LEON FERRARI RENATA CAFARDO

As notas dos alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil na prova de Leitura do Pisa é equivalente às registradas pelo topo do ranking, como Estônia e Coreia do Sul. O desempenho seria suficiente para colocar o Brasil na 5.ª posição global. Além disso, alunos do Sul, do Sudeste e do CentroOeste vão melhor do que a média nacional nas três matérias (Matemática, Leitura e Ciências). Norte e Nordeste ficam abaixo do resultado geral do Brasil.

A diferença nas médias das regiões chega a 45 pontos. Cada 20 pontos significam a diferença de um ano de escolaridade. O Nordeste – embora tenha alguns exemplos de bom desempenho na rede pública, como Ceará e Pernambuco – se mantém na parte baixa.

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que a diferença entre as regiões reforça “a desigualdade que já conhecemos” no País. Os dados expõem como as diferenças de aprendizagem se acentuam conforme mais baixa é a origem socioeconômica do aluno quando o poder público não investe na educação em patamares suficientes para eliminar esse déficit.

Fatores como baixa escolaridade dos pais, acesso a uma alimentação de qualidade, a oportunidades culturais e o tempo livre para estudar afetam os alunos mais vulneráveis. Já a qualidade do ensino é alavancada, principalmente, por uma boa formação dos professores e pelas expectativas mais altas de aprendizagem entre os jovens da rede privada.

O ministro anunciou também que pretende, na divulgação do próximo Pisa, em 2025, que haja resultados por Estado. Para isso, segundo o MEC, a amostra de alunos participantes terá de ser de cerca de 40 mil. Na última edição, 10 mil alunos de 15 anos fizeram a prova no Brasil.

Comparada aos demais países, a Região Sul divide a posição 58 em Matemática com a

Tailândia. O Brasil é o 65.º desse ranking. O Norte fica entre as oito piores posições, ao lado do Panamá e com apenas 21 pontos a mais do que o Camboja, o lanterna da lista.

Em Leitura, Sul, Sudeste e Centro-Oeste ficam entre Ucrânia e Romênia, que estão em 45.º, e o Catar (47.º). O Brasil é o 52.°. Nordeste e Norte aparecem entre os 20 últimos da lista. Os alunos nordestinos ficam empatados com o Panamá na posição 59. Já o Norte está entre Arábia Saudita (62.º) e Chipre (63.º).

Nas Ciências, o Sul empata com a Bulgária (51.º), o Sudeste fica entre Malásia (52.º) e Mongólia (53º.), e o Centro-Oeste divide a mesma nota de Chipre (54.º). O Nordeste está entre Panamá (65.º) e Geórgia (66.º), e o Norte equipara-se à Macedônia do Norte (68.º). Na média geral, o Brasil aparece em 61.º.

PÚBLICAS VERSUS PARTICULARES.

Se considerar as redes pública e particular, os jovens brasileiros estão em 52.º lugar (de 81 avaliados), entre a Moldávia e a Jamaica. Os números expõem como as diferenças de aprendizagem se acentuam conforme mais baixa é a origem socioeconômica do aluno quando um país não investe na educação para eliminar esse déficit. Fatores como baixa escolaridade dos pais, acesso a uma alimentação de qualidade, a oportunidades culturais e a tempo livre para estudar afetam os alunos mais vulneráveis. Já a qualidade do ensino é alavancada, principalmente, por uma boa formação dos professores e pelas expectativas mais altas de aprendizagem entre os jovens da rede privada.

A tabulação foi feita para o Estadão pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), instituto que pesquisa dados de educação. Foram usados dados do Pisa, de brasileiros de 15 anos de nível socioeconômico comparável ao da média da OCDE e que estudam na rede privada. O índice inclui renda e bens.

Em Ciências, o desempenho dos jovens mais ricos também é alto (509 pontos), equiparando-se ao da Finlândia e ao da Austrália, que estão nas 9.ª e 10.ª posições. Já em Matemática, os brasileiros de classe alta ficariam em 29.º, um ponto abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mesmo assim, acima de Estados Unidos e Noruega, com 471 pontos.

“O Pisa reforça mais uma vez a nossa grande desigualdade”, diz o diretor executivo do Iede, Ernesto Faria. “Não querendo comparar o ensino público e privado, que têm condições e perfis de alunos bem diferentes, mas a nossa educação permite uma maior aprendizagem aos mais ricos.”

“O cenário só muda um pouco para Matemática, onde há desafios importantes mesmo nas escolas que cobram altas mensalidades”, afirma Faria. Outros estudos do Iede também têm mostrado a dificuldade histórica de aprendizagem e a falta de prioridade no ensino da Matemática no País. O ministro da Educação, Camilo Santana, também destacou essa dificuldade, independentemente do gestor de ensino. Na nota geral, que considera alunos de todas as classes econômicas, os estudantes brasileiros ficaram com 379 pontos em Matemática, no 65.º lugar, atrás de Colômbia e até do Casaquistão.

Para Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades e ex-diretora de Educação do Banco Mundial, o fato de alunos de escolas particulares também terem dificuldade em Matemática pode ser explicado tanto pela formação precária dos professores como pelo modelo de ensino. “Não ensinamos a pensar matematicamente nas escolas públicas e nas particulares e às vezes é o mesmo professor que dá aula nas duas. E o tempo para uma aula mais dialogada é pequeno, já que o Brasil optou por tempo parcial de aula, diferentemente de outros países, cujos alunos ficam muito mais tempo na escola.”

“O que demonstramos no Pisa não são conhecimentos e habilidades esperadas para jovens de 15 anos, e, sim, para crianças de 11, 12 anos”, diz Faria, do Iede. “O que precisamos é recuperar as defasagens de modo a ensinarmos em sala de aula o esperado para cada série.” •

COLABOROU CAIO POSSATI

A questão docente

‘Às vezes é o mesmo professor que dá aula nas públicas e particulares’, diz Claudia Costin

METRÓPOLE

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2023-12-06T08:00:00.0000000Z

2023-12-06T08:00:00.0000000Z

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