O Estado de S. Paulo

Pandemia afeta ensino no mundo; Brasil mostra desnível de regiões

Um em cada quatro alunos em países mais ricos tem baixo desempenho em Matemática, Leitura e Ciências em exame; mesmo com escolas fechadas mais tempo, Brasil ficou ‘estável’

RENATA CAFARDO LEON FERRARI

O Pisa, a avaliação de educação mais importante do mundo, mostrou que o desempenho dos alunos de 15 anos de idade em Matemática e Leitura nos países ricos teve a maior queda da história na pandemia. O Brasil subiu no ranking, mas com notas ainda baixas e desempenho desigual de estudantes dependendo da região.

O desempenho dos estudantes em Matemática e Leitura nos países ricos durante a pandemia teve a maior queda da história na prova mais importante da educação do mundo, o Pisa. Os resultados do exame, que avalia alunos de 15 anos, foram divulgados ontem. Já com notas muito baixas ao longo das edições do exame, a do Brasil se manteve praticamente estável, mas subiu algumas posições no ranking.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela prova, considerou a queda mundial como “sem precedentes” e “dramática”. Diretor de Educação e Habilidades do Pisa, Andreas Schleicher, afirmou que o Brasil foi um dos países “sortudos”, onde o desempenho não foi tão prejudicado na crise sanitária. Para o ministro da Educação, Camilo Santana, isso foi reflexo do “esforço de Estados e dos governadores, mesmo na ausência do MEC” no período.

Segundo os novos resultados do Pisa, um em cada quatro adolescentes de 15 anos dos países mais ricos do mundo agora tem baixo desempenho em Matemática, Leitura e Ciências. Isso significa que eles têm dificuldades para fazer tarefas como aplicar operações matemáticas básicas ou interpretar textos simples. Não conseguem fazer contas com porcentagens ou distinguir fatos de opiniões. Apesar da estabilidade, no Brasil, muito mais alunos estão no grupo considerado abaixo do básico em Matemática para a OCDE: 73% do total.

Para a OCDE, a redução nas notas foi causada pela pandemia, mas não somente por ela. O relatório menciona que o fechamento das escolas “impulsionou uma conversão global para a aprendizagem remota, aumentando os desafios a longo prazo que já haviam surgido, como o uso da tecnologia nas salas de aula”.

Os dados revelam a demanda de estratégias de recomposição de aprendizagem e acompanhamento de alunos nos sistemas educacionais. Além de lacunas de conteúdo, especialistas alertam sobre desafios provenientes do uso da tecnologia. Pesam ainda questões socioemocionais para uma geração que teve parte do desenvolvimento na quarentena, com efeitos na saúde mental de crianças e jovens.

MEDIÇÃO E DESEMPENHO. Em Matemática, a diferença entre a prova feita em 2018 e a do ano passado foi de 15 pontos a menos nos países ricos (membros da OCDE), o equivalente aos alunos terem perdido três quartos de um ano escolar. O desempenho foi pior entre alunos de todos os perfis socioeconômicos. O Pisa não tem escala máxima ou mínima de pontos. As nações são divididas em uma média de aproxi

madamente 500 pontos, com desvio-padrão de 100 pontos. O exame, que seria realizado em 2021, foi adiado por causa do fechamento das escolas na pandemia. Quase 700 mil alunos em 81 países participaram da avaliação, entre os que fazem parte da OCDE e nações convidadas, como o Brasil.

Os estudantes brasileiros ficaram com nota 379 em Matemática, no 65.º lugar do ranking, atrás de Colômbia e Casaquistão. Em Leitura, foram 410 pontos e a 52.ª colocação, desta vez na frente dos mesmos dois países. Em Ciências, o Brasil aparece em 61.º, abaixo da Argentina e do Peru, e com 403 pontos. Em 2018, as notas tinham sido 384, 413 e 404, respectivamente, o que foi considerado como “estabilidade”. O fato de o Brasil ter a maioria dos alunos nos níveis mais baixos de desempenho pode ter feito com que a nota geral não caísse tanto.

ESCOLAS FECHADAS. Isso ocorreu mesmo depois de o Brasil ter mais dias com escolas fechadas por causa da covid. Em média, os estudantes de países da OCDE tiveram 101 dias com ensino remoto na pandemia. No Brasil, essa quarentena durou 253 dias. “Vemos que 81% dos alunos que fazem o Pisa são do ensino médio, então o resultado foi reflexo do esforço dos governos estaduais, dos governadores, para garantir as aulas e permanência da aprendizagem, frente às dificuldades da pandemia que enfrentamos, mesmo com a ausência do MEC”, disse Camilo, referindo-se ao governo anterior.

Procurado, o ex-titular do MEC Victor Godoy afirmou que “o ministro não está errado”. “Houve um esforço importante dos governos estaduais para a implementação, mas contou com o incentivo do governo federal”, disse.

Para o atual ministro, o resultado do Pisa é uma “comprovação da necessidade de reforçar as disciplinas básicas, de Matemática e Português”. A proposta do governo, que está no Congresso e enfrenta críticas do relator, aumenta a carga horária da formação básica no ensino médio, que havia sido reduzida na reforma.

MELHORES NOTAS. Apenas 1% dos brasileiros consegue chegar às notas mais altas em Matemática, o que significa que encontram melhores estratégias para resolver problemas usando um conhecimento não explícito na questão. Em Cingapura, 41% estão nesses níveis; em Taiwan, 32%. A média da OCDE é de 9%.

Schleicher diz no relatório que os alunos não têm de demonstrar só conhecimento do conteúdo. “Mas também pensar como um matemático, traduzir problemas do mundo real para o mundo da Matemática, raciocinar matematicamente e interpretar soluções.” •

Governo Ministro da Educação realça esforço dos Estados que garantiu aprendizagem durante a pandemia

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2023-12-06T08:00:00.0000000Z

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